DA ROBÓTICA Á CIÊNCIA COGNITIVA
Acabo de ver um programa na televisão, que só veio agravar as preocupações que de há muito tenho, sobre a futura evolução da humanidade na vertente do seu primeiro e principal direito, que é o direito ao trabalho.
Nele se confirmou á evidência, os perigos que se adivinham para os trabalhadores, na sua dependência dos postos de trabalho, em consequência do desenvolvimento que no campo científico tem tido a robótica, a nano tecnologia, a inteligência artificial e a ciência cognitiva.
Falava-se nesse programa, da capacidade de se poder transcender o actual ser humano, devido aos enormes progressos feitos na área da nano tecnologia, que aumenta ao infinito as capacidades do homem, através da ligação de chips ao seu sistema nervoso, exponenciando as suas capacidades em termos de armazenagem de dados, conhecimentos e outra lógicas.
Se também juntarmos a isto o conhecido desenvolvimento científico que a genética tem sofrido e que nesta altura já sabemos ser capaz de seleccionar indivíduos que possam ser imunes a determinadas doenças.
Está também nas suas possibilidades ser capaz de aumentar outras características distintivas, actualmente inimagináveis, mas que poderão de uma maneira já previsível, não só substituir artificialmente partes do corpo humano, como também desenvolver características biológicas específicas.
Na realidade isto constitui uma mistura explosiva para a evolução humanidade.
Ao tornar-se possível, determinadas pessoas ou grupos, seleccionarem os privilegiados que possam beneficiar dessas regalias, corre-se o risco de se estar a criar um grupo ou até mesmo uma classe dominante inatingível.
Será facilmente admissível, que num estágio desses, ao submeter todos os restantes, às normais leis da natureza, a consequente desigualdade de direitos e oportunidades, constituiria uma regressão para a humanidade, semelhante a que constituiu o negro período histórico da escravatura.
Há pouco tempo, na “Conferência sobre o poder económico, desigualdades sociais e liberdades democráticas”, levada a cabo pelo PCP no Hotel Plaza, interpelei os conferencistas, durante o período destinado às intervenções da assistência, sobre os problemas que levantava para o mercado do trabalho, as futuras relações de produção. (Vide relato neste Blogue no dia 15 de Fevereiro)
Na actual situação das relações de produção e dada a sua previsível evolução, os donos dos meios de produção têm toda a possibilidade de dispensarem “mão-de-obra” a seu belo prazer, e substituí-la por simples robots e outros automatismos mecânicos, baseados na inteligência artificial, na informática, ou em alguma das novas tecnologias.
Era minha intenção falar por exemplo, do facto de já existirem há anos robôs móveis autónomos, que aprendem e executam por imitação, que são capazes de deslocar um objecto para um qualquer lugar imitando quem (ou o quê) tinha sido feito anteriormente, através de um autêntico sistema nervoso composto por pequenos computadores.
Já se chegou em laboratório a obter uma reacção, que se pode considerar como reflexa, pela alteração do meio envolvente e há fortes possibilidades de em breve se conseguir robôs que consigam raciocinar, através de uma estrutura análoga á do cérebro, chegando-se mesmo a proporcionar a esses robôs uma consciência artificial.
Não estou a ignorar os estudos feitos e desenvolvidos pelo nosso cientista Professor António Damásio, pioneiro absoluto sobre os factores humanos da consciência, mas a limitá-los na sua extensão às questões espirituais ou de crença.
Tudo isto será terrível para os seres humanos que estejam dependentes dos vários poderes, para trabalhar e sobreviver, com um mínimo de felicidade.
Mais, é incrível, que matérias desta natureza, com tantas e dramáticas consequências para a humanidade e sobretudo para o mundo do trabalho, seja quase um “Segredo dos Deuses” e só em longínquos, raros ou especialíssimos meios, os leigos têm acesso a estas matérias, de vital importância para todos nós.
Tudo isto gostaria de ter referido, mas para não alongar a minha intervenção, limitei-a ao mínimo possível, na expectativa que na segunda parte da conferência, fossem tidas em consideração as minhas resumidas alegações.
Nenhum dos conferencistas abordou estes aspectos fundamentais das relações de trabalho e da propriedade dos meios de produção, o que para mim constituiu uma terrível frustração, pois considero, se os trabalhadores não estiverem atentos a estes factos, serão apanhados de surpresa numa situação laboral e de sobrevivência a que dificilmente poderão responder.
Eu pessoalmente estou convencido, que pelo caminho que as coisas estão a levar, só numa situação revolucionária, será possível mudar o curso dos acontecimentos.
O tempo o dirá!!!!
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
domingo, 7 de novembro de 2010
Sem contar com a sua breve passagem pela pasta das Finanças, conhecemos cinco cavacos. Mas todos os cavacos vão dar ao mesmo.
O primeiro Cavaco foi primeiro-ministro. Esbanjou dinheiro como se não houvesse amanhã. Desperdiçou uma das maiores oportunidades de deste País no século passado. Escolheu e determinou um modelo de desenvolvimento que deixou obra mas não preparou a nossa economia para a produção e a exportação. O Cavaco dos patos bravos e do dinheiro fácil. Dos fundos europeus a desaparecerem e dos cursos de formação fantasmas. O Cavaco do Dias Loureiro e do Oliveira e Costa num governo da Nação. Era também o Cavaco que perante qualquer pergunta complicada escolhia o silêncio do bolo rei. Qualquer debate difícil não estava presente, fosse na televisão, em campanhas, fosse no Parlamento, a governar. Era o Cavaco que perante a contestação de estudantes, trabalhadores, polícias ou utentes da ponte sobre o Tejo respondia com o cassetete. O primeiro Cavaco foi autoritário.
O segundo Cavaco alimentou um tabu: não se sabia se ficava, se partia ou se queria ir para Belém. E não hesitou em deixar o seu partido soçobrar ao seu tabu pessoal. Até só haver Fernando Nogueira para concorrer à sua sucessão e ser humilhado nas urnas. A agenda de Cavaco sempre foi apenas Cavaco. Foi a votos nas presidenciais porque estava plenamente convencido que elas estavam no papo. Perdeu. O País ainda se lembrava bem dos últimos e deprimentes anos do seu governo, recheados de escândalos de corrupção. É que este ambiente de suspeita que vivemos com Sócrates é apenas um remake de um filme que conhecemos. O segundo Cavaco foi egoísta.
O terceiro Cavaco regressou vindo do silêncio. Concorreu de novo às presidenciais. Quase não falou na campanha. Passeou-se sempre protegido dos imprevistos. Porque Cavaco sabe que Cavaco é um bluff. Não tem pensamento político, tem apenas um repertório de frases feitas muito consensuais. Esse Cavaco paira sobre a política, como se a política não fosse o seu ofício de quase sempre. Porque tem nojo da política. Não do pior que ela tem: os amigos nos negócios, as redes de interesses, da demagogia vazia, os truques palacianos. Mas do mais nobre que ela representa: o confronto de ideias, a exposição à critica impiedosa, a coragem de correr riscos, a generosidade de pôr o cargo que ocupa acima dele próprio. Venceu, porque todos estes cavacos representam o nosso atraso. Cavaco é a metáfora viva da periferia cultural, económica e politica que somos na Europa. O terceiro Cavaco é vazio.
O quarto Cavaco foi Presidente. Teve três momentos que escolheu como fundamentais para se dirigir ao País: esse assunto que aquecia tanto a Nação, que era o Estatuto dos Açores; umas escutas que nunca existiram a não ser na sua cabeça sempre cheia de paranóicas perseguições; e a crítica à lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo que, apesar de desfazer por palavras, não teve a coragem de vetar. O quarto Cavaco tem a mesma falta de coragem e a mesma ausência de capacidade de distinguir o que é prioritário de todos os outros.
Apesar de gostar de pensar em si próprio como um não político, todo ele é cálculo e todo o cálculo tem ele próprio como centro de interesse. Este foi o Cavaco que tentou passar para a imprensa a acusação de que andaria a ser vigiado pelo governo, coisa que numa democracia normal só poderia acabar numa investigação criminal ou numa acção política exemplar. Era falso, todos sabemos. Mas Cavaco fechou o assunto com uma comunicação ao País surrealista, onde tudo ficou baralhado para nada se perceber. Este foi o Cavaco que achou que não devia estar nas cerimónias fúnebres do único prémio Nobel da literatura porque tinha um velho diferendo com ele. Porque Cavaco nunca percebeu que os cargos que ocupa estão acima dele próprio e não são um assunto privado. Este foi o Cavaco que protegeu, até ao limite do imaginável, o seu velho amigo Dias Loureiro, chegando quase a transformar-se em seu porta-voz. Mais uma vez e como sempre, ele próprio acima da instituição que representa. O quarto Cavaco não é um estadista.
E agora cá está o quinto Cavaco. Quando chegou a crise começou a sua campanha. Como sempre, nunca assumida. Até o anúncio da sua candidatura foi feito por interposta pessoa. Em campanha disfarçada, dá conselhos económicos ao País. Por coincidência, quase todos contrários aos que praticou quando foi o primeiro Cavaco. Finge que modera enquanto se dedica a minar o caminho do líder que o seu próprio partido, crime dos crimes, elegeu à sua revelia. Sobre a crise e as ruínas de um governo no qual ninguém acredita, espera garantir a sua reeleição. Mas o quinto Cavaco, ganhe ou perca, já não se livra de uma coisa: foi o Presidente da República que chegou ao fim do seu primeiro mandato com um dos baixos índices de popularidade da nossa democracia e pode ser um dos que será reeleito com menor margem. O quinto Cavaco não tem chama.
Quando Cavaco chegou ao primeiro governo em que participou eu tinha 11 anos. Quando chegou a primeiro-ministro eu tinha 16. Quando saiu eu já tinha 26. Quando foi eleito Presidente eu tinha 36. Se for reeleito, terei 46 quando ele finalmente abandonar a vida política. Que este homem, que foi o politico profissional com mais tempo no activo para a minha geração, continue a fingir que nada tem a ver com o estado em que estamos e se continue a apresentar com alguém que está acima da politica é coisa que não deixa de me espantar. Ele é a política em tudo que ela falhou. É o símbolo mais evidente de tantos anos perdidos.
O primeiro Cavaco foi primeiro-ministro. Esbanjou dinheiro como se não houvesse amanhã. Desperdiçou uma das maiores oportunidades de deste País no século passado. Escolheu e determinou um modelo de desenvolvimento que deixou obra mas não preparou a nossa economia para a produção e a exportação. O Cavaco dos patos bravos e do dinheiro fácil. Dos fundos europeus a desaparecerem e dos cursos de formação fantasmas. O Cavaco do Dias Loureiro e do Oliveira e Costa num governo da Nação. Era também o Cavaco que perante qualquer pergunta complicada escolhia o silêncio do bolo rei. Qualquer debate difícil não estava presente, fosse na televisão, em campanhas, fosse no Parlamento, a governar. Era o Cavaco que perante a contestação de estudantes, trabalhadores, polícias ou utentes da ponte sobre o Tejo respondia com o cassetete. O primeiro Cavaco foi autoritário.
O segundo Cavaco alimentou um tabu: não se sabia se ficava, se partia ou se queria ir para Belém. E não hesitou em deixar o seu partido soçobrar ao seu tabu pessoal. Até só haver Fernando Nogueira para concorrer à sua sucessão e ser humilhado nas urnas. A agenda de Cavaco sempre foi apenas Cavaco. Foi a votos nas presidenciais porque estava plenamente convencido que elas estavam no papo. Perdeu. O País ainda se lembrava bem dos últimos e deprimentes anos do seu governo, recheados de escândalos de corrupção. É que este ambiente de suspeita que vivemos com Sócrates é apenas um remake de um filme que conhecemos. O segundo Cavaco foi egoísta.
O terceiro Cavaco regressou vindo do silêncio. Concorreu de novo às presidenciais. Quase não falou na campanha. Passeou-se sempre protegido dos imprevistos. Porque Cavaco sabe que Cavaco é um bluff. Não tem pensamento político, tem apenas um repertório de frases feitas muito consensuais. Esse Cavaco paira sobre a política, como se a política não fosse o seu ofício de quase sempre. Porque tem nojo da política. Não do pior que ela tem: os amigos nos negócios, as redes de interesses, da demagogia vazia, os truques palacianos. Mas do mais nobre que ela representa: o confronto de ideias, a exposição à critica impiedosa, a coragem de correr riscos, a generosidade de pôr o cargo que ocupa acima dele próprio. Venceu, porque todos estes cavacos representam o nosso atraso. Cavaco é a metáfora viva da periferia cultural, económica e politica que somos na Europa. O terceiro Cavaco é vazio.
O quarto Cavaco foi Presidente. Teve três momentos que escolheu como fundamentais para se dirigir ao País: esse assunto que aquecia tanto a Nação, que era o Estatuto dos Açores; umas escutas que nunca existiram a não ser na sua cabeça sempre cheia de paranóicas perseguições; e a crítica à lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo que, apesar de desfazer por palavras, não teve a coragem de vetar. O quarto Cavaco tem a mesma falta de coragem e a mesma ausência de capacidade de distinguir o que é prioritário de todos os outros.
Apesar de gostar de pensar em si próprio como um não político, todo ele é cálculo e todo o cálculo tem ele próprio como centro de interesse. Este foi o Cavaco que tentou passar para a imprensa a acusação de que andaria a ser vigiado pelo governo, coisa que numa democracia normal só poderia acabar numa investigação criminal ou numa acção política exemplar. Era falso, todos sabemos. Mas Cavaco fechou o assunto com uma comunicação ao País surrealista, onde tudo ficou baralhado para nada se perceber. Este foi o Cavaco que achou que não devia estar nas cerimónias fúnebres do único prémio Nobel da literatura porque tinha um velho diferendo com ele. Porque Cavaco nunca percebeu que os cargos que ocupa estão acima dele próprio e não são um assunto privado. Este foi o Cavaco que protegeu, até ao limite do imaginável, o seu velho amigo Dias Loureiro, chegando quase a transformar-se em seu porta-voz. Mais uma vez e como sempre, ele próprio acima da instituição que representa. O quarto Cavaco não é um estadista.
E agora cá está o quinto Cavaco. Quando chegou a crise começou a sua campanha. Como sempre, nunca assumida. Até o anúncio da sua candidatura foi feito por interposta pessoa. Em campanha disfarçada, dá conselhos económicos ao País. Por coincidência, quase todos contrários aos que praticou quando foi o primeiro Cavaco. Finge que modera enquanto se dedica a minar o caminho do líder que o seu próprio partido, crime dos crimes, elegeu à sua revelia. Sobre a crise e as ruínas de um governo no qual ninguém acredita, espera garantir a sua reeleição. Mas o quinto Cavaco, ganhe ou perca, já não se livra de uma coisa: foi o Presidente da República que chegou ao fim do seu primeiro mandato com um dos baixos índices de popularidade da nossa democracia e pode ser um dos que será reeleito com menor margem. O quinto Cavaco não tem chama.
Quando Cavaco chegou ao primeiro governo em que participou eu tinha 11 anos. Quando chegou a primeiro-ministro eu tinha 16. Quando saiu eu já tinha 26. Quando foi eleito Presidente eu tinha 36. Se for reeleito, terei 46 quando ele finalmente abandonar a vida política. Que este homem, que foi o politico profissional com mais tempo no activo para a minha geração, continue a fingir que nada tem a ver com o estado em que estamos e se continue a apresentar com alguém que está acima da politica é coisa que não deixa de me espantar. Ele é a política em tudo que ela falhou. É o símbolo mais evidente de tantos anos perdidos.
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
O Tolo Sectarismo de Alguns Que Se Arrogam de Comunistas…E O Ensinamento Revolucionário de Jesus Cristo
Não é coisa que não nos lembremos – o sectarismo da Internacional Comunista, aos tempos, poucos, antes do inicio da II Grande Guerra Mundial que a levou a considerar a Democracia “burguesa e capitalista” pior, enquanto regime que o Fascismo de Hitler e Mussolini…
Hoje esse sectarismo renasce em alguns dos que se arrogam de comunistas, como é o caso deste Juvenal camarada Lucas, (comunista ou não é um homem de Esquerda, por muito errado que esteja e está) o que os leva a considerarem divertido o vídeo onde um ministro, suíço, conservador, (diria melhor, reaccionário), ataca o direito à Igualdade de Género, assume ridiculamente risos homofóbicos, etc.
Pois foi este vídeo, que foi remontado por um fascista, ou como já o disse por uma central de comunicação fascista, para atacar os “burgueses” Sócrates e Passos Coelho, que foi entendido, por este Juvenal camarada Lucas, razão para achar que “divirta-se com o vídeo, porque está muito bem “apanhado”…
É verdade que, em consequência do desastre que foi a visão estratégica do “camarada Estaline”, quanto ao que significavam Hitler e Mussolini, Dimitrov teve, por algum tempo, a oportunidade de defender a tese das Frentes Populares, que deu origem também à tese das Democracias Populares, e, felizmente para os Cidadãos e Cidadãs do Mundo, houve na URSS o recuo suficiente para a Aliança que derrotou o Fascismo no Mundo.
Francisco Rodrigues Martins, reconhece nesta tese das Frentes Populares e das Democracias Populares a visão direitista no PCUS que Estaline, de novo “esquerdista”, no imediato pós guerra emendou, eliminando mais uns tantos comunistas soviéticos e impondo a politica que conduziu às ocupações na Hungria, na Checoslováquia, na Polónia, etc e, claro à cisão Sino Soviética dos anos 50.
É evidente que nem estranhei esta atitude deste Juvenal camarada Lucas, que me insulta em cada linha que escreve, (num estranho e não justificado ódio contra mim…), pois felizmente também Gramsci, além de Dimitrov, leitura que aconselho veementemente.
Mesmo que seja hoje socialista não escondo o meu passado anterior, maoista, e a minha formação marxista, claro que não serôdia à “Marta Hanecker”, (enfim para o nome…), mas o que não entendo é a mania que este Juvenal camarada Lucas tem em dizer que eu escrevi alguma vez que fui dirigente socialista.
Nunca o fui nem nunca me afirmei enquanto tal.
Fui e afirmei-me dirigente da UEDS, fui e afirmei-me, dirigente da UNITA e tenho bastante orgulho em tal.
Como sou, com orgulho de Esquerda, fundador de uma cooperativa de Ensino e seu director pedagógico!
Porque estes cargos resultaram de combates de Esquerda feitos, nos âmbitos, político, social, cultural e económico.
No entanto o essencial a analisar agora, está na incapacidade de alguns camaradas, de Esquerda, em reconhecer o que, na Esquerda, é essencial reconhecer – o direito à diferença e o livre arbítrio!
Recordando a Bíblia, uma das raízes intelectuais da Esquerda, ao contrario do que muitos pensam,, tomada que ela foi pelas direitas vaticanistas, tenho na memória os lindíssimos versículos sobre “quem não pecou que atire a primeira pedra”, o maior exemplo de defesa da Tolerância que conheço, ou o baptismo do eunuco, (que como todos terá tido e praticado sexo e, sendo eunuco terá sido por via de uma sexualidade ou homossexual, ou, se com Mulher, de prazer sensorial clitórica), outro radical exemplo do direito à diferença na sexualidade, que a Bíblia nos transmite.
Seria pois bom que o Juvenal camarada Lucas entendesse que há já milhares de anos que um revolucionário, Jesus Cristo, para muitos Não Deus mas Filho de Deus, nos ensinou a não nos divertirmos com a maldade e com o homofobismo.
Não sendo homossexual, este exemplo que transmito neste texto serve somente para recordar que a arrogância baseada na nossa perfeição é sinal sim de forte cedência a pretensões totalitárias.
Vivemos hoje tempos de instabilidade forte, tal qual nos anos 20 do século XX e, ainda, apesar dos esforços do “burguês e capitalista” Obama, nada garante os caminhos do futuro e os nacionalismos serôdios, como se sabe, renascem com as crises, não sendo por acaso que em sondagem recente, 52% dos portugueses achem, hoje, em face da descoberta que, ao contrário do que procura explicar o Juvenal camarada Lucas, não somos, desde a ocupação espanhola, na sede do Império português, ricos, que a opção euro foi uma má opção.
O que, claro, não sucedia, enquanto fomos beneficiados, largamente, pelos Fundos Comunitários que, ridiculamente, gerimos com os pés.
Que o Juvenal camarada Lucas brinque com o Fascismo não me espanta, lá teremos, nós “burgueses e capitalistas”, de o salvar aquando do ascenso de um qualquer neo fascismo que ele se recusa a ver nas homofóbicas palavras do ministro suíço das finanças e na fascista montagem deste ridículo e fascista vídeo.
Joffre Justino
Não é coisa que não nos lembremos – o sectarismo da Internacional Comunista, aos tempos, poucos, antes do inicio da II Grande Guerra Mundial que a levou a considerar a Democracia “burguesa e capitalista” pior, enquanto regime que o Fascismo de Hitler e Mussolini…
Hoje esse sectarismo renasce em alguns dos que se arrogam de comunistas, como é o caso deste Juvenal camarada Lucas, (comunista ou não é um homem de Esquerda, por muito errado que esteja e está) o que os leva a considerarem divertido o vídeo onde um ministro, suíço, conservador, (diria melhor, reaccionário), ataca o direito à Igualdade de Género, assume ridiculamente risos homofóbicos, etc.
Pois foi este vídeo, que foi remontado por um fascista, ou como já o disse por uma central de comunicação fascista, para atacar os “burgueses” Sócrates e Passos Coelho, que foi entendido, por este Juvenal camarada Lucas, razão para achar que “divirta-se com o vídeo, porque está muito bem “apanhado”…
É verdade que, em consequência do desastre que foi a visão estratégica do “camarada Estaline”, quanto ao que significavam Hitler e Mussolini, Dimitrov teve, por algum tempo, a oportunidade de defender a tese das Frentes Populares, que deu origem também à tese das Democracias Populares, e, felizmente para os Cidadãos e Cidadãs do Mundo, houve na URSS o recuo suficiente para a Aliança que derrotou o Fascismo no Mundo.
Francisco Rodrigues Martins, reconhece nesta tese das Frentes Populares e das Democracias Populares a visão direitista no PCUS que Estaline, de novo “esquerdista”, no imediato pós guerra emendou, eliminando mais uns tantos comunistas soviéticos e impondo a politica que conduziu às ocupações na Hungria, na Checoslováquia, na Polónia, etc e, claro à cisão Sino Soviética dos anos 50.
É evidente que nem estranhei esta atitude deste Juvenal camarada Lucas, que me insulta em cada linha que escreve, (num estranho e não justificado ódio contra mim…), pois felizmente também Gramsci, além de Dimitrov, leitura que aconselho veementemente.
Mesmo que seja hoje socialista não escondo o meu passado anterior, maoista, e a minha formação marxista, claro que não serôdia à “Marta Hanecker”, (enfim para o nome…), mas o que não entendo é a mania que este Juvenal camarada Lucas tem em dizer que eu escrevi alguma vez que fui dirigente socialista.
Nunca o fui nem nunca me afirmei enquanto tal.
Fui e afirmei-me dirigente da UEDS, fui e afirmei-me, dirigente da UNITA e tenho bastante orgulho em tal.
Como sou, com orgulho de Esquerda, fundador de uma cooperativa de Ensino e seu director pedagógico!
Porque estes cargos resultaram de combates de Esquerda feitos, nos âmbitos, político, social, cultural e económico.
No entanto o essencial a analisar agora, está na incapacidade de alguns camaradas, de Esquerda, em reconhecer o que, na Esquerda, é essencial reconhecer – o direito à diferença e o livre arbítrio!
Recordando a Bíblia, uma das raízes intelectuais da Esquerda, ao contrario do que muitos pensam,, tomada que ela foi pelas direitas vaticanistas, tenho na memória os lindíssimos versículos sobre “quem não pecou que atire a primeira pedra”, o maior exemplo de defesa da Tolerância que conheço, ou o baptismo do eunuco, (que como todos terá tido e praticado sexo e, sendo eunuco terá sido por via de uma sexualidade ou homossexual, ou, se com Mulher, de prazer sensorial clitórica), outro radical exemplo do direito à diferença na sexualidade, que a Bíblia nos transmite.
Seria pois bom que o Juvenal camarada Lucas entendesse que há já milhares de anos que um revolucionário, Jesus Cristo, para muitos Não Deus mas Filho de Deus, nos ensinou a não nos divertirmos com a maldade e com o homofobismo.
Não sendo homossexual, este exemplo que transmito neste texto serve somente para recordar que a arrogância baseada na nossa perfeição é sinal sim de forte cedência a pretensões totalitárias.
Vivemos hoje tempos de instabilidade forte, tal qual nos anos 20 do século XX e, ainda, apesar dos esforços do “burguês e capitalista” Obama, nada garante os caminhos do futuro e os nacionalismos serôdios, como se sabe, renascem com as crises, não sendo por acaso que em sondagem recente, 52% dos portugueses achem, hoje, em face da descoberta que, ao contrário do que procura explicar o Juvenal camarada Lucas, não somos, desde a ocupação espanhola, na sede do Império português, ricos, que a opção euro foi uma má opção.
O que, claro, não sucedia, enquanto fomos beneficiados, largamente, pelos Fundos Comunitários que, ridiculamente, gerimos com os pés.
Que o Juvenal camarada Lucas brinque com o Fascismo não me espanta, lá teremos, nós “burgueses e capitalistas”, de o salvar aquando do ascenso de um qualquer neo fascismo que ele se recusa a ver nas homofóbicas palavras do ministro suíço das finanças e na fascista montagem deste ridículo e fascista vídeo.
Joffre Justino
terça-feira, 28 de setembro de 2010
De Novo O Fascismo Atacando, Clandestinamente, Como Sempre Faz Na Sua Cobardia Habitual
(Em Volta de Uma Mentira/Video Forjado!)
Tá excelente !
Melhor radiografia
do país não parece
ser possível.
Ficamos conhecidos
internacionalmente pelas
piores razões ...
Para além de sermo
s motivo de chacota,
Sócrates e demais bicharada
ainda dizem que Portugal
deu um salto civilizacional ...
Ao que chegamos !
A "Padeira de Aljubarrota"
faz muita falta ...
(in um dos emails recebidos)
Liguei para uma pessoa amiga, tradutora de alemão e esta pessoa ligou para uma segunda pessoa, para confirmar tudo e eis o resultado - é falso que o ministro suíço se esteja a referir a Portugal, ao primeiro ministro de Portugal, José Socrates, e ao leader da Oposição portuguesa, Passos Coelho.
O ministro das Finanças suíço trata, na sua intervenção, de um assunto interno, nunca referindo Portugal, nem sequer insinuando qualquer referencia a Portugal.
Trata-se, no vídeo abaixo, que anda a ser distribuído por gentes tanto de Esquerda como de Direita, (recebi-o por 4 pessoas diferentes, de leques políticos diferentes), pois, de uma montagem, por via da colocação de um texto por cima de um discurso, dito em língua de conhecimento pouco usual e, ainda por cima, com um sotaque próprio – o suíço!
Não duvido que este email com este vídeo é distribuído pela mesma “central de comunicação” que, na internet, ataca também Manuel Alegre de “desertor”, (o que o próprio já provou que não é), de comunista, (que o passado de Manuel Alegre desmente), etc.
Infelizmente, alguma Esquerda, (até entre socialistas), como alguma Direita, democrática, num desvario anti Sócrates, embarca em todo o tipo de campanhas, porque no fundo reconhece que nesta crise, mundial, um pequeno país como Portugal pouco pode fazer, para a superar.
E, temendo o futuro, se agarra a tudo o que pareça permitir andar à tona, na crise…
Claro que o vídeo abaixo é também um caso de policia.
Na verdade, ofende o primeiro ministro de um país, o português e, a par, o leader do principal partido da oposição, ambos cidadãos eleitos democraticamente para os cargos que ocupam, bem ao contrário dos salazarentos António de Oliveira Salazar, Américo Tomás e Marcelo Caetano, os verdadeiros leaderes desta “central de comunicação”.
Curiosamente, sou eu, que me afirmo luso angolano, que, ao sentir-me estupefacto e mesmo ofendido, com tal grau de insulto, me dou ao trabalho de procurar perceber o que diz realmente o referido ministro das Finanças e acabo por perceber a mentirola que é este vídeo!
Reparem na citação acima, “melhor radiografia do país…”, “Socrates e demais bicharada”, etc. Ela mostra bem o nível nada democrático de quem põe no ar esta ridícula e insultuosa montagem.
Reduzida a pó a campanha tipo FreePort, que deu direito a meses de insultos na comunicação social, esta gentalha fascista, manipula o cidadão normal e põe-no a divulgar uma montagem fascizante, uma mentira pegada, com um único objectivo – o de pôr a prazo em causa a Democracia em Portugal.
Temos um país que se encontra dividido.
Entre,
· os que se sentem feridos nos seus “direitos adquiridos”, por isso, barafustam contra tudo e todos.
· os que estando, ao que se acham, há demasiado tempo na oposição, tudo fazem para regressar à esfera do Poder
· os que estando na oposição e sabendo-se minoritários, por incompetência uns e por opção outros, tudo fazem para pôr em causa o status existente
· os que se encontram em situação catastrófica por imposição das consequências da crise
E os,
· que procuram minorar a situação catastrófica em evidente estado de desvantagem, pois os fundos comunitários estão em fase terminal, mas o sentimento de “sermos ricos” se mantém
E, além de dividido, o país vive, entre estes divididos, um , para não dizer vários,. combate surdos.
Não tem Portugal a violência social que vimos acontecer na Grécia, mas tem Portugal quem gostaria que a mesma violência social acontecesse.
Não por quererem “uma revolução”, mas porque desejam ainda que, à anos 20 do século 20, surjam os “heróicos” e populistas leaderes, à Mussolini, que “ponham ordem” neste, para eles, “caos”.
Este combate surdo, não visível, não explicito na comunicação social, não gerando portanto heróis, novos leaderes, com novas oportunidades de novos estatutos sociais, é, na verdade, para alguns, como eu, o combate democrático dos dias de hoje.
Mas é, claro, um combate difícil de ser entendido.
Porque é fácil dizer mal, e negar a realidade, a simples e dura realidade – a de que andou Portugal a ser enganado quando se disse que seriamos, pela simples razão de estarmos na União Europeia, ricos e com direito ao Estado Social de todos os outros também da EU, sem que fosse necessário uma Estratégia e o eu cumprimento.
Mas não, nem somos ricos, nem, e tal é que é o pior, temos quem, no segmento empresarial, envergonhe os que do mesmo se sentem ainda com coragem para pensar que a economia se desenvolve reduzindo a despesa publica e adiando o compromisso de concertação social de colocar o Salário Mínimo Nacional nos 500 euros já neste 2011.
Enfim, por duas vias, reduzir o grau de consumo em Portugal.
Daí que a economia, sem empresários dinâmicos que entendam a necessidade de, por eles, sustentar – se uma dinâmica de crescimento, pelo aumento, ou sustentação, do consumo, para ter a retoma que todos desejaríamos, só possa crescer/sustentar-se com um reforço do papel do Estado, no investimento público, mínimo que seja, o que impõe a existência de mais receitas para o Estado, portanto de mais Impostos, que, para serem eficazes, exigem um pouco mais que taxar os ricos.
As medidas eficazes de redução das despesas implicam todas elas redução no Consumo, pelo que nem se entende como um empresário, que vive do que se consome, se reconheça em teses tão absurdas.
A não ser por razões estupidamente ideológicas.
O tempo das vacas gordas findou em Portugal e a promessa de melhores mundos por via dos fundos comunitários mostrou ser uma promessa vã.
Por má gestão, por má utilização dos mesmos, por se mostrar em timing insuficiente, ou por ser um errado caminho para o progresso, a verdade é que nos deparamos com uma promessa vã que, por isso, só poderia resultar mal.
Como está a resultar.
Alguns dizem, arregacemos as mangas e vamos a isso.
Outros preferem dizer, faz tu.
Os fascistas preferem assumir – está tudo podre regressemos ao passado…
Há que escolher.
E, para já, escolher é denunciar estas montagens propagandísticas!
Joffre Justino
NOTA:
Os destaque e reduções do texto, são uma tentativa de reproduzir fielmente o grafismo do texto.
Juvenal Lucas
(Em Volta de Uma Mentira/Video Forjado!)
Tá excelente !
Melhor radiografia
do país não parece
ser possível.
Ficamos conhecidos
internacionalmente pelas
piores razões ...
Para além de sermo
s motivo de chacota,
Sócrates e demais bicharada
ainda dizem que Portugal
deu um salto civilizacional ...
Ao que chegamos !
A "Padeira de Aljubarrota"
faz muita falta ...
(in um dos emails recebidos)
Liguei para uma pessoa amiga, tradutora de alemão e esta pessoa ligou para uma segunda pessoa, para confirmar tudo e eis o resultado - é falso que o ministro suíço se esteja a referir a Portugal, ao primeiro ministro de Portugal, José Socrates, e ao leader da Oposição portuguesa, Passos Coelho.
O ministro das Finanças suíço trata, na sua intervenção, de um assunto interno, nunca referindo Portugal, nem sequer insinuando qualquer referencia a Portugal.
Trata-se, no vídeo abaixo, que anda a ser distribuído por gentes tanto de Esquerda como de Direita, (recebi-o por 4 pessoas diferentes, de leques políticos diferentes), pois, de uma montagem, por via da colocação de um texto por cima de um discurso, dito em língua de conhecimento pouco usual e, ainda por cima, com um sotaque próprio – o suíço!
Não duvido que este email com este vídeo é distribuído pela mesma “central de comunicação” que, na internet, ataca também Manuel Alegre de “desertor”, (o que o próprio já provou que não é), de comunista, (que o passado de Manuel Alegre desmente), etc.
Infelizmente, alguma Esquerda, (até entre socialistas), como alguma Direita, democrática, num desvario anti Sócrates, embarca em todo o tipo de campanhas, porque no fundo reconhece que nesta crise, mundial, um pequeno país como Portugal pouco pode fazer, para a superar.
E, temendo o futuro, se agarra a tudo o que pareça permitir andar à tona, na crise…
Claro que o vídeo abaixo é também um caso de policia.
Na verdade, ofende o primeiro ministro de um país, o português e, a par, o leader do principal partido da oposição, ambos cidadãos eleitos democraticamente para os cargos que ocupam, bem ao contrário dos salazarentos António de Oliveira Salazar, Américo Tomás e Marcelo Caetano, os verdadeiros leaderes desta “central de comunicação”.
Curiosamente, sou eu, que me afirmo luso angolano, que, ao sentir-me estupefacto e mesmo ofendido, com tal grau de insulto, me dou ao trabalho de procurar perceber o que diz realmente o referido ministro das Finanças e acabo por perceber a mentirola que é este vídeo!
Reparem na citação acima, “melhor radiografia do país…”, “Socrates e demais bicharada”, etc. Ela mostra bem o nível nada democrático de quem põe no ar esta ridícula e insultuosa montagem.
Reduzida a pó a campanha tipo FreePort, que deu direito a meses de insultos na comunicação social, esta gentalha fascista, manipula o cidadão normal e põe-no a divulgar uma montagem fascizante, uma mentira pegada, com um único objectivo – o de pôr a prazo em causa a Democracia em Portugal.
Temos um país que se encontra dividido.
Entre,
· os que se sentem feridos nos seus “direitos adquiridos”, por isso, barafustam contra tudo e todos.
· os que estando, ao que se acham, há demasiado tempo na oposição, tudo fazem para regressar à esfera do Poder
· os que estando na oposição e sabendo-se minoritários, por incompetência uns e por opção outros, tudo fazem para pôr em causa o status existente
· os que se encontram em situação catastrófica por imposição das consequências da crise
E os,
· que procuram minorar a situação catastrófica em evidente estado de desvantagem, pois os fundos comunitários estão em fase terminal, mas o sentimento de “sermos ricos” se mantém
E, além de dividido, o país vive, entre estes divididos, um , para não dizer vários,. combate surdos.
Não tem Portugal a violência social que vimos acontecer na Grécia, mas tem Portugal quem gostaria que a mesma violência social acontecesse.
Não por quererem “uma revolução”, mas porque desejam ainda que, à anos 20 do século 20, surjam os “heróicos” e populistas leaderes, à Mussolini, que “ponham ordem” neste, para eles, “caos”.
Este combate surdo, não visível, não explicito na comunicação social, não gerando portanto heróis, novos leaderes, com novas oportunidades de novos estatutos sociais, é, na verdade, para alguns, como eu, o combate democrático dos dias de hoje.
Mas é, claro, um combate difícil de ser entendido.
Porque é fácil dizer mal, e negar a realidade, a simples e dura realidade – a de que andou Portugal a ser enganado quando se disse que seriamos, pela simples razão de estarmos na União Europeia, ricos e com direito ao Estado Social de todos os outros também da EU, sem que fosse necessário uma Estratégia e o eu cumprimento.
Mas não, nem somos ricos, nem, e tal é que é o pior, temos quem, no segmento empresarial, envergonhe os que do mesmo se sentem ainda com coragem para pensar que a economia se desenvolve reduzindo a despesa publica e adiando o compromisso de concertação social de colocar o Salário Mínimo Nacional nos 500 euros já neste 2011.
Enfim, por duas vias, reduzir o grau de consumo em Portugal.
Daí que a economia, sem empresários dinâmicos que entendam a necessidade de, por eles, sustentar – se uma dinâmica de crescimento, pelo aumento, ou sustentação, do consumo, para ter a retoma que todos desejaríamos, só possa crescer/sustentar-se com um reforço do papel do Estado, no investimento público, mínimo que seja, o que impõe a existência de mais receitas para o Estado, portanto de mais Impostos, que, para serem eficazes, exigem um pouco mais que taxar os ricos.
As medidas eficazes de redução das despesas implicam todas elas redução no Consumo, pelo que nem se entende como um empresário, que vive do que se consome, se reconheça em teses tão absurdas.
A não ser por razões estupidamente ideológicas.
O tempo das vacas gordas findou em Portugal e a promessa de melhores mundos por via dos fundos comunitários mostrou ser uma promessa vã.
Por má gestão, por má utilização dos mesmos, por se mostrar em timing insuficiente, ou por ser um errado caminho para o progresso, a verdade é que nos deparamos com uma promessa vã que, por isso, só poderia resultar mal.
Como está a resultar.
Alguns dizem, arregacemos as mangas e vamos a isso.
Outros preferem dizer, faz tu.
Os fascistas preferem assumir – está tudo podre regressemos ao passado…
Há que escolher.
E, para já, escolher é denunciar estas montagens propagandísticas!
Joffre Justino
NOTA:
Os destaque e reduções do texto, são uma tentativa de reproduzir fielmente o grafismo do texto.
Juvenal Lucas
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Preparar a III Guerra Mundial
Objectivo Irão
Michel Chossudovsky*
24.Ago.10 :: Colaboradores
Neste artigo Michel Chossudovsky alerta para o perigo de um ataque iminente ao Irão pelos EUA e pelo estado neofascista de Israel. A concentração de poderosas forças aeronavais no Golfo seria o prólogo de bombardeamentos devastadores de objectivos estratégicos, de acordo com planos há muito elaborados. Especialistas do Pentágono têm afirmado, porém, que a utilização de armas convencionais no bombardeamento das instalações nucleares subterrâneas de Natanz seria ineficaz pelo que sugerem o recurso a armas atómicas tácticas. Os próprios dirigentes iranianos duvidam que Obama assuma a responsabilidade de repetir Hiroshima, desencadeando uma tragédia que provocaria a condenação dos EUA pela Humanidade.
A humanidade está numa encruzilhada perigosa. Os preparativos de guerra para atacar o Irão estão em «avançado estado de preparação». Sistemas de alta tecnologia, incluindo armas nucleares, estão totalmente preparados.
Esta aventura militar tem estado na mesa de planeamento do Pentágono desde meados da década 1990. Primeiro o Iraque, depois o Irão, de acordo com documentos desclassificados de 1995 do Comando Central dos EUA.
A escalada faz parte da agenda militar. Além do Irão – é o próximo objectivo juntamente com a Síria e o Líbano – este desenvolvimento estratégico militar também ameaça a Coreia do Norte, a China e a Rússia.
Desde 2005, os EUA e os seus aliados, incluindo os interlocutores dos Estados Unidos na NATO e Israel, estão envolvidos num amplo desenvolvimento e armazenamento dos sistemas de armas avançadas.
Os sistemas de defesa aérea dos EUA, dos países membros da NATO e Israel estão totalmente integrados.
É um trabalho coordenado pelo Pentágono, a NATO e a Força de Defesa de Israel (FID), com a activa colaboração de vários países da NATO e outros não integrados nesta estrutura, incluindo os Estados árabes (os membros da NATO do Diálogo do Mediterrâneo e a Iniciativa de Cooperação de Istambul), Arábia Saudita, Japão, Coreia do Sul, Índia, Indonésia, Singapura e Austrália, entre outros. Fazem parte da NATO 28 Estados; outros 21 países são membros do Conselho da Aliança Euro-Atlântica (EAPC); o Diálogo Mediterrâneo e a Iniciativa de Cooperação de Istambul é formada por 10 países árabes e Israel.
O papel do Egipto, dos Estados do Golfo e da Arábia Saudita dentro da aliança militar ampliada é de particular relevância: o Egipto controla o trânsito dos navios de guerra e petroleiros no Canal do Suez; a Arábia Saudita e os Estados do Golfo ocupam a costa ocidental sul do Golfo Pérsico, o Estreito de Ormuz e o Golfo de Oman.
No princípio de Junho, «o Egipto informou que permitiu a passagem pelo canal do Suez de onze barcos dos EUA e de Israel, num aparentemente aviso… ao Irão. Em 12 de Junho, alguns meios de comunicação regionais informaram que os sauditas tinham dado autorização a Israel para sobrevoar o seu espaço aéreo» (Mirak Weissbach Muriel, Israel’s Insane War on Iran Must Be Prevented, Global Research, 31 de Julho de 2010). Na doutrina militar nascida do 11 de Setembro, o desenvolvimento massivo de armamento militar definiu-se como parte integrante da chamada «Guerra Global contra o Terrorismo», dirigido contra organizações terroristas «não estatais» como a Al-Qaeda e os chamados «Estados patrocinadores do terrorismo, como o Irão, a Síria, o Libano e o Sudão.
A criação de novas bases militares dos EUA e o armazenamento dos sistemas de armas avançadas, incluindo as armas nucleares tácticas, etc. fazem parte da preventiva «doutrina militar defensiva» sob o guarda-chuva da «Guerra Global contra o Terrorismo».
GUERRA E CRISE ECONÓMICA
As consequências de um ataque de um ataque intenso dos Estados Unidos, da NATO e Israel contra o Irão são de longo alcance.
A guerra e a crise económica estão intimamente relacionadas, A economia de guerra é financiada por Wall Street, que surge como credor da administração dos EUA.
Os produtores de armas são os destinatários de milhares de milhões de dólares do Departamento de Defesa dos EUA, como forma de pagamento dos contratos de aquisição de sistemas de armas avançadas.
Por sua vez, «a batalha do petróleo» no Médio Oriente serve directamente os interesses das petrolíferas gigantes anglo-estadunidenses. Os EUA e os seus aliados estão «a tocar os tambores da guerra» num momento de uma depressão económica mundial, para não falar da catástrofe ambiental, mais grave da história mundial. Numa amarga jogada, um dos grandes jogadores (BP) do tabuleiro de xadrez geopolítico da Ásia Central no Médio Oriente, a antigamente conhecida como Anglo-Persian Oil, foi a instigadora da catástrofe ecológica no Golfo do México.
MEIOS DE DESINFORMAÇÃO
A opinião pública, influenciada pelo bombardeamento dos meios de comunicação social, apoia tacitamente, indiferente ou ignorando os possíveis impactes do que se mantém como um ad hoc «punitivo», uma operação dirigida contra as instalações nucleares do Irão em vez de uma guerra total.
Os preparativos para a guerra incluem o desenvolvimento do fabrico de armas nucleares nos EUA e Israel.
Neste contexto, as consequências devastadoras de uma guerra nuclear trivializam-se ou, pura e simplesmente não se mencionam.
A crise «real» que ameaça a humanidade é o «aquecimento global» segundo os media e o Governo, não a guerra.
A guerra contra o Irão apresenta-se à opinião pública como um tema entre vários outros. Não se apresenta como uma ameaça à «Mãe Terra», como o caso do aquecimento global. Não é notícia de primeira página. O facto de um ataque contra o Irão poder levar a uma potencial escalada e desencadear uma «guerra global» não é motivo de preocupação.
CULTO DA MORTE E DA DESTRUIÇÃO
A máquina global de matar também é sustentada pelo culto da morte e da destruição que inunda os filmes de Hollywood, para não referir as guerras em prime time e as séries de televisão sobre delinquência.
Este culto da matança é apoiado pela CIA e pelo Pentágono, que também apoiou (financiou) produções de Hollywood como instrumentos de propaganda da guerra.
O ex-agente da CIA Bob baer disse: «Há uma simbiose entre a CIA e Hollywood» e revelou que o ex-director da CIA George Tenet, se encontra actualmente em Hollywood, a falar com os estúdios. (Mathew Alford and Robbie Graham, Lights, Camera… Covert Action: The Deep Politics of Hollywood, Global Research, 31 de Janeiro de 2009). A máquina de matar desenvolve-se a nível global no quadro da estrutura de comando de combate unificado. E, habitualmente, mantém-se nas instituições do governo, media corporativos e mandarins e intelectuais às ordens da Nova Ordem Mundial, desde os think thanks de Washington e os institutos de investigação de estudos estratégicos, como instrumentos indiscutível da paz e da prosperidade mundiais. A cultura da morte e da violência gravou-se na consciência humana.
A guerra é largamente aceite como parte de um processo social: a Pátria tem que ser «defendida» e protegida.
A «violência legitimada» e as execuções extrajudiciais contra os «terroristas» mantêm-se nas democracias ocidentais, como instrumentos necessários de segurança nacional.
Uma «guerra humanitária» é sustentada pela chamada comunidade internacional. Não é condenada como um acto criminoso. Os seus principais arquitectos são recompensados pelas suas contribuições para a paz mundial. Quanto ao Irão, o que se está a desenvolver é a legitimação directa da guerra em nome de uma ilusória teoria de segurança mundial.
UM ATAQUE AÉREO «PREVENTIVO» CONTRA O IRÃO
LEVARIA A UMA ESCALADA
Na actualidade há três teatros de guerra separados no Médio Oriente-Ásia Central: Iraque, Afeganistão/Paquistão e Palestina.
Se o Irão for objecto de um ataque aéreo «preventivo» pelas forças aliadas, toda a região, do Mediterrâneo Oriental à fronteira ocidental da China com o Afeganistão e Paquistão, poderia rebentar o que potencialmente conduz a um cenário da Terceira Guerra Mundial.
A guerra também se estenderia ao Líbano e à Síria. É muito pouco provável que os ataques, se tivessem lugar, ficassem circunscritos às instalações nucleares do Irão, como afirmam as declarações oficiais dos EUA e da NATO. O mais provável é um ataque aéreo, tanto a infra-estruturas militares como civis, sistemas de transporte, fábricas e edifícios públicos.
O Irão, com uma estimativa de dez por cento do petróleo mundial, ocupa o terceiro lugar mundial das reservas de gás, depois da Arábia Saudita (25%) e Iraque (11%) do total mundial das reservas. Em contrapartida, os EUA têm menos de 2,8% das reservas mundiais de petróleo (Ver Eric Waddel, The Battle for Oil, Global Research, Dezembro de 2004).
É de importância vital a recente descoberta no Irão, em Soumar e Halgan, das segundas maiores reservas mundiais conhecidas que se estimam em 12,4 biliões de pés cúbicos. Atacar o Irão não só consiste em recuperar o controlo anglo-estadunidense, mas também questiona a presença e influência da China e da Rússia na região.
O ataque planificado contra o Irão faz parte de um mapa global coordenado de orientação militar. Faz parte da «longa guerra do Pentágono» uma lucrativa guerra sem fronteiras, um projecto de dominação mundial, uma sequência de operações militares.
Os planificadores militares dos EUA e da NATO previram diversos cenários de escalada militar. Estão perfeitamente conscientes das implicações geopolíticas, a saber, que a guerra poderá estender-se para além da região do Médio Oriente à Ásia Central. Os efeitos económicos sobre os mercados de petróleo, etc. também foram analisados. Enquanto o Irão, a Síria e o Líbano são os objectivos imediatos, a China, a Rússia, a Coreia do Norte, para não falar da Venezuela e Cuba, são também objecto de ameaças dos EUA.
Está em jogo a estrutura das alianças militares. Os desenvolvimentos militares da NATO-EUA-Israel, incluindo as manobras militares e exercícios realizados na Rússia e nas suas fronteiras imediatas com a China têm uma relação directa com a guerra proposta contra o Irão.
Estas ameaças veladas, incluindo o seu calendário, constituem um aviso claro aos antigos poderes da era da Guerra Fria, paar evitar que possam interferir num ataque dos EUA contra o Irão.
GUERRA MUNDIAL
O objectivo estratégico a médio prazo é chegar ao Irão e neutralizar os seus aliados, através da diplomacia da canhonheira. O objectivo militara longo prazo é dirigido directamente à China e à Rússia.
Ainda que o Irão seja o objectivo imediato, o desenvolvimento militar não se limita ao Médio Oriente e Ásia Central. Foi formulada uma agenda militar global.
O desenvolvimento das tropas da coligação e os sistemas de armas avançadas dos EUA, da NATO e dos seus parceiros estão a produzir-se em todas as principais regiões do mundo.
As recentes acções dos militares dos EUA em frente das costas da Coreia do Norte sob a forma de manobras, são parte do plano global.
Os exercícios militares, os simulacros de guerra, o desenvolvimento de armas, etc., dos EUA, da NATO e dos seus aliados que estão a ser levados a cabo simultaneamente nos principais pontos geopolíticos, são dirigidos principalmente contra a Rússia e a China,
• A península da Coreia do Norte, o Mar do Japão, o Estreito de Taiwan, o Mar Meridional da China, ameaçam a China.
• O desenvolvimento de mísseis Patriot na Polónia, o centro de alerta rápido na República Checa, ameaçam a Rússia.
• Movimentações navais na Bulgária e Roménia no Mar Negro, ameaçam a Rússia.
• Movimentações de tropas da NATO e dos EUA na Geórgia.
• Um intenso movimento naval no Golfo Pérsico, incluindo submarinos israelitas dirigidos contra o Irão.
Ao mesmo tempo, o Mediterrâneo Oriental, o Mar Negro, o Caribe, a América Central e a região Andina na América do Sul, são zonas de militarização em curso. Na América Latina e no Caribe as ameaças dirigem-se contra a Venezuela e Cuba.
“AJUDA MILITAR” DOS EUA
Por sua vez, transferências de armas em grande escala tiveram lugar sob a bandeira dos EUA como “ajuda militar” a países seleccionados, incluindo 5 mil milhões de dólares num acordo de armamento com a Índia que se destina a melhorar as capacidades da Índia perante a China (Huge U.S.-Índia Arms Deal To Contain China, Global Times, 13 de Julho de 2110).
“[A venda de armas] significará melhorar as relações entre Washington e Nova Deli e, de forma deliberada ou não, terá o efeito de conter a influência da China na região”. (Citado em Rick Rozoff, Confronting both China and Russia: U.S. Risks Military Clash With China In Yellow Sea, Global Research, 16 de Julho de 2010).
Os EUA conseguiram acordos de cooperação com alguns países do sul da Ásia Oriental, como Singapura, Vietname e Indonésia, incluindo a sua “ajuda militar” e a participação em manobras militares dirigidas pelos Estados Unidos na Pacífico (Julho-Agosto de 2010). Estes acordos são de apoio às implementações de armas apontadas à República Popular da China. (Ver Rick Rozoff, Confronting both China and Russia: U.S. Risks Military Clash With China In Yellow Sea, Global Research, 16 de Julho de 2010).
Do mesmo modo, e mais directamente relacionado com o ataque planificado contra o Irão, os EUA estão a armar os Estados do Golfo Pérsico (Bahrein, Kuwait, Qatar e os Emiratos Árabes Unidos) com o interceptor de mísseis terra-ar, Patriot Advanced Capability-3 e a Terminal High Altitude Area Defense (THAAD), bem como as instalações standard de mísseis mar-3 interceptores instalados em navios de guerra da classe Aegis no Golfo Pérsico. (Ver Rozoff Rick, NATO’s Role In The Military Encirclement Of Iran, 10 de Fevereiro de 2010).
CALENDÁRIOS DE ARMAZENAMENTO MILITAR E DE IMPLEMENTAÇÃO
O que é crucial nas transferências de armas dos EUA para os parceiros e aliados é o momento real da entrega e o seu desenvolvimento. O lançamento de uma operação militar patrocinada pelos EUA, ocorreria normalmente quando estes sistemas de armas estejam instalados, depois do efectivo desenvolvimento da aplicação da capacitação do pessoal. (Por exemplo da Índia).
Do que estamos a falar é de um desenho militar mundial, cuidadosamente coordenado e controlado pelo Pentágono, com a participação das forças armadas combinadas de mais de quarenta países. Este desenvolvimento militar multinacional mundial é, no mínimo, o maior desenvolvimento de sistemas de armas avançadas da história.
Por sua vez, os EUA e os seus aliados estabeleceram novas bases militares em diferentes partes do mundo. “A superfície da Terra está estruturada como um enorme campo de batalha”. (Ver Jules Dufour, The Worldwide Network of US Military Bases, Investigación Global, 01 de Julho de 2007).
Comando Unificado da estrutura geográfica dividida em comandos de combate baseia-se numa estratégia de militarização a nível global. “Os militares dos EUA têm bases em 63 países. Há sinais de novas bases militares construídas a partir de 2001 em sete países. No total, há 255.065 militares deslocados dos EUA em todo o mundo”. (Ver Jules Dufour, The Worldwide Network of US Military Bases, Investigación Global, 01 de Julho de 2007).
CENÁRIO DA III GUERRA MUNDIAL
Este desenvolvimento militar dá-se em várias regiões ao mesmo tempo e sob coordenação dos comandos regionais dos EUA, com a participação no armazenamento dos arsenais dos EUA e dos aliados dos EUA, alguns deles seus antigos inimigos, como o Vietname e o Japão.
O contexto actual caracteriza-se por uma acumulação militar global controlada por uma superpotência mundial que utiliza os seus aliados para desencadear numerosas guerras regionais.
Diferentemente da Segunda Guerra Mundial, que também foi uma conjugação de diferentes locais de uma guerra regional, é que com a tecnologia de comunicações e sistemas de armas da década de 40, não havia possibilidades de uma estratégia em “tempo real” para a coordenação das acções militares entre as grandes regiões geográficas.
A guerra mundial baseia-se no desenvolvimento coordenado de uma única potência militar dominante, que supervisiona as acções dos seus aliados e parceiros.
Com excepção de Hiroshima e Nagasaki, a Segunda Guerra Mundial caracterizou-se pelo uso de armas convencionais. Agora a planificação de uma guerra mundial baseia-se na militarização do espaço extra-terrestre.
Se uma guerra contra o Irão tiver lugar, não será só o uso de armas nucleares, mas toda a gama de novos sistemas de armas avançadas, inclusive armas electrométricas e técnicas de alteração ambiental (ENMOD) que se utilizarão.
O CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS
O Conselho de Segurança aprovou no princípio de Junho uma quarta ronda de sanções de amplo alcance contra a República Islâmica do Irão que incluem o embargo de armas e “controlos financeiros mais apertados”.
Numa amarga ironia, esta resolução foi aprovada dias depois da negativa, pura e dura, do Conselho de Segurança das Nações Unidas de adoptar uma moção de condenação de Israel pelo seu ataque à Flotilha pela Liberdade de Gaza em águas internacionais.
Tanto a China como a Rússia, pressionadas pelos Estados Unidos, apoiaram on regime de sanções do CSNU, em prejuízo próprio. A sua decisão no Conselho de Segurança contribui para debilitar a sua própria aliança militar, a Organização de Cooperação de Shangai (OCS), em que o Irão tem o estatuto de observador. A resolução do Conselho de Segurança congela os próprios acordos de cooperação militar e económica entre a China e a Rússia com o Irão. Isto tem graves repercussões no sistema de defesa aérea do Irão, que em parte depende da tecnologia e experiência da Rússia.
A Resolução do Conselho de Segurança, de facto, dá “luz verde” para desencadear uma guerra preventiva contra o Irão.
A INQUISIÇÃO ESTADUNIDENSE: A CONSTRUÇÃODE UM CONSENSO POLÍTICO PARA A GUERRA
Em coro, os media ocidentais qualificaram o Irão como uma ameaça á segurança mundial devido a um suposto (inexistente) programa de armas nucleares. Fazendo eco das declarações oficiais, os meios de comunicação estão agora a exigir a bombardeamentos punitivos dirigidos contra o Irão a fim de salvaguardar Israel.
Os media tocam os tambores da guerra. O objectivo é inculcar na consciência interna das pessoas, através da repetição até à saciedade da publicação de relatórios com a ideia de que a ameaça iraniana é real e que a república islâmica deve ser “expulsa”.
O processo de criação de consenso para a guerra é semelhante à Inquisição espanhola. Procuram a submissão à ideia que a guerra é uma tarefa humanitária.
A verdadeira ameaça à segurança global vem da aliança Estados Unidos-NATO-Israel, no entanto, a realidade num ambiente inquisitorial é ao contrário: os belicistas estão comprometidos com a paz, as vítimas da guerra são apresentadas como os protagonistas da guerra.
Se em 2006 quase dois terços dos estadunidenses se opunham a uma acção militar contra o Irão, segundo uma sondagem recente da Reuter-Zogby, agora uma sondagem indica que 56% dos estadunidenses são a favor de uma acção militar da NATO contra o Irão.
A criação de um consenso político que se baseia numa mentira não pode, no entanto, confiar unicamente nos que são a fonte da mentira.
Os movimentos contra a guerra nos EUA, que em parte já foram infiltrados, assumiram uma posição frouxa em relação ao Irão. O movimento contra a guerra está dividido. A ênfase põe-se nas guerras que já estão a ser feitas (Afeganistão e Iraque) em vez de se oporem com força a guerras em preparação e que se encontram actualmente no estirador do Pentágono.
Desde a posse da administração Obama que o movimento contra a guerra perdeu parte do seu ímpeto.
Por outro lado, os que se opõem activamente contra as guerras do Afeganistão e do Iraque não se opõem necessariamente a “bombardeamentos punitivos” ao Irão nem estes atentados são qualificados como um acto da guerra que poderá ser o prelúdio da Terceira Guerra Mundial.
A escalada de protestos contra a guerra ao Irão tem sido mínima em comparação coma as manifestações massivas que precederam os bombardeamentos de 2003 e a invasão do Iraque.
Diplomaticamente, a operação Irão não teve a oposição da China e da Rússia, mas conta com o apoio dos governos dos Estados árabes de primeira linha que estão integrados no diálogo NATO-Mediterrâneo e conta também com o apoio tácito da opinião pública ocidental.
Fazemos um apelo às pessoas de todos os países, na América, na Europa Ocidental, em Israel, na Turquia e em todo o mundo para que se levantem contra este projecto militar, contra os governos que apoiam a acção militar contra o Irão, contra os meios de comunicação que servem para camuflar as devastadoras consequências de uma guerra contra o Irão.
ESTA GUERRA É UMA LOUCURA
A III Guerra Mundial é terminal. Albert Einstein compreendia os perigos da guerra nuclear e a extinção da vida na Terra, que já começou com a contaminação radioactiva resultante da utilização de urânio empobrecido. “Não sei com que armas se lutará na III Guerra Mundial, mas na IV Guerra Mundial lutar-se-á com paus e pedras”.
Os meios de comunicação, os intelectuais, os cientistas e os políticos, em coro, ofuscam a verdade não contada, a saber, que a guerra que utiliza ogivas nucleares destrói a humanidade, e que este complexo processo de destruição gradual já começou.
QUANDO A MENTIRA SE CONVERTE EM VERDADE JÁ NÃO HÁ VOLTA ATRÁS
Quando a guerra é apresentada como uma tarefa humanitária, a justiça e todo o sistema jurídico internacional estão de pernas para o ar: o pacifismo e o movimento contra a guerra são criminalizados. Opor-se à guerra converte-se num acto criminoso.
A mentira deve ser exposta como aquilo que é e faz.
Aprova a matança indiscriminada de homens, mulheres e crianças.
Destróis famílias e pessoas. Destrói o compromisso das pessoas com os seus semelhantes.
Impede as pessoas de expressarem a sua solidariedade com os que sofrem. Defende a guerra e o estado policial como a única via.
Destrói o internacionalismo.
Romper com a mentira significa romper com um projecto criminosos de destruição global, onde a procura do lucro é a sua força primordial.
Este lucro incentiva a agenda militar, destrói valores humanos e transforma as pessoas em zombis inconscientes.
Vamos inverter a maré.
Desafio aos criminosos de guerra em altos cargos e nas poderosas corporações e grupos de pressão que os apoiam.
Este beneficio impulsando la agenda militar destruye los valores humanos y transforma a la gente en zombis inconscientes.
Fim da inquisição estadunidense.
Fim da cruzada militar Estados Unidos-NATO-Israel.
Encerramento das fábricas de armas e das bases militares.
Retirada das tropas
Os membros das Forças Armadas devem desobedecer às ordens e recusarem-se a participar numa guerra criminosa.
* Michel Chossudowsky, amigo e colaborador de odiario.info, é Professor Emérito da Universidade de Ottawa, Canadá.
Objectivo Irão
Michel Chossudovsky*
24.Ago.10 :: Colaboradores
Neste artigo Michel Chossudovsky alerta para o perigo de um ataque iminente ao Irão pelos EUA e pelo estado neofascista de Israel. A concentração de poderosas forças aeronavais no Golfo seria o prólogo de bombardeamentos devastadores de objectivos estratégicos, de acordo com planos há muito elaborados. Especialistas do Pentágono têm afirmado, porém, que a utilização de armas convencionais no bombardeamento das instalações nucleares subterrâneas de Natanz seria ineficaz pelo que sugerem o recurso a armas atómicas tácticas. Os próprios dirigentes iranianos duvidam que Obama assuma a responsabilidade de repetir Hiroshima, desencadeando uma tragédia que provocaria a condenação dos EUA pela Humanidade.
A humanidade está numa encruzilhada perigosa. Os preparativos de guerra para atacar o Irão estão em «avançado estado de preparação». Sistemas de alta tecnologia, incluindo armas nucleares, estão totalmente preparados.
Esta aventura militar tem estado na mesa de planeamento do Pentágono desde meados da década 1990. Primeiro o Iraque, depois o Irão, de acordo com documentos desclassificados de 1995 do Comando Central dos EUA.
A escalada faz parte da agenda militar. Além do Irão – é o próximo objectivo juntamente com a Síria e o Líbano – este desenvolvimento estratégico militar também ameaça a Coreia do Norte, a China e a Rússia.
Desde 2005, os EUA e os seus aliados, incluindo os interlocutores dos Estados Unidos na NATO e Israel, estão envolvidos num amplo desenvolvimento e armazenamento dos sistemas de armas avançadas.
Os sistemas de defesa aérea dos EUA, dos países membros da NATO e Israel estão totalmente integrados.
É um trabalho coordenado pelo Pentágono, a NATO e a Força de Defesa de Israel (FID), com a activa colaboração de vários países da NATO e outros não integrados nesta estrutura, incluindo os Estados árabes (os membros da NATO do Diálogo do Mediterrâneo e a Iniciativa de Cooperação de Istambul), Arábia Saudita, Japão, Coreia do Sul, Índia, Indonésia, Singapura e Austrália, entre outros. Fazem parte da NATO 28 Estados; outros 21 países são membros do Conselho da Aliança Euro-Atlântica (EAPC); o Diálogo Mediterrâneo e a Iniciativa de Cooperação de Istambul é formada por 10 países árabes e Israel.
O papel do Egipto, dos Estados do Golfo e da Arábia Saudita dentro da aliança militar ampliada é de particular relevância: o Egipto controla o trânsito dos navios de guerra e petroleiros no Canal do Suez; a Arábia Saudita e os Estados do Golfo ocupam a costa ocidental sul do Golfo Pérsico, o Estreito de Ormuz e o Golfo de Oman.
No princípio de Junho, «o Egipto informou que permitiu a passagem pelo canal do Suez de onze barcos dos EUA e de Israel, num aparentemente aviso… ao Irão. Em 12 de Junho, alguns meios de comunicação regionais informaram que os sauditas tinham dado autorização a Israel para sobrevoar o seu espaço aéreo» (Mirak Weissbach Muriel, Israel’s Insane War on Iran Must Be Prevented, Global Research, 31 de Julho de 2010). Na doutrina militar nascida do 11 de Setembro, o desenvolvimento massivo de armamento militar definiu-se como parte integrante da chamada «Guerra Global contra o Terrorismo», dirigido contra organizações terroristas «não estatais» como a Al-Qaeda e os chamados «Estados patrocinadores do terrorismo, como o Irão, a Síria, o Libano e o Sudão.
A criação de novas bases militares dos EUA e o armazenamento dos sistemas de armas avançadas, incluindo as armas nucleares tácticas, etc. fazem parte da preventiva «doutrina militar defensiva» sob o guarda-chuva da «Guerra Global contra o Terrorismo».
GUERRA E CRISE ECONÓMICA
As consequências de um ataque de um ataque intenso dos Estados Unidos, da NATO e Israel contra o Irão são de longo alcance.
A guerra e a crise económica estão intimamente relacionadas, A economia de guerra é financiada por Wall Street, que surge como credor da administração dos EUA.
Os produtores de armas são os destinatários de milhares de milhões de dólares do Departamento de Defesa dos EUA, como forma de pagamento dos contratos de aquisição de sistemas de armas avançadas.
Por sua vez, «a batalha do petróleo» no Médio Oriente serve directamente os interesses das petrolíferas gigantes anglo-estadunidenses. Os EUA e os seus aliados estão «a tocar os tambores da guerra» num momento de uma depressão económica mundial, para não falar da catástrofe ambiental, mais grave da história mundial. Numa amarga jogada, um dos grandes jogadores (BP) do tabuleiro de xadrez geopolítico da Ásia Central no Médio Oriente, a antigamente conhecida como Anglo-Persian Oil, foi a instigadora da catástrofe ecológica no Golfo do México.
MEIOS DE DESINFORMAÇÃO
A opinião pública, influenciada pelo bombardeamento dos meios de comunicação social, apoia tacitamente, indiferente ou ignorando os possíveis impactes do que se mantém como um ad hoc «punitivo», uma operação dirigida contra as instalações nucleares do Irão em vez de uma guerra total.
Os preparativos para a guerra incluem o desenvolvimento do fabrico de armas nucleares nos EUA e Israel.
Neste contexto, as consequências devastadoras de uma guerra nuclear trivializam-se ou, pura e simplesmente não se mencionam.
A crise «real» que ameaça a humanidade é o «aquecimento global» segundo os media e o Governo, não a guerra.
A guerra contra o Irão apresenta-se à opinião pública como um tema entre vários outros. Não se apresenta como uma ameaça à «Mãe Terra», como o caso do aquecimento global. Não é notícia de primeira página. O facto de um ataque contra o Irão poder levar a uma potencial escalada e desencadear uma «guerra global» não é motivo de preocupação.
CULTO DA MORTE E DA DESTRUIÇÃO
A máquina global de matar também é sustentada pelo culto da morte e da destruição que inunda os filmes de Hollywood, para não referir as guerras em prime time e as séries de televisão sobre delinquência.
Este culto da matança é apoiado pela CIA e pelo Pentágono, que também apoiou (financiou) produções de Hollywood como instrumentos de propaganda da guerra.
O ex-agente da CIA Bob baer disse: «Há uma simbiose entre a CIA e Hollywood» e revelou que o ex-director da CIA George Tenet, se encontra actualmente em Hollywood, a falar com os estúdios. (Mathew Alford and Robbie Graham, Lights, Camera… Covert Action: The Deep Politics of Hollywood, Global Research, 31 de Janeiro de 2009). A máquina de matar desenvolve-se a nível global no quadro da estrutura de comando de combate unificado. E, habitualmente, mantém-se nas instituições do governo, media corporativos e mandarins e intelectuais às ordens da Nova Ordem Mundial, desde os think thanks de Washington e os institutos de investigação de estudos estratégicos, como instrumentos indiscutível da paz e da prosperidade mundiais. A cultura da morte e da violência gravou-se na consciência humana.
A guerra é largamente aceite como parte de um processo social: a Pátria tem que ser «defendida» e protegida.
A «violência legitimada» e as execuções extrajudiciais contra os «terroristas» mantêm-se nas democracias ocidentais, como instrumentos necessários de segurança nacional.
Uma «guerra humanitária» é sustentada pela chamada comunidade internacional. Não é condenada como um acto criminoso. Os seus principais arquitectos são recompensados pelas suas contribuições para a paz mundial. Quanto ao Irão, o que se está a desenvolver é a legitimação directa da guerra em nome de uma ilusória teoria de segurança mundial.
UM ATAQUE AÉREO «PREVENTIVO» CONTRA O IRÃO
LEVARIA A UMA ESCALADA
Na actualidade há três teatros de guerra separados no Médio Oriente-Ásia Central: Iraque, Afeganistão/Paquistão e Palestina.
Se o Irão for objecto de um ataque aéreo «preventivo» pelas forças aliadas, toda a região, do Mediterrâneo Oriental à fronteira ocidental da China com o Afeganistão e Paquistão, poderia rebentar o que potencialmente conduz a um cenário da Terceira Guerra Mundial.
A guerra também se estenderia ao Líbano e à Síria. É muito pouco provável que os ataques, se tivessem lugar, ficassem circunscritos às instalações nucleares do Irão, como afirmam as declarações oficiais dos EUA e da NATO. O mais provável é um ataque aéreo, tanto a infra-estruturas militares como civis, sistemas de transporte, fábricas e edifícios públicos.
O Irão, com uma estimativa de dez por cento do petróleo mundial, ocupa o terceiro lugar mundial das reservas de gás, depois da Arábia Saudita (25%) e Iraque (11%) do total mundial das reservas. Em contrapartida, os EUA têm menos de 2,8% das reservas mundiais de petróleo (Ver Eric Waddel, The Battle for Oil, Global Research, Dezembro de 2004).
É de importância vital a recente descoberta no Irão, em Soumar e Halgan, das segundas maiores reservas mundiais conhecidas que se estimam em 12,4 biliões de pés cúbicos. Atacar o Irão não só consiste em recuperar o controlo anglo-estadunidense, mas também questiona a presença e influência da China e da Rússia na região.
O ataque planificado contra o Irão faz parte de um mapa global coordenado de orientação militar. Faz parte da «longa guerra do Pentágono» uma lucrativa guerra sem fronteiras, um projecto de dominação mundial, uma sequência de operações militares.
Os planificadores militares dos EUA e da NATO previram diversos cenários de escalada militar. Estão perfeitamente conscientes das implicações geopolíticas, a saber, que a guerra poderá estender-se para além da região do Médio Oriente à Ásia Central. Os efeitos económicos sobre os mercados de petróleo, etc. também foram analisados. Enquanto o Irão, a Síria e o Líbano são os objectivos imediatos, a China, a Rússia, a Coreia do Norte, para não falar da Venezuela e Cuba, são também objecto de ameaças dos EUA.
Está em jogo a estrutura das alianças militares. Os desenvolvimentos militares da NATO-EUA-Israel, incluindo as manobras militares e exercícios realizados na Rússia e nas suas fronteiras imediatas com a China têm uma relação directa com a guerra proposta contra o Irão.
Estas ameaças veladas, incluindo o seu calendário, constituem um aviso claro aos antigos poderes da era da Guerra Fria, paar evitar que possam interferir num ataque dos EUA contra o Irão.
GUERRA MUNDIAL
O objectivo estratégico a médio prazo é chegar ao Irão e neutralizar os seus aliados, através da diplomacia da canhonheira. O objectivo militara longo prazo é dirigido directamente à China e à Rússia.
Ainda que o Irão seja o objectivo imediato, o desenvolvimento militar não se limita ao Médio Oriente e Ásia Central. Foi formulada uma agenda militar global.
O desenvolvimento das tropas da coligação e os sistemas de armas avançadas dos EUA, da NATO e dos seus parceiros estão a produzir-se em todas as principais regiões do mundo.
As recentes acções dos militares dos EUA em frente das costas da Coreia do Norte sob a forma de manobras, são parte do plano global.
Os exercícios militares, os simulacros de guerra, o desenvolvimento de armas, etc., dos EUA, da NATO e dos seus aliados que estão a ser levados a cabo simultaneamente nos principais pontos geopolíticos, são dirigidos principalmente contra a Rússia e a China,
• A península da Coreia do Norte, o Mar do Japão, o Estreito de Taiwan, o Mar Meridional da China, ameaçam a China.
• O desenvolvimento de mísseis Patriot na Polónia, o centro de alerta rápido na República Checa, ameaçam a Rússia.
• Movimentações navais na Bulgária e Roménia no Mar Negro, ameaçam a Rússia.
• Movimentações de tropas da NATO e dos EUA na Geórgia.
• Um intenso movimento naval no Golfo Pérsico, incluindo submarinos israelitas dirigidos contra o Irão.
Ao mesmo tempo, o Mediterrâneo Oriental, o Mar Negro, o Caribe, a América Central e a região Andina na América do Sul, são zonas de militarização em curso. Na América Latina e no Caribe as ameaças dirigem-se contra a Venezuela e Cuba.
“AJUDA MILITAR” DOS EUA
Por sua vez, transferências de armas em grande escala tiveram lugar sob a bandeira dos EUA como “ajuda militar” a países seleccionados, incluindo 5 mil milhões de dólares num acordo de armamento com a Índia que se destina a melhorar as capacidades da Índia perante a China (Huge U.S.-Índia Arms Deal To Contain China, Global Times, 13 de Julho de 2110).
“[A venda de armas] significará melhorar as relações entre Washington e Nova Deli e, de forma deliberada ou não, terá o efeito de conter a influência da China na região”. (Citado em Rick Rozoff, Confronting both China and Russia: U.S. Risks Military Clash With China In Yellow Sea, Global Research, 16 de Julho de 2010).
Os EUA conseguiram acordos de cooperação com alguns países do sul da Ásia Oriental, como Singapura, Vietname e Indonésia, incluindo a sua “ajuda militar” e a participação em manobras militares dirigidas pelos Estados Unidos na Pacífico (Julho-Agosto de 2010). Estes acordos são de apoio às implementações de armas apontadas à República Popular da China. (Ver Rick Rozoff, Confronting both China and Russia: U.S. Risks Military Clash With China In Yellow Sea, Global Research, 16 de Julho de 2010).
Do mesmo modo, e mais directamente relacionado com o ataque planificado contra o Irão, os EUA estão a armar os Estados do Golfo Pérsico (Bahrein, Kuwait, Qatar e os Emiratos Árabes Unidos) com o interceptor de mísseis terra-ar, Patriot Advanced Capability-3 e a Terminal High Altitude Area Defense (THAAD), bem como as instalações standard de mísseis mar-3 interceptores instalados em navios de guerra da classe Aegis no Golfo Pérsico. (Ver Rozoff Rick, NATO’s Role In The Military Encirclement Of Iran, 10 de Fevereiro de 2010).
CALENDÁRIOS DE ARMAZENAMENTO MILITAR E DE IMPLEMENTAÇÃO
O que é crucial nas transferências de armas dos EUA para os parceiros e aliados é o momento real da entrega e o seu desenvolvimento. O lançamento de uma operação militar patrocinada pelos EUA, ocorreria normalmente quando estes sistemas de armas estejam instalados, depois do efectivo desenvolvimento da aplicação da capacitação do pessoal. (Por exemplo da Índia).
Do que estamos a falar é de um desenho militar mundial, cuidadosamente coordenado e controlado pelo Pentágono, com a participação das forças armadas combinadas de mais de quarenta países. Este desenvolvimento militar multinacional mundial é, no mínimo, o maior desenvolvimento de sistemas de armas avançadas da história.
Por sua vez, os EUA e os seus aliados estabeleceram novas bases militares em diferentes partes do mundo. “A superfície da Terra está estruturada como um enorme campo de batalha”. (Ver Jules Dufour, The Worldwide Network of US Military Bases, Investigación Global, 01 de Julho de 2007).
Comando Unificado da estrutura geográfica dividida em comandos de combate baseia-se numa estratégia de militarização a nível global. “Os militares dos EUA têm bases em 63 países. Há sinais de novas bases militares construídas a partir de 2001 em sete países. No total, há 255.065 militares deslocados dos EUA em todo o mundo”. (Ver Jules Dufour, The Worldwide Network of US Military Bases, Investigación Global, 01 de Julho de 2007).
CENÁRIO DA III GUERRA MUNDIAL
Este desenvolvimento militar dá-se em várias regiões ao mesmo tempo e sob coordenação dos comandos regionais dos EUA, com a participação no armazenamento dos arsenais dos EUA e dos aliados dos EUA, alguns deles seus antigos inimigos, como o Vietname e o Japão.
O contexto actual caracteriza-se por uma acumulação militar global controlada por uma superpotência mundial que utiliza os seus aliados para desencadear numerosas guerras regionais.
Diferentemente da Segunda Guerra Mundial, que também foi uma conjugação de diferentes locais de uma guerra regional, é que com a tecnologia de comunicações e sistemas de armas da década de 40, não havia possibilidades de uma estratégia em “tempo real” para a coordenação das acções militares entre as grandes regiões geográficas.
A guerra mundial baseia-se no desenvolvimento coordenado de uma única potência militar dominante, que supervisiona as acções dos seus aliados e parceiros.
Com excepção de Hiroshima e Nagasaki, a Segunda Guerra Mundial caracterizou-se pelo uso de armas convencionais. Agora a planificação de uma guerra mundial baseia-se na militarização do espaço extra-terrestre.
Se uma guerra contra o Irão tiver lugar, não será só o uso de armas nucleares, mas toda a gama de novos sistemas de armas avançadas, inclusive armas electrométricas e técnicas de alteração ambiental (ENMOD) que se utilizarão.
O CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS
O Conselho de Segurança aprovou no princípio de Junho uma quarta ronda de sanções de amplo alcance contra a República Islâmica do Irão que incluem o embargo de armas e “controlos financeiros mais apertados”.
Numa amarga ironia, esta resolução foi aprovada dias depois da negativa, pura e dura, do Conselho de Segurança das Nações Unidas de adoptar uma moção de condenação de Israel pelo seu ataque à Flotilha pela Liberdade de Gaza em águas internacionais.
Tanto a China como a Rússia, pressionadas pelos Estados Unidos, apoiaram on regime de sanções do CSNU, em prejuízo próprio. A sua decisão no Conselho de Segurança contribui para debilitar a sua própria aliança militar, a Organização de Cooperação de Shangai (OCS), em que o Irão tem o estatuto de observador. A resolução do Conselho de Segurança congela os próprios acordos de cooperação militar e económica entre a China e a Rússia com o Irão. Isto tem graves repercussões no sistema de defesa aérea do Irão, que em parte depende da tecnologia e experiência da Rússia.
A Resolução do Conselho de Segurança, de facto, dá “luz verde” para desencadear uma guerra preventiva contra o Irão.
A INQUISIÇÃO ESTADUNIDENSE: A CONSTRUÇÃODE UM CONSENSO POLÍTICO PARA A GUERRA
Em coro, os media ocidentais qualificaram o Irão como uma ameaça á segurança mundial devido a um suposto (inexistente) programa de armas nucleares. Fazendo eco das declarações oficiais, os meios de comunicação estão agora a exigir a bombardeamentos punitivos dirigidos contra o Irão a fim de salvaguardar Israel.
Os media tocam os tambores da guerra. O objectivo é inculcar na consciência interna das pessoas, através da repetição até à saciedade da publicação de relatórios com a ideia de que a ameaça iraniana é real e que a república islâmica deve ser “expulsa”.
O processo de criação de consenso para a guerra é semelhante à Inquisição espanhola. Procuram a submissão à ideia que a guerra é uma tarefa humanitária.
A verdadeira ameaça à segurança global vem da aliança Estados Unidos-NATO-Israel, no entanto, a realidade num ambiente inquisitorial é ao contrário: os belicistas estão comprometidos com a paz, as vítimas da guerra são apresentadas como os protagonistas da guerra.
Se em 2006 quase dois terços dos estadunidenses se opunham a uma acção militar contra o Irão, segundo uma sondagem recente da Reuter-Zogby, agora uma sondagem indica que 56% dos estadunidenses são a favor de uma acção militar da NATO contra o Irão.
A criação de um consenso político que se baseia numa mentira não pode, no entanto, confiar unicamente nos que são a fonte da mentira.
Os movimentos contra a guerra nos EUA, que em parte já foram infiltrados, assumiram uma posição frouxa em relação ao Irão. O movimento contra a guerra está dividido. A ênfase põe-se nas guerras que já estão a ser feitas (Afeganistão e Iraque) em vez de se oporem com força a guerras em preparação e que se encontram actualmente no estirador do Pentágono.
Desde a posse da administração Obama que o movimento contra a guerra perdeu parte do seu ímpeto.
Por outro lado, os que se opõem activamente contra as guerras do Afeganistão e do Iraque não se opõem necessariamente a “bombardeamentos punitivos” ao Irão nem estes atentados são qualificados como um acto da guerra que poderá ser o prelúdio da Terceira Guerra Mundial.
A escalada de protestos contra a guerra ao Irão tem sido mínima em comparação coma as manifestações massivas que precederam os bombardeamentos de 2003 e a invasão do Iraque.
Diplomaticamente, a operação Irão não teve a oposição da China e da Rússia, mas conta com o apoio dos governos dos Estados árabes de primeira linha que estão integrados no diálogo NATO-Mediterrâneo e conta também com o apoio tácito da opinião pública ocidental.
Fazemos um apelo às pessoas de todos os países, na América, na Europa Ocidental, em Israel, na Turquia e em todo o mundo para que se levantem contra este projecto militar, contra os governos que apoiam a acção militar contra o Irão, contra os meios de comunicação que servem para camuflar as devastadoras consequências de uma guerra contra o Irão.
ESTA GUERRA É UMA LOUCURA
A III Guerra Mundial é terminal. Albert Einstein compreendia os perigos da guerra nuclear e a extinção da vida na Terra, que já começou com a contaminação radioactiva resultante da utilização de urânio empobrecido. “Não sei com que armas se lutará na III Guerra Mundial, mas na IV Guerra Mundial lutar-se-á com paus e pedras”.
Os meios de comunicação, os intelectuais, os cientistas e os políticos, em coro, ofuscam a verdade não contada, a saber, que a guerra que utiliza ogivas nucleares destrói a humanidade, e que este complexo processo de destruição gradual já começou.
QUANDO A MENTIRA SE CONVERTE EM VERDADE JÁ NÃO HÁ VOLTA ATRÁS
Quando a guerra é apresentada como uma tarefa humanitária, a justiça e todo o sistema jurídico internacional estão de pernas para o ar: o pacifismo e o movimento contra a guerra são criminalizados. Opor-se à guerra converte-se num acto criminoso.
A mentira deve ser exposta como aquilo que é e faz.
Aprova a matança indiscriminada de homens, mulheres e crianças.
Destróis famílias e pessoas. Destrói o compromisso das pessoas com os seus semelhantes.
Impede as pessoas de expressarem a sua solidariedade com os que sofrem. Defende a guerra e o estado policial como a única via.
Destrói o internacionalismo.
Romper com a mentira significa romper com um projecto criminosos de destruição global, onde a procura do lucro é a sua força primordial.
Este lucro incentiva a agenda militar, destrói valores humanos e transforma as pessoas em zombis inconscientes.
Vamos inverter a maré.
Desafio aos criminosos de guerra em altos cargos e nas poderosas corporações e grupos de pressão que os apoiam.
Este beneficio impulsando la agenda militar destruye los valores humanos y transforma a la gente en zombis inconscientes.
Fim da inquisição estadunidense.
Fim da cruzada militar Estados Unidos-NATO-Israel.
Encerramento das fábricas de armas e das bases militares.
Retirada das tropas
Os membros das Forças Armadas devem desobedecer às ordens e recusarem-se a participar numa guerra criminosa.
* Michel Chossudowsky, amigo e colaborador de odiario.info, é Professor Emérito da Universidade de Ottawa, Canadá.
sábado, 14 de agosto de 2010
A mentira na História e
a compreensão da crise
Miguel Urbano Rodrigues
16 de Julho de 2010
“Nunca antes a humanidade dispôs de tanta informação; mas em época alguma esteve tão desinformada. Nesta era da informação instantânea, as forças do capital estão conscientes de que a transformação da mentira em verdade é cada vez mais imprescindível à sobrevivência do capitalismo.”
O capitalismo atravessa uma crise estrutural para a qual não encontra soluções.
Para que os povos se mobilizem na luta contra o sistema que os oprime e ameaça já a própria continuidade da vida na Terra, é indispensável a compreensão do funcionamento da monstruosa engrenagem que deforma o real, impondo à humanidade uma História deformada, forjada pelo capitalismo para lhe servir os interesses.
Essa compreensão é extraordinariamente dificultada pela máquina de desinformação mediática controlada pelas grandes transnacionais. Nunca antes a humanidade dispôs de tanta informação; mas em época alguma esteve tão desinformada. Nesta era da informação instantânea, as forças do capital estão conscientes de que a transformação da mentira em verdade é cada vez mais imprescindível à sobrevivência do capitalismo.
A LÓGICA DAS CRISES
No esforço para enganar e confundir os povos, a primeira mentira é inseparável da afirmação categórica, difundida através de um bombardeamento mediático, de que nos EUA irrompera uma grave crise, definida como financeira, resultante de especulações fraudulentas no imobiliário. Obama e os sacerdotes de Wall Street reconheceram a cumplicidade da banca e das seguradoras quando surgiram falências em cadeia, mas garantiram que o tsunami financeiro seria superado através de medidas adequadas. Trataram de ocultar que se estava perante uma crise profunda do capitalismo, de âmbito mundial.
A simulação da surpresa fez parte do jogo.
O Presidente dos EUA e os senhores da finança mentiram conscientemente.
As grandes crises mundiais raramente são previstas e anunciadas com antecedência. Mas quando se produzem não surpreendem. Inserem-se na lógica da História.
Isso aconteceu, por exemplo, após a II Guerra Mundial. A Aliança que fora decisiva para a derrota do III Reich não poderia prolongar-se. Era incompatível com as ambições e o projecto de dominação do capitalismo.
A dimensão da vitória, ao eliminar a Alemanha como grande potência militar e económica, gerou uma situação potencialmente conflitiva.
A partilha dessa dramática herança foi feita, numa atmosfera de aparente cordialidade, nas Conferencias de Teerão e Yalta. Mas, quando os canhões deixaram de disparar, Washington e Londres logo se entenderam para criar tensões incompatíveis com o respeito dos compromissos assumidos.
A Guerra Fria foi uma criação dos EUA e do Reino Unido. Derrotado um inimigo, o fascismo, o imperialismo precisava de inventar outro. A tarefa não exigiu muita imaginação. Os slogans que nas duas décadas anteriores apresentavam o comunismo como ameaça letal à democracia foram rapidamente retomados.
Como os povos estavam sedentos de paz, uma gigantesca campanha de falsificação da História foi desencadeada para persuadir no Ocidente centenas de milhões de pessoas de que a União Soviética configurava um perigo para a humanidade democrática. Essa ofensiva contribuiu decisivamente para dissipar as esperanças geradas pelas Nações Unidas e o discurso humanista sobre uma paz perpétua.
A chamada Guerra Fria nasceu dessa mentira. O famoso discurso de Fulton, quando Churchill carimbou a expressão Cortina de Ferro para caracterizar a imaginária ameaça soviética, foi previamente discutido com a Casa Branca. O medo da «barbárie russa» abriu o caminho à Doutrina Truman e à NATO.
Não foi a URSS quem tomou a iniciativa de romper os acordos assinados pelos vencedores da guerra.
Cabe recordar que, somente após o afastamento dos comunistas dos governos da França e da Itália, os ministros anticomunistas deixaram de integrar governos de países do Leste europeu.
É também significativo que os historiadores norte-americanos e ingleses, com raríssimas excepções, omitam que a implantação de regimes alinhados com a União Soviética se concretizou na Europa sem recurso à força armada enquanto na Grécia – pais situado na zona de influência inglesa – o exército de ocupação britânico desencadeou uma violenta repressão quando os trabalhadores revolucionários estavam prestes a tomar o poder. Foram então abatidos milhares de comunistas gregos para garantir a sobrevivência de uma monarquia apodrecida, mas os media ocidentais ignoraram esses massacres.
O tema era incómodo.
O tão comentado plano russo de «conquista e dominação mundiais» não passa de um mito forjado em Washington e Londres para criar o alarme e o medo propícios à criação da NATO como «aliança defensiva» capaz de se opor «à subversão comunista». E a arma atómica passou a ser usada como instrumento de chantagem.
Na realidade, a URSS, a quem a guerra custara mais de 20 milhões de mortos (a maioria homens de menos de 30 anos), precisava desesperadamente de paz para se reconstruir. As hordas nazis tinham devastado as zonas mais desenvolvidas e industrializadas do país. Como poderia desejar a guerra e promover o «expansionismo comunista» uma sociedade nessas condições?
A agressividade vinha toda dos EUA que tinham sido enriquecidos por uma guerra que não atingiu o seu território e na qual as suas forças armadas sofreram perdas muito inferiores às do seu aliado britânico.
A Grã-Bretanha, cujo império principiava a desfazer-se, ligou, porém, o seu destino ao colosso americano. Os elogios ao aliado russo, antes frequentes, foram substituídos por insultos e calúnias. Aos jovens de hoje parece quase inacreditável que Churchill, o inventor da Cortina de Ferro, meses antes do final da guerra, tenha afirmado «não conheço outro governo que cumpra os seus compromissos (…) mais solidamente do que o governo soviético russo. Recuso-me absolutamente a travar aqui uma discussão sobre a boa fé russa» (Citado por Isaac Deutscher em Ironias da História, pag 184, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro 1968).
Assim falava o primeiro ministro do Reino Unido pouco antes de transformar o aliado que tanto admirava em ogre que ameaçava o mundo…
MESMA HIPOCRISIA
NUMA CRISE MUITO DIFERENTE
Desagregada a União Soviética e implantado o capitalismo na Rússia, o imperialismo sentiu a necessidade de reinventar inimigos para justificar novas guerras. E eles foram rapidamente fabricados. Surgiu assim «o eixo do mal». Pequenos países como Cuba, o Iraque e a Coreia do Norte, metamorfoseados em potências agressoras, foram apresentados como «ameaça à segurança» dos EUA e dos seus aliados. Um homem, Osama Bin Laden, foi guindado a «inimigo número um» dos EUA. O Afeganistão, onde supostamente se encontrava, foi invadido, vandalizado e ocupado. Bin Laden, aliás, não foi sequer localizado. Permanece vivo, em lugar desconhecido. Mas a sua organização, a fantasmática Al Qaeda, é responsabilizada como a fonte do terrorismo mundial.
Seguiu-se o Iraque. Durante meses, a máquina mediática dos EUA inundou o mundo com notícias sobre «as armas de extinção massiva» que Sadam Hussein teria acumulado para agredir a humanidade. O secretário de Estado Colin Powell declarou perante o Conselho de Segurança da ONU que Washington tinha provas da existência desse arsenal de terror. O britânico Tony Blair garantiu que também dispunha dessas provas.
O Iraque foi invadido, destruído, saqueado e, tal como o Afeganistão, permanece ocupado. Mas Bush e Blair acabaram por reconhecer que, afinal, as tais armas de extinção massiva não existiam.
Entretanto, o complexo militar industrial dos EUA agigantou-se. O Orçamento de Defesa do país é o maior da História.
Agora chegou a vez do Irão. O berço de uma das mais importantes civilizações criadas pela Humanidade é a mais recente ameaça à «segurança dos EUA». A Agencia Internacional de Segurança Atómica não conseguiu encontrar qualquer prova de que o país esteja a utilizar as suas instalações nucleares com o objectivo de produzir armas atómicas. Com o aval do Brasil e da Turquia, o governo de Ahmanidejah comprometeu-se a que o seu urânio seja enriquecido no exterior com fins pacíficos. Mas Washington acaba de impor, através do Conselho de Segurança da ONU, novas sanções a Teerão. Mais: o presidente dos EUA ameaçou já utilizar armas atómicas tácticas contra o país se ele não se submeter a todas as suas exigências.
Isto acontece quando Obama se viu forçado a demitir o comandante-chefe norte-americano no Afeganistão na sequência de uma entrevista na qual o general Mc Chrystal – aliás um criminoso de guerra – (v. artigo de John Catalinotto em odiario.info, 12.7.2010) criticou duramente o Presidente e esboçou um panorama desastroso da política da Casa Branca na Região.
ENTRE A FARSA E A TRAGÉDIA
Diariamente, os grandes media norte-americanos repetem que a crise foi praticamente superada nos EUA graças às medidas tomadas pela Administração Obama. É outra grande mentira. A taxa de desemprego mantém-se inalterada e a situação de dezenas de milhões de famílias é crítica. É suficiente ler os artigos sobre o tema de Prémios Nobel da Economia, aliás empenhados na salvação do capitalismo – Joseph Stiglitz e Paul Krugman, por exemplo – para se compreender que a situação, longe de melhorar, pode eventualmente agravar-se.
Não é a taxa do PIB que lhe define o rumo, porque a crise, global, é do sistema e não apenas financeira.
Os discursos do Presidente contribuem para confundir os cidadãos em vez de os esclarecer. Persistem contradições entre a Casa Branca e a finança. Mas elas resultam de os senhores de Wall Street e os chairman das grandes transnacionais considerarem insuficientes as medidas da Administração que os beneficiaram. Pretendem voltar a ter as mãos totalmente livres.
A retórica presidencial não pode esconder que a estratégia de Obama visou no fundamental salvar e não punir os responsáveis por uma crise que adquiriu rapidamente proporções mundiais.
As empresas acumulam novamente lucros fabulosos enquanto os trabalhadores apertam o cinto. A desigualdade social aumenta e os banqueiros, driblando decisões do Congresso, continuam a atribuir-se prémios principescos.
O grande capital resiste aliás, com o apoio firme do Partido Republicano, a todas as medidas de carácter social, na maioria tímidas – como a reforma do sistema de saúde – que a Administração adopta (ver artigo de John Bellamy Forster, odiario.info, 13.7.2º10).
É cada vez mais transparente que estamos perante uma crise do capitalismo, sem solução previsível, embora a esmagadora maioria da humanidade não tenho tomado consciência dessa realidade.
A tentação de ampliar a escalada militar na Ásia como saída «salvadora» é muito forte, mas no próprio Pentágono generais influentes temem as consequências de um ataque ao Irão. A invasão terrestre está excluída e o bombardeamento com armas convencionais de alvos estratégicos não produziria outro efeito que não fosse uma gigantesca vaga de anti-americanisno no mundo muçulmano.
O recurso a armas nucleares tácticas é a opção de uma minoria. Essa hipótese tem sido admitida por destacadas personalidades internacionais, mas não se me afigura que possa concretizar-se.
Não obstante a vassalagem dos governos da União Europeia e do Japão, os povos condenariam massivamente uma repetição do genocídio de Hiroshima. Seria o prólogo de uma tragédia cujo desfecho poderia ser a extinção da humanidade.
Retomo assim a afirmação do início, tema desta reflexão. A mentira na História dificulta extraordinariamente a compreensão da crise de civilização que o homem enfrenta.
Serpa, Julho de 2010
a compreensão da crise
Miguel Urbano Rodrigues
16 de Julho de 2010
“Nunca antes a humanidade dispôs de tanta informação; mas em época alguma esteve tão desinformada. Nesta era da informação instantânea, as forças do capital estão conscientes de que a transformação da mentira em verdade é cada vez mais imprescindível à sobrevivência do capitalismo.”
O capitalismo atravessa uma crise estrutural para a qual não encontra soluções.
Para que os povos se mobilizem na luta contra o sistema que os oprime e ameaça já a própria continuidade da vida na Terra, é indispensável a compreensão do funcionamento da monstruosa engrenagem que deforma o real, impondo à humanidade uma História deformada, forjada pelo capitalismo para lhe servir os interesses.
Essa compreensão é extraordinariamente dificultada pela máquina de desinformação mediática controlada pelas grandes transnacionais. Nunca antes a humanidade dispôs de tanta informação; mas em época alguma esteve tão desinformada. Nesta era da informação instantânea, as forças do capital estão conscientes de que a transformação da mentira em verdade é cada vez mais imprescindível à sobrevivência do capitalismo.
A LÓGICA DAS CRISES
No esforço para enganar e confundir os povos, a primeira mentira é inseparável da afirmação categórica, difundida através de um bombardeamento mediático, de que nos EUA irrompera uma grave crise, definida como financeira, resultante de especulações fraudulentas no imobiliário. Obama e os sacerdotes de Wall Street reconheceram a cumplicidade da banca e das seguradoras quando surgiram falências em cadeia, mas garantiram que o tsunami financeiro seria superado através de medidas adequadas. Trataram de ocultar que se estava perante uma crise profunda do capitalismo, de âmbito mundial.
A simulação da surpresa fez parte do jogo.
O Presidente dos EUA e os senhores da finança mentiram conscientemente.
As grandes crises mundiais raramente são previstas e anunciadas com antecedência. Mas quando se produzem não surpreendem. Inserem-se na lógica da História.
Isso aconteceu, por exemplo, após a II Guerra Mundial. A Aliança que fora decisiva para a derrota do III Reich não poderia prolongar-se. Era incompatível com as ambições e o projecto de dominação do capitalismo.
A dimensão da vitória, ao eliminar a Alemanha como grande potência militar e económica, gerou uma situação potencialmente conflitiva.
A partilha dessa dramática herança foi feita, numa atmosfera de aparente cordialidade, nas Conferencias de Teerão e Yalta. Mas, quando os canhões deixaram de disparar, Washington e Londres logo se entenderam para criar tensões incompatíveis com o respeito dos compromissos assumidos.
A Guerra Fria foi uma criação dos EUA e do Reino Unido. Derrotado um inimigo, o fascismo, o imperialismo precisava de inventar outro. A tarefa não exigiu muita imaginação. Os slogans que nas duas décadas anteriores apresentavam o comunismo como ameaça letal à democracia foram rapidamente retomados.
Como os povos estavam sedentos de paz, uma gigantesca campanha de falsificação da História foi desencadeada para persuadir no Ocidente centenas de milhões de pessoas de que a União Soviética configurava um perigo para a humanidade democrática. Essa ofensiva contribuiu decisivamente para dissipar as esperanças geradas pelas Nações Unidas e o discurso humanista sobre uma paz perpétua.
A chamada Guerra Fria nasceu dessa mentira. O famoso discurso de Fulton, quando Churchill carimbou a expressão Cortina de Ferro para caracterizar a imaginária ameaça soviética, foi previamente discutido com a Casa Branca. O medo da «barbárie russa» abriu o caminho à Doutrina Truman e à NATO.
Não foi a URSS quem tomou a iniciativa de romper os acordos assinados pelos vencedores da guerra.
Cabe recordar que, somente após o afastamento dos comunistas dos governos da França e da Itália, os ministros anticomunistas deixaram de integrar governos de países do Leste europeu.
É também significativo que os historiadores norte-americanos e ingleses, com raríssimas excepções, omitam que a implantação de regimes alinhados com a União Soviética se concretizou na Europa sem recurso à força armada enquanto na Grécia – pais situado na zona de influência inglesa – o exército de ocupação britânico desencadeou uma violenta repressão quando os trabalhadores revolucionários estavam prestes a tomar o poder. Foram então abatidos milhares de comunistas gregos para garantir a sobrevivência de uma monarquia apodrecida, mas os media ocidentais ignoraram esses massacres.
O tema era incómodo.
O tão comentado plano russo de «conquista e dominação mundiais» não passa de um mito forjado em Washington e Londres para criar o alarme e o medo propícios à criação da NATO como «aliança defensiva» capaz de se opor «à subversão comunista». E a arma atómica passou a ser usada como instrumento de chantagem.
Na realidade, a URSS, a quem a guerra custara mais de 20 milhões de mortos (a maioria homens de menos de 30 anos), precisava desesperadamente de paz para se reconstruir. As hordas nazis tinham devastado as zonas mais desenvolvidas e industrializadas do país. Como poderia desejar a guerra e promover o «expansionismo comunista» uma sociedade nessas condições?
A agressividade vinha toda dos EUA que tinham sido enriquecidos por uma guerra que não atingiu o seu território e na qual as suas forças armadas sofreram perdas muito inferiores às do seu aliado britânico.
A Grã-Bretanha, cujo império principiava a desfazer-se, ligou, porém, o seu destino ao colosso americano. Os elogios ao aliado russo, antes frequentes, foram substituídos por insultos e calúnias. Aos jovens de hoje parece quase inacreditável que Churchill, o inventor da Cortina de Ferro, meses antes do final da guerra, tenha afirmado «não conheço outro governo que cumpra os seus compromissos (…) mais solidamente do que o governo soviético russo. Recuso-me absolutamente a travar aqui uma discussão sobre a boa fé russa» (Citado por Isaac Deutscher em Ironias da História, pag 184, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro 1968).
Assim falava o primeiro ministro do Reino Unido pouco antes de transformar o aliado que tanto admirava em ogre que ameaçava o mundo…
MESMA HIPOCRISIA
NUMA CRISE MUITO DIFERENTE
Desagregada a União Soviética e implantado o capitalismo na Rússia, o imperialismo sentiu a necessidade de reinventar inimigos para justificar novas guerras. E eles foram rapidamente fabricados. Surgiu assim «o eixo do mal». Pequenos países como Cuba, o Iraque e a Coreia do Norte, metamorfoseados em potências agressoras, foram apresentados como «ameaça à segurança» dos EUA e dos seus aliados. Um homem, Osama Bin Laden, foi guindado a «inimigo número um» dos EUA. O Afeganistão, onde supostamente se encontrava, foi invadido, vandalizado e ocupado. Bin Laden, aliás, não foi sequer localizado. Permanece vivo, em lugar desconhecido. Mas a sua organização, a fantasmática Al Qaeda, é responsabilizada como a fonte do terrorismo mundial.
Seguiu-se o Iraque. Durante meses, a máquina mediática dos EUA inundou o mundo com notícias sobre «as armas de extinção massiva» que Sadam Hussein teria acumulado para agredir a humanidade. O secretário de Estado Colin Powell declarou perante o Conselho de Segurança da ONU que Washington tinha provas da existência desse arsenal de terror. O britânico Tony Blair garantiu que também dispunha dessas provas.
O Iraque foi invadido, destruído, saqueado e, tal como o Afeganistão, permanece ocupado. Mas Bush e Blair acabaram por reconhecer que, afinal, as tais armas de extinção massiva não existiam.
Entretanto, o complexo militar industrial dos EUA agigantou-se. O Orçamento de Defesa do país é o maior da História.
Agora chegou a vez do Irão. O berço de uma das mais importantes civilizações criadas pela Humanidade é a mais recente ameaça à «segurança dos EUA». A Agencia Internacional de Segurança Atómica não conseguiu encontrar qualquer prova de que o país esteja a utilizar as suas instalações nucleares com o objectivo de produzir armas atómicas. Com o aval do Brasil e da Turquia, o governo de Ahmanidejah comprometeu-se a que o seu urânio seja enriquecido no exterior com fins pacíficos. Mas Washington acaba de impor, através do Conselho de Segurança da ONU, novas sanções a Teerão. Mais: o presidente dos EUA ameaçou já utilizar armas atómicas tácticas contra o país se ele não se submeter a todas as suas exigências.
Isto acontece quando Obama se viu forçado a demitir o comandante-chefe norte-americano no Afeganistão na sequência de uma entrevista na qual o general Mc Chrystal – aliás um criminoso de guerra – (v. artigo de John Catalinotto em odiario.info, 12.7.2010) criticou duramente o Presidente e esboçou um panorama desastroso da política da Casa Branca na Região.
ENTRE A FARSA E A TRAGÉDIA
Diariamente, os grandes media norte-americanos repetem que a crise foi praticamente superada nos EUA graças às medidas tomadas pela Administração Obama. É outra grande mentira. A taxa de desemprego mantém-se inalterada e a situação de dezenas de milhões de famílias é crítica. É suficiente ler os artigos sobre o tema de Prémios Nobel da Economia, aliás empenhados na salvação do capitalismo – Joseph Stiglitz e Paul Krugman, por exemplo – para se compreender que a situação, longe de melhorar, pode eventualmente agravar-se.
Não é a taxa do PIB que lhe define o rumo, porque a crise, global, é do sistema e não apenas financeira.
Os discursos do Presidente contribuem para confundir os cidadãos em vez de os esclarecer. Persistem contradições entre a Casa Branca e a finança. Mas elas resultam de os senhores de Wall Street e os chairman das grandes transnacionais considerarem insuficientes as medidas da Administração que os beneficiaram. Pretendem voltar a ter as mãos totalmente livres.
A retórica presidencial não pode esconder que a estratégia de Obama visou no fundamental salvar e não punir os responsáveis por uma crise que adquiriu rapidamente proporções mundiais.
As empresas acumulam novamente lucros fabulosos enquanto os trabalhadores apertam o cinto. A desigualdade social aumenta e os banqueiros, driblando decisões do Congresso, continuam a atribuir-se prémios principescos.
O grande capital resiste aliás, com o apoio firme do Partido Republicano, a todas as medidas de carácter social, na maioria tímidas – como a reforma do sistema de saúde – que a Administração adopta (ver artigo de John Bellamy Forster, odiario.info, 13.7.2º10).
É cada vez mais transparente que estamos perante uma crise do capitalismo, sem solução previsível, embora a esmagadora maioria da humanidade não tenho tomado consciência dessa realidade.
A tentação de ampliar a escalada militar na Ásia como saída «salvadora» é muito forte, mas no próprio Pentágono generais influentes temem as consequências de um ataque ao Irão. A invasão terrestre está excluída e o bombardeamento com armas convencionais de alvos estratégicos não produziria outro efeito que não fosse uma gigantesca vaga de anti-americanisno no mundo muçulmano.
O recurso a armas nucleares tácticas é a opção de uma minoria. Essa hipótese tem sido admitida por destacadas personalidades internacionais, mas não se me afigura que possa concretizar-se.
Não obstante a vassalagem dos governos da União Europeia e do Japão, os povos condenariam massivamente uma repetição do genocídio de Hiroshima. Seria o prólogo de uma tragédia cujo desfecho poderia ser a extinção da humanidade.
Retomo assim a afirmação do início, tema desta reflexão. A mentira na História dificulta extraordinariamente a compreensão da crise de civilização que o homem enfrenta.
Serpa, Julho de 2010
terça-feira, 27 de julho de 2010
FEDERAÇÃO NACIONAL
DOS MÉDICOS
........-COMUNICADO
A revisão constitucional como pretexto para a destruição dos direitos sociais
De entre todos os sectores de actividade do nosso país, a Saúde foi o único que nos colocou nos primeiros lugares mundiais quanto ao índice global de desempenho (12º lugar) na base de indicadores concretos analisados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Em 36 anos de Democracia, a realização social e humanista mais marcante na nossa sociedade foi o Serviço Nacional de Saúde (SNS), constituindo um marco de desenvolvimento civilizacional.
O SNS conseguiu alterar todos os indicadores de saúde e colocar o nosso país ao nível dos países mais desenvolvidos. A título de exemplo, basta ter presente que em 1970 a mortalidade infantil era de 58,6 por mil e há 1 ano atrás era pouco superior a 4 por mil. E quanto ao indicador da mortalidade materna, o nosso país era o 8º a nível mundial quanto ao menor número de mortes, 4 por cada 100.000 nascimentos.
Em termos de custos globais, o nosso país é, a nível europeu, dos que tem menores gastos per capita e em toda a E.U. é aquele que tem menor percentagem de despesas públicas no total das despesas nacionais de saúde, ligeiramente acima de 50%.
Ora, é neste elucidativo quadro que surgiu nos últimos dias a divulgação de extractos de uma proposta de revisão constitucional da autoria da nova direcção política do PSD.
De acordo com as notícias publicadas, essa proposta pretende, entre outros aspectos, eliminar a Escola Pública, permitir os despedimentos arbitrários e liquidar o SNS.
No caso do SNS é colocada a questão de eliminar o princípio do “tendencialmente gratuito”, acrescentando que “em caso algum o acesso pode ser recusado por insuficiência de meios económicos”.
Desde logo, é imperioso sublinhar a falta de seriedade política do argumento sobre a suposta gratuitidade dos cuidados de saúde, quando todos sabemos que os serviços públicos são financiados através da carga fiscal aplicada aos cidadãos e que por esta via é desenvolvido o esforço solidário entre os vários sectores sociais em função dos seus rendimentos.
Por outro lado, como é possível fazer prova de insuficiência de meios económicos?
Esta abordagem faz-nos retornar dramaticamente à década de 1960 em que os cidadãos tinham de apresentar um atestado de indigência passado pelas Juntas de Freguesia para ficarem isentos do pagamento dos cuidados ou dos internamentos nos poucos hospitais públicos então existentes.
Em todos os países onde foram implementadas políticas de privatização e de mercantilização da Saúde, este tipo de argumentação foi utilizado e conduziu à criação de uma saúde dependente dos rendimentos de cada um.
Quando nos encontramos no meio de uma grave crise politica, social e económica devido ao desenvolvimento de políticas viradas para a mercantilização da vida humana, é inacreditável que um partido político que tem particulares responsabilidades no nosso regime democrático e que tem alternado no exercício da acção governamental tome a iniciativa de tentar impor, de forma ainda mais radical, essas mesmas políticas.
Num momento tão delicado como este, é assustador que haja quem tome como prioridade a revisão constitucional para liquidar o que ainda resta das políticas públicas e sociais.
Todos nós sabemos que existem múltiplos constrangimentos na capacidade de resposta dos serviços públicos de saúde e na acessibilidade aos cuidados.
A FNAM tem efectuado, desde sempre, muitas denúncias sobre casos concretos dessas situações e da incompetência e impunidade gestionária de muitas administrações nomeadas pelas sucessivas tutelas ministeriais.
No entanto, há que ter bem presente que o SNS tem desempenhado um papel insubstituível na garantia da coesão social da população do nosso país, resolvendo os problemas essenciais da saúde da nossa população.
Decidimos adoptar esta posição pública na defesa do SNS tendo bem presente que os direitos sociais não podem ser objecto de negócios aviltantes para os cidadãos.
As propostas apresentadas constituem a mais chocante declaração até hoje efectuada no nosso regime democrático quanto à transformação do direito à saúde num qualquer bem de consumo sujeito às leis da oferta e da procura.
Com medidas destas não estamos somente a regredir no plano civilizacional, mas a enveredar por concepções de barbárie social e política.
A vida humana e a saúde, como sinónimo do seu equilíbrio, não podem estar dependentes dos negócios e de negociantes.
22/7/2010
A Comissão Executiva da FNAM
DOS MÉDICOS
........-COMUNICADO
A revisão constitucional como pretexto para a destruição dos direitos sociais
De entre todos os sectores de actividade do nosso país, a Saúde foi o único que nos colocou nos primeiros lugares mundiais quanto ao índice global de desempenho (12º lugar) na base de indicadores concretos analisados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Em 36 anos de Democracia, a realização social e humanista mais marcante na nossa sociedade foi o Serviço Nacional de Saúde (SNS), constituindo um marco de desenvolvimento civilizacional.
O SNS conseguiu alterar todos os indicadores de saúde e colocar o nosso país ao nível dos países mais desenvolvidos. A título de exemplo, basta ter presente que em 1970 a mortalidade infantil era de 58,6 por mil e há 1 ano atrás era pouco superior a 4 por mil. E quanto ao indicador da mortalidade materna, o nosso país era o 8º a nível mundial quanto ao menor número de mortes, 4 por cada 100.000 nascimentos.
Em termos de custos globais, o nosso país é, a nível europeu, dos que tem menores gastos per capita e em toda a E.U. é aquele que tem menor percentagem de despesas públicas no total das despesas nacionais de saúde, ligeiramente acima de 50%.
Ora, é neste elucidativo quadro que surgiu nos últimos dias a divulgação de extractos de uma proposta de revisão constitucional da autoria da nova direcção política do PSD.
De acordo com as notícias publicadas, essa proposta pretende, entre outros aspectos, eliminar a Escola Pública, permitir os despedimentos arbitrários e liquidar o SNS.
No caso do SNS é colocada a questão de eliminar o princípio do “tendencialmente gratuito”, acrescentando que “em caso algum o acesso pode ser recusado por insuficiência de meios económicos”.
Desde logo, é imperioso sublinhar a falta de seriedade política do argumento sobre a suposta gratuitidade dos cuidados de saúde, quando todos sabemos que os serviços públicos são financiados através da carga fiscal aplicada aos cidadãos e que por esta via é desenvolvido o esforço solidário entre os vários sectores sociais em função dos seus rendimentos.
Por outro lado, como é possível fazer prova de insuficiência de meios económicos?
Esta abordagem faz-nos retornar dramaticamente à década de 1960 em que os cidadãos tinham de apresentar um atestado de indigência passado pelas Juntas de Freguesia para ficarem isentos do pagamento dos cuidados ou dos internamentos nos poucos hospitais públicos então existentes.
Em todos os países onde foram implementadas políticas de privatização e de mercantilização da Saúde, este tipo de argumentação foi utilizado e conduziu à criação de uma saúde dependente dos rendimentos de cada um.
Quando nos encontramos no meio de uma grave crise politica, social e económica devido ao desenvolvimento de políticas viradas para a mercantilização da vida humana, é inacreditável que um partido político que tem particulares responsabilidades no nosso regime democrático e que tem alternado no exercício da acção governamental tome a iniciativa de tentar impor, de forma ainda mais radical, essas mesmas políticas.
Num momento tão delicado como este, é assustador que haja quem tome como prioridade a revisão constitucional para liquidar o que ainda resta das políticas públicas e sociais.
Todos nós sabemos que existem múltiplos constrangimentos na capacidade de resposta dos serviços públicos de saúde e na acessibilidade aos cuidados.
A FNAM tem efectuado, desde sempre, muitas denúncias sobre casos concretos dessas situações e da incompetência e impunidade gestionária de muitas administrações nomeadas pelas sucessivas tutelas ministeriais.
No entanto, há que ter bem presente que o SNS tem desempenhado um papel insubstituível na garantia da coesão social da população do nosso país, resolvendo os problemas essenciais da saúde da nossa população.
Decidimos adoptar esta posição pública na defesa do SNS tendo bem presente que os direitos sociais não podem ser objecto de negócios aviltantes para os cidadãos.
As propostas apresentadas constituem a mais chocante declaração até hoje efectuada no nosso regime democrático quanto à transformação do direito à saúde num qualquer bem de consumo sujeito às leis da oferta e da procura.
Com medidas destas não estamos somente a regredir no plano civilizacional, mas a enveredar por concepções de barbárie social e política.
A vida humana e a saúde, como sinónimo do seu equilíbrio, não podem estar dependentes dos negócios e de negociantes.
22/7/2010
A Comissão Executiva da FNAM
quinta-feira, 24 de junho de 2010
quinta-feira, 10 de junho de 2010
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Aos órgãos de informação:
Polónia: PCP entrega carta na embaixada e participa em
comício de solidariedade contra medidas anti-democráticas
O Secretariado do Comité Central do PCP, perante a anunciada implementação na Polónia, no dia 8 de Junho, da lei que proíbe a utilização de “símbolos comunistas”, entregou hoje na Embaixada da República da Polónia em Lisboa uma carta onde manifesta inquietação face às «notícias que dão conta do reforço da campanha de cariz anti-comunista na Polónia, por via da anunciada implementação de medidas que limitam gravemente os direitos elementares de liberdade de expressão e opinião, nomeadamente, a lei que visa a proibição e a penalização do uso dos símbolos comunistas – equiparando-os, inclusive, à simbologia e propaganda nazi –, cuja entrada em vigor está prevista para o dia 8 de Junho».
O Secretariado do CC do PCP considera na carta que tais medidas «constituindo uma violação flagrante das garantias e princípios democráticos básicos dos cidadãos, configuram igualmente uma inaceitável forma de intimidação e pressão, representando uma gravosa manifestação do mais primário anti-comunismo» e, manifestando ««constituindo uma violação flagrante das garantias e princípios democráticos básicos dos cidadãos, configuram igualmente uma inaceitável forma de intimidação e pressão, representando uma gravosa manifestação do mais primário anti-comunismo» exige das «Entidades responsáveis da República da Polónia a sua abolição e o respeito pela liberdade e a democracia» e associa-se a «todos quantos lutam pela democracia, o progresso social e o socialismo, unindo-se às inúmeras vozes que na Europa e no Mundo têm expressado a sua indignação e denunciado a escalada anti-comunista e anti-democrática patente na Polónia».
Assim, no âmbito das suas relações internacionais e no plano da luta de variados Partidos Comunistas contra este ataque às liberdades e à democracia na Polónia, o PCP participará amanhã, em Varsóvia, a convite do Partido Comunista da Polónia, num comício internacional de protesto contra as medidas anti-democráticas adoptadas, fazendo-se representar por João Ferreira, deputado ao Parlamento Europeu.
07.06.10
Polónia: PCP entrega carta na embaixada e participa em
comício de solidariedade contra medidas anti-democráticas
O Secretariado do Comité Central do PCP, perante a anunciada implementação na Polónia, no dia 8 de Junho, da lei que proíbe a utilização de “símbolos comunistas”, entregou hoje na Embaixada da República da Polónia em Lisboa uma carta onde manifesta inquietação face às «notícias que dão conta do reforço da campanha de cariz anti-comunista na Polónia, por via da anunciada implementação de medidas que limitam gravemente os direitos elementares de liberdade de expressão e opinião, nomeadamente, a lei que visa a proibição e a penalização do uso dos símbolos comunistas – equiparando-os, inclusive, à simbologia e propaganda nazi –, cuja entrada em vigor está prevista para o dia 8 de Junho».
O Secretariado do CC do PCP considera na carta que tais medidas «constituindo uma violação flagrante das garantias e princípios democráticos básicos dos cidadãos, configuram igualmente uma inaceitável forma de intimidação e pressão, representando uma gravosa manifestação do mais primário anti-comunismo» e, manifestando ««constituindo uma violação flagrante das garantias e princípios democráticos básicos dos cidadãos, configuram igualmente uma inaceitável forma de intimidação e pressão, representando uma gravosa manifestação do mais primário anti-comunismo» exige das «Entidades responsáveis da República da Polónia a sua abolição e o respeito pela liberdade e a democracia» e associa-se a «todos quantos lutam pela democracia, o progresso social e o socialismo, unindo-se às inúmeras vozes que na Europa e no Mundo têm expressado a sua indignação e denunciado a escalada anti-comunista e anti-democrática patente na Polónia».
Assim, no âmbito das suas relações internacionais e no plano da luta de variados Partidos Comunistas contra este ataque às liberdades e à democracia na Polónia, o PCP participará amanhã, em Varsóvia, a convite do Partido Comunista da Polónia, num comício internacional de protesto contra as medidas anti-democráticas adoptadas, fazendo-se representar por João Ferreira, deputado ao Parlamento Europeu.
07.06.10
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Este Homem, Daniel Cohn Bendit, Continua a Ser Um dos Meus Gurus!
(Em Portugal Não Há Esta Esquerda! Raios…)
(Em Portugal Não Há Esta Esquerda! Raios…)
Ah como seria fácil ao Dany Le Rouge fazer o discurso fácil do sr Anacleto Louçã, ou o do sr Bernardino Soares….A crise é do Capitalismo, matemos o Capitalismo!
Tão fácil!
Só que matando o Capitalismo estariamos, mais uma vez, a deitar a água fora com o bebé lá dentro e não a salvar o bebé.
Tal qual sucedeu na “revolução” russa de 1917,…
E no caminho que alguma Esquerda seguiu e ainda segue…
Nesta crise ainda não vi um discurso sério dessa Esquerda….ataques violentos ao governo eu vi.
Ataques violentos à Direita eu vi.
Mas a critica séria, necessária, pedagógica, saudável, ao consumismo, que foi a vida dos Cidadãos e das Cidadãs destes últimos 24 anos eu não vi.
A critica séria ao Desperdício, ao desastre ambiental, ao desgaste sistemático das Pessoas em Portugal, eu não vi.
Porque se pensa, nesta Esquerda, que se “compram” as almas das pessoas com mais e mais salário, mais e mais consumo, mais e mais despesismo, mais e mais telemóveis, nikes, jeans de todo o tipo, habitação de férias, 2º e 3º automóvel, etc, etc, etc.
Esquecendo que o Trabalho não é uma seca mas um Acto Dignificante uma Razão de Orgulho, uma exigência quotidiana de mais e mais Participação, Democracia e Justiça Social.
Esquecendo que para haver Riqueza tem de haver mais Produtividade e mais Distribuição da mesma, assim como do resultado da Produtividade, assim como mais reflexão colectiva sobre a aplicação dos ganhos obtidos.
Esquecendo que a Riqueza de hoje não pode não deve significar o delapidar do potencial natural para o Amanhã que tem de existir.
Esquecendo que a Democracia não se faz sem sacrifício, que a Justiça Social não se obtém sem sacrifício.
Com luta sim, claro, mas com sacrifício.
E com uma luta coerente com o que se defende e não com o consumismo selvático que domina esta parte rica do Planeta, e este país também, onde se compra primeiro a nike, depois a nike e a seguir a nike (que é feita por quem ganha uma malga de arroz por dia, e nós esquecemos que tal suceda, como é no Vietname, no comunista Vietname), e só muito mas mesmo muito, garantidamente muito, depois, se pensa num livro, numa acção de formação, numa qualificação escolar e profissional.
Porque esta Esquerda nem sabe o que isso é, lamentavelmente, ou se sabe, não acredita em tal.
Porque vive no absurdo de achar que em Portugal, num país com a distribuição socio eleitoral que temos o ideal, a Esquerda na Educação, está na escola publica! Escola publica entendida como escola do Estado!
Onde é que tal é possível ter existido?
Na URSS, na RP da China, etc, viu-se o resultado – o reeditar da cultura dominante feita por quem tem o Saber - os que dominam.
Com alguns dominados de permeio para dar o colorido necessário à coisa.
Porque vive também com esta absurda ideia de encontrar na economia publica, estatizada – o Socialismo!
Esquecendo as cooperativas, o associativismo, o mutualismo, o auto gestionarismo.
Coitado do Marx que tanto escreveu contra tal visão – o Estado todo salvador !
Vejam por isso o vídeo abaixo, uma intervenção de Dany Le Rouge no Parlamento Europeu.
E aprendam o que é a Esquerda Hoje.
Aquela Esquerda que começa a nascer.
Aquela Esquerda que é impossível que exista, ainda, em Portugal, hoje.
Joffre Justino
(Director Pedagógico)
Tão fácil!
Só que matando o Capitalismo estariamos, mais uma vez, a deitar a água fora com o bebé lá dentro e não a salvar o bebé.
Tal qual sucedeu na “revolução” russa de 1917,…
E no caminho que alguma Esquerda seguiu e ainda segue…
Nesta crise ainda não vi um discurso sério dessa Esquerda….ataques violentos ao governo eu vi.
Ataques violentos à Direita eu vi.
Mas a critica séria, necessária, pedagógica, saudável, ao consumismo, que foi a vida dos Cidadãos e das Cidadãs destes últimos 24 anos eu não vi.
A critica séria ao Desperdício, ao desastre ambiental, ao desgaste sistemático das Pessoas em Portugal, eu não vi.
Porque se pensa, nesta Esquerda, que se “compram” as almas das pessoas com mais e mais salário, mais e mais consumo, mais e mais despesismo, mais e mais telemóveis, nikes, jeans de todo o tipo, habitação de férias, 2º e 3º automóvel, etc, etc, etc.
Esquecendo que o Trabalho não é uma seca mas um Acto Dignificante uma Razão de Orgulho, uma exigência quotidiana de mais e mais Participação, Democracia e Justiça Social.
Esquecendo que para haver Riqueza tem de haver mais Produtividade e mais Distribuição da mesma, assim como do resultado da Produtividade, assim como mais reflexão colectiva sobre a aplicação dos ganhos obtidos.
Esquecendo que a Riqueza de hoje não pode não deve significar o delapidar do potencial natural para o Amanhã que tem de existir.
Esquecendo que a Democracia não se faz sem sacrifício, que a Justiça Social não se obtém sem sacrifício.
Com luta sim, claro, mas com sacrifício.
E com uma luta coerente com o que se defende e não com o consumismo selvático que domina esta parte rica do Planeta, e este país também, onde se compra primeiro a nike, depois a nike e a seguir a nike (que é feita por quem ganha uma malga de arroz por dia, e nós esquecemos que tal suceda, como é no Vietname, no comunista Vietname), e só muito mas mesmo muito, garantidamente muito, depois, se pensa num livro, numa acção de formação, numa qualificação escolar e profissional.
Porque esta Esquerda nem sabe o que isso é, lamentavelmente, ou se sabe, não acredita em tal.
Porque vive no absurdo de achar que em Portugal, num país com a distribuição socio eleitoral que temos o ideal, a Esquerda na Educação, está na escola publica! Escola publica entendida como escola do Estado!
Onde é que tal é possível ter existido?
Na URSS, na RP da China, etc, viu-se o resultado – o reeditar da cultura dominante feita por quem tem o Saber - os que dominam.
Com alguns dominados de permeio para dar o colorido necessário à coisa.
Porque vive também com esta absurda ideia de encontrar na economia publica, estatizada – o Socialismo!
Esquecendo as cooperativas, o associativismo, o mutualismo, o auto gestionarismo.
Coitado do Marx que tanto escreveu contra tal visão – o Estado todo salvador !
Vejam por isso o vídeo abaixo, uma intervenção de Dany Le Rouge no Parlamento Europeu.
E aprendam o que é a Esquerda Hoje.
Aquela Esquerda que começa a nascer.
Aquela Esquerda que é impossível que exista, ainda, em Portugal, hoje.
Joffre Justino
(Director Pedagógico)
terça-feira, 1 de junho de 2010
Conselho Português para a Paz e Cooperação
Rua Rodrigo da Fonseca, 56 - 2º 1250 -193 Lisboa, Portugal
Tel. 21 386 33 75 / Fax 21 386 32 21
Tel. 21 386 33 75 / Fax 21 386 32 21
e-mail : conselhopaz@netcabo.pt
O Conselho Português para a Paz e Cooperação confrontado com o recente ataque por parte de Israel, em águas internacionais, contra barcos que transportavam ajuda humanitária para Gaza, convoca todas as organizações amantes da Paz a juntarem-se em torno da tomada de posição comum que segue abaixo. Convocamos a realização de uma concentração frente à embaixada de Israel para a próxima Quarta-feira pelas 18h., momento em que será entregue a tomada de posição à embaixada.
Saudações de Paz,
CPPC
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Condenação do desumano ataque de Israel contra a «Frota da Liberdade»
O desumano ataque militar israelita contra os barcos de uma iniciativa de ajuda humanitária à população palestiniana na Faixa de Gaza – que levava bens de primeira necessidade e outros materiais para a resposta às prementes carências daquela população - que matou e feriu dezenas de pessoas, é mais um crime cometido pelo Estado de Israel que exige a mais clara e firme condenação.
O brutal ataque das forças israelitas, perpetrado em águas internacionais, contra a «Frota da Liberdade» - organizada pela Free Gaza, que transportava 750 pessoas e toneladas de mantimentos para a Faixa de Gaza - só pode merecer a condenação do Governo português.
Este hediondo crime traz para a ordem do dia o cruel e ilegal bloqueio imposto por Israel à população da Faixa de Gaza desde 2007, que criminosamente coloca todo um povo sob cerco e aprisionado. Um milhão e meio de crianças, mulheres e homens sobrevivem num território exíguo e privado das mais elementares condições de vida. Recorde-se a brutal agressão militar perpetrada entre Dezembro de 2008 e Janeiro de 2009, que provocou a morte e ferimentos em milhares e milhares de palestinianos, na sua maioria crianças e jovens e destruiu infra-estruturas básicas, constituiu mais um rude golpe para o povo de Gaza, que continua impune.
Na raiz de todos estes graves problemas que a população de Gaza enfrenta está a ocupação israelita dos territórios palestinianos. Uma ocupação condenada em sucessivas resoluções das Nações Unidas, mas que, com o apoio ou a conivência dos Estados Unidos da América e da União Europeia, não só não cessa como se agrava, com os assassinatos, as prisões e a expansão dos colonatos.
Neste momento em que a violência israelita volta novamente aos noticiários e às primeiras páginas, urge reafirmar as exigências fundamentais tendentes à resolução deste conflito e o inalienável direito do povo palestiniano a um Estado independente, soberano e viável:
-O imediato levantamento do bloqueio à Faixa Gaza;
-O desmantelamento dos colonatos;
-A remoção do muro de separação;
-O fim da ocupação israelita;
-A resolução do problema dos refugiados no quadro do respeito do direito de regresso; e o estabelecimento de um Estado da Palestina, dentro das fronteiras de 1967, com Jerusalém Leste como capital.
O Conselho Português para a Paz e Cooperação confrontado com o recente ataque por parte de Israel, em águas internacionais, contra barcos que transportavam ajuda humanitária para Gaza, convoca todas as organizações amantes da Paz a juntarem-se em torno da tomada de posição comum que segue abaixo. Convocamos a realização de uma concentração frente à embaixada de Israel para a próxima Quarta-feira pelas 18h., momento em que será entregue a tomada de posição à embaixada.
Saudações de Paz,
CPPC
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Condenação do desumano ataque de Israel contra a «Frota da Liberdade»
O desumano ataque militar israelita contra os barcos de uma iniciativa de ajuda humanitária à população palestiniana na Faixa de Gaza – que levava bens de primeira necessidade e outros materiais para a resposta às prementes carências daquela população - que matou e feriu dezenas de pessoas, é mais um crime cometido pelo Estado de Israel que exige a mais clara e firme condenação.
O brutal ataque das forças israelitas, perpetrado em águas internacionais, contra a «Frota da Liberdade» - organizada pela Free Gaza, que transportava 750 pessoas e toneladas de mantimentos para a Faixa de Gaza - só pode merecer a condenação do Governo português.
Este hediondo crime traz para a ordem do dia o cruel e ilegal bloqueio imposto por Israel à população da Faixa de Gaza desde 2007, que criminosamente coloca todo um povo sob cerco e aprisionado. Um milhão e meio de crianças, mulheres e homens sobrevivem num território exíguo e privado das mais elementares condições de vida. Recorde-se a brutal agressão militar perpetrada entre Dezembro de 2008 e Janeiro de 2009, que provocou a morte e ferimentos em milhares e milhares de palestinianos, na sua maioria crianças e jovens e destruiu infra-estruturas básicas, constituiu mais um rude golpe para o povo de Gaza, que continua impune.
Na raiz de todos estes graves problemas que a população de Gaza enfrenta está a ocupação israelita dos territórios palestinianos. Uma ocupação condenada em sucessivas resoluções das Nações Unidas, mas que, com o apoio ou a conivência dos Estados Unidos da América e da União Europeia, não só não cessa como se agrava, com os assassinatos, as prisões e a expansão dos colonatos.
Neste momento em que a violência israelita volta novamente aos noticiários e às primeiras páginas, urge reafirmar as exigências fundamentais tendentes à resolução deste conflito e o inalienável direito do povo palestiniano a um Estado independente, soberano e viável:
-O imediato levantamento do bloqueio à Faixa Gaza;
-O desmantelamento dos colonatos;
-A remoção do muro de separação;
-O fim da ocupação israelita;
-A resolução do problema dos refugiados no quadro do respeito do direito de regresso; e o estabelecimento de um Estado da Palestina, dentro das fronteiras de 1967, com Jerusalém Leste como capital.
sábado, 15 de maio de 2010
PCP solidário com o povo grego recusa empréstimo à Grécia
Senhor Presidente,
Senhores Deputados,
A situação que se vive na Grécia e noutros países é a consequência da irracionalidade do sistema vigente na União Europeia.
Uma política assente em orientações monetaristas favoráveis aos grandes grupos económicos e às potências do directório da União Europeia, mas que penaliza fortemente as economias menos desenvolvidas, designadamente com a política do euro forte e com a imposição de critérios monetaristas artificiais 3% com consequência no investimento público, na dinamização do mercado interno, nas desigualdades sociais.
Uma política que conduz à crescente financeirização da economia, à degradação das capacidades produtivas dos países menos desenvolvidos, como acontece com Portugal, à estagnação e à recessão.
Uma política que se orienta para o benefício do capital especulativo.
Ao longo da crise em curso foi gritante a falta de solidariedade da União Europeia e em especial das suas principais potências. Deixou-se agravar o ataque dos especuladores em relação à Grécia, e também em relação ao Portugal e outros países, quando a situação podia e devia ser travada com uma posição mais forte perante essas operações. Está hoje aliás evidente que as notações e as supostas inseguranças dos mercados, nada mais são do que a pressão para aumentar o juro das dívidas e assim as margens de lucro do capital especulativo.
Nesta crise ficou claro como funciona a União Económica e Monetária. Um bom exemplo é a acção do BCE, guardião da ortodoxia monetarista. O BCE pode emprestar e empresta dinheiro a instituições bancárias, independentemente até da sua solidez, à taxa de 1%. Mas está proibido de emprestar dinheiro aos Estados em dificuldades, por imposição e interesse da Alemanha.
E mesmo perante a situação de crise, a evidenciar que é preciso fomentar a economia dos países menos desenvolvidos, mantêm-se absurdamente os critérios monetaristas dos 3% de défice, mesmo que isso implique uma ainda maior destruição das economias, do emprego, do desenvolvimento.
O que se propõe agora à Grécia é uma dose cavalar da mesma política que tem sido imposta todos estes anos e que também não queremos para o nosso país.
Congelamento de salários e pensões, corte de subsídio de férias e de Natal para trabalhadores e reformados, redução de salários na administração pública, aplicação de uma regra 5/1 nas entradas e saídas da administração pública, mais uma revisão brutal do investimento público, destruição de direitos e salários no sector privado, privatização e liberalização de sectores públicos essenciais, encerramento de serviços públicos por exemplo ferroviários, contracção fortíssima de despesa social, etc. etc..
Estas medidas vão criar mais dificuldades à Grécia, tal como as que entre nós estão a ser aplicadas criam em Portugal. Sem dinamização do mercado interno, sem mais investimento não há crescimento. Sem crescimento não há receita. Sem receita não há dinheiro para pagar a dívida pública.
Mais ainda, este dinheiro vai, mais uma vez, para o sistema financeiro. Para os mesmos que criaram a crise, que lucraram com ela, que dinamizam a especulação. (BES)
Entretanto pagam os mesmos de sempre: os trabalhadores e o povo.
Estamos contra este caminho, como estamos contra a aplicação no nosso país da política que ele perpetua.
Sim, a União Europeia deve ajudar a Grécia. Mas o que está aqui em causa não é uma ajuda, é uma condenação ao atraso, à dependência, à crise social. As verdadeiras ajudas não chegaram a aparecer.
E não nos digam que este caminho é inevitável!
Estamos fartos que nos digam que só há este caminho; que o resultado seja a estagnação, a recessão e a pobreza e ainda assim nos digam que só há este caminho.
Que o sistema favoreça os especuladores e ainda assim nos digam que só há este caminho.
Que as desigualdades aumentem e ainda assim nos digam que só há este caminho.
Que os grupos económicos e o grande capital concentrem cada vez mais a riqueza e nos digam que só há este caminho.
Que o desemprego e a precariedade alastrem, que os salários as reformas e as prestações sociais sejam cortados e nos digam que só há este caminho.
Não, Srs. Deputados não há só este caminho. Este caminho não serve o povo grego, nem o povo português nem os povos da Europa.
É por isso que cada dia está mais claro que para a Europa, como para Portugal, é preciso outro rumo, é preciso outro caminho.
Senhor Presidente,
Senhores Deputados,
A situação que se vive na Grécia e noutros países é a consequência da irracionalidade do sistema vigente na União Europeia.
Uma política assente em orientações monetaristas favoráveis aos grandes grupos económicos e às potências do directório da União Europeia, mas que penaliza fortemente as economias menos desenvolvidas, designadamente com a política do euro forte e com a imposição de critérios monetaristas artificiais 3% com consequência no investimento público, na dinamização do mercado interno, nas desigualdades sociais.
Uma política que conduz à crescente financeirização da economia, à degradação das capacidades produtivas dos países menos desenvolvidos, como acontece com Portugal, à estagnação e à recessão.
Uma política que se orienta para o benefício do capital especulativo.
Ao longo da crise em curso foi gritante a falta de solidariedade da União Europeia e em especial das suas principais potências. Deixou-se agravar o ataque dos especuladores em relação à Grécia, e também em relação ao Portugal e outros países, quando a situação podia e devia ser travada com uma posição mais forte perante essas operações. Está hoje aliás evidente que as notações e as supostas inseguranças dos mercados, nada mais são do que a pressão para aumentar o juro das dívidas e assim as margens de lucro do capital especulativo.
Nesta crise ficou claro como funciona a União Económica e Monetária. Um bom exemplo é a acção do BCE, guardião da ortodoxia monetarista. O BCE pode emprestar e empresta dinheiro a instituições bancárias, independentemente até da sua solidez, à taxa de 1%. Mas está proibido de emprestar dinheiro aos Estados em dificuldades, por imposição e interesse da Alemanha.
E mesmo perante a situação de crise, a evidenciar que é preciso fomentar a economia dos países menos desenvolvidos, mantêm-se absurdamente os critérios monetaristas dos 3% de défice, mesmo que isso implique uma ainda maior destruição das economias, do emprego, do desenvolvimento.
O que se propõe agora à Grécia é uma dose cavalar da mesma política que tem sido imposta todos estes anos e que também não queremos para o nosso país.
Congelamento de salários e pensões, corte de subsídio de férias e de Natal para trabalhadores e reformados, redução de salários na administração pública, aplicação de uma regra 5/1 nas entradas e saídas da administração pública, mais uma revisão brutal do investimento público, destruição de direitos e salários no sector privado, privatização e liberalização de sectores públicos essenciais, encerramento de serviços públicos por exemplo ferroviários, contracção fortíssima de despesa social, etc. etc..
Estas medidas vão criar mais dificuldades à Grécia, tal como as que entre nós estão a ser aplicadas criam em Portugal. Sem dinamização do mercado interno, sem mais investimento não há crescimento. Sem crescimento não há receita. Sem receita não há dinheiro para pagar a dívida pública.
Mais ainda, este dinheiro vai, mais uma vez, para o sistema financeiro. Para os mesmos que criaram a crise, que lucraram com ela, que dinamizam a especulação. (BES)
Entretanto pagam os mesmos de sempre: os trabalhadores e o povo.
Estamos contra este caminho, como estamos contra a aplicação no nosso país da política que ele perpetua.
Sim, a União Europeia deve ajudar a Grécia. Mas o que está aqui em causa não é uma ajuda, é uma condenação ao atraso, à dependência, à crise social. As verdadeiras ajudas não chegaram a aparecer.
E não nos digam que este caminho é inevitável!
Estamos fartos que nos digam que só há este caminho; que o resultado seja a estagnação, a recessão e a pobreza e ainda assim nos digam que só há este caminho.
Que o sistema favoreça os especuladores e ainda assim nos digam que só há este caminho.
Que as desigualdades aumentem e ainda assim nos digam que só há este caminho.
Que os grupos económicos e o grande capital concentrem cada vez mais a riqueza e nos digam que só há este caminho.
Que o desemprego e a precariedade alastrem, que os salários as reformas e as prestações sociais sejam cortados e nos digam que só há este caminho.
Não, Srs. Deputados não há só este caminho. Este caminho não serve o povo grego, nem o povo português nem os povos da Europa.
É por isso que cada dia está mais claro que para a Europa, como para Portugal, é preciso outro rumo, é preciso outro caminho.
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
MÁRIO SOARES
A polémica em torno das acusações das autoridades angolanas segundo as quais Mário Soares e seu filho João Soares seriam dos principais beneficiários do tráfico de diamantes e de marfim levados a cabo pela UNITA de Jonas Savimbi, tem sido conduzida na base de mistificações grosseiras sobre o comportamento daquelas figuras políticas nos últimos anos.
Espanta desde logo a intervenção pública da generalidade das figuras políticas do país, que vão desde o Presidente da República até ao deputado do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, passando pelo PP de Paulo Portas e Basílio Horta, pelo PSD de Durão Barroso e por toda a sorte de fazedores de opinião, jornalistas (ligados ou não à Fundação Mário Soares), pensadores profissionais, autarcas, «comendadores» e comentadores de serviço, etc.
Tudo como se Mário Soares fosse uma virgem perdida no meio de um imenso bordel.
Sei que Mário Soares não é nenhuma virgem e que o país (apesar de tudo) não é nenhum bordel. Sei também que não gosto mesmo nada de Mário Soares e do filho João Soares, os quais se têm vindo a comportar politicamente como uma espécie de versão portuguesa da antiga dupla haitiana «Papa Doc» e «Baby Doc».
Vejamos então por que é que eu não gosto dele(s).
A primeira ideia que se agiganta sobre Mário Soares é que é um homem que não tem princípios mas sim fins.
É-lhe atribuída a célebre frase: «Em política, feio, feio, é perder».
São conhecidos também os seus zigue-zagues políticos desde antes do 25 de Abril. Tentou negociar com Marcelo Caetano uma legalização do seu (e de seus amigos) agrupamento político, num gesto que mais não significava do que uma imensa traição a toda a oposição, mormente àquela que mais se empenhava na luta contra o fascismo.
JÁ DEPOIS DO 25 DE ABRIL, ASSUMIU-SE COMO O HOMEM DOS AMERICANOS E DA CIA EM PORTUGAL E NA PRÓPRIA INTERNACIONAL SOCIALISTA. Dos mesmos americanos que acabavam de conceber, financiar e executar o golpe contra Salvador Allende no Chile e que colocara no poder Augusto Pinochet.
Mário Soares combateu o comunismo e os comunistas portugueses como nenhuma outra pessoa o fizera durante a revolução e FOI AMIGO DE NICOLAU CEAUCESCU, FIGURA QUE CHEGOU A APRESENTAR COMO MODELO A SER SEGUIDO PELOS COMUNISTAS PORTUGUESES.
Durante a revolução portuguesa andou a gritar nas ruas do país a palavra de ordem «Partido Socialista, Partido Marxista», mas mal se apanhou no poder meteu o socialismo na gaveta e nunca mais o tirou de lá. Os seus governos notabilizaram-se por três coisas: políticas abertamente de direita, a facilidade com que certos empresários ganhavam dinheiro e essa inovação da austeridade soarista (versão bloco central) que foram os salários em atraso.
INSULTO A UM JUIZ
Em Coimbra, onde veio uma vez como primeiro-ministro, foi confrontado com uma manifestação de trabalhadores com salários em atraso. Soares não gostou do que ouviu (chamaram-lhe o que Soares tem chamado aos governantes angolanos) e alguns trabalhadores foram presos por polícias zelosos. Mas, como não apresentou queixa (o tipo de crime em causa exigia a apresentação de queixa), o juiz não teve outro remédio senão libertar os detidos no próprio dia. Soares não gostou e insultou publicamente esse magistrado, o qual ainda apresentou queixa ao Conselho Superior da Magistratura contra Mário Soares, mas sua excelência não foi incomodado.
Na sequência, foi modificado o Código Penal, o que constituiu a primeira alteração de que foi alvo por exigência dos interesses pessoais de figuras políticas.
Soares é arrogante, pesporrento e malcriado. É conhecidíssima a frase que dirigiu, perante as câmaras de TV, a um agente da GNR em serviço que cumpria a missão de lhe fazer escolta enquanto presidente da República durante a Presidência aberta em Lisboa: «Ó Sr. Guarda! Desapareça!». Nunca, em Portugal, um agente da autoridade terá sido tão humilhado publicamente por um responsável político, como aquele pobre soldado da GNR.
Em minha opinião, Mário Soares nunca foi um verdadeiro democrata. Ou melhor é muito democrata se for ele a mandar. Quando não, acaba-se imediatamente a democracia. À sua volta não tem amigos, e ele sabe-o; tem pessoas que não pensam pela própria cabeça e que apenas fazem o que ele manda e quando ele manda. Só é amigo de quem lhe obedece. Quem ousar ter ideias próprias é triturado sem quaisquer contemplações.
Algumas das suas mais sólidas e antigas amizades ficaram pelo caminho quando ousaram pôr em causa os seus interesses ou ambições pessoais.
Soares é um homem de ódios pessoais sem limites, os quais sempre colocou acima dos interesses políticos do partido e do próprio país.
Em 1980, não hesitou em APOIAR OBJECTIVAMENTE O GENERAL SOARES CARNEIRO CONTRA EANES, NÃO POR RAZÕES POLÍTICAS MAS DEVIDO AO ÓDIO PESSOAL QUE NUTRIA PELO GENERAL RAMALHO EANES. E como o PS não alinhou nessa aventura que iria entregar a presidência da República a um general do antigo regime, Soares, em vez de acatar a decisão maioritária do seu partido, optou por demitir-se e passou a intrigar, a conspirar e a manipular as consciências dos militantes socialistas e de toda a sorte de oportunistas, não hesitando mesmo em espezinhar amigos de sempre como Francisco Salgado Zenha.
Confesso que não sei por que é que o séquito de prosélitos do soarismo (onde, lamentavelmente, parece ter-se incluído agora o actual presidente da República (Mário Soares), apareceram agora tão indignados com as declarações de governantes angolanos e estiveram tão calados quando da publicação do livro de Rui Mateus sobre Mário
Soares. NA ALTURA TODOS METERAM A CABEÇA NA AREIA, INCLUINDO O PRÓPRIO CLÃ DOS SOARES, E NEM TUGIRAM NEM MUGIRAM, APESAR DE AS ACUSAÇÕES SEREM ENTÃO BEM MAIS GRAVES DO QUE AS DE AGORA. POR QUE É QUE JORGE SAMPAIO SE CALOU CONTRA AS «CALÚNIAS» DE RUI MATEUS?».
«DINHEIRO DE MACAU»
Anos mais tarde, um senhor que fora ministro de um governo chefiado por MÁRIO SOARES, ROSADO CORREIA, vinha de Macau para Portugal com um mala com dezenas de milhares de contos. *A proveniência do** dinheiro era tão pouco limpa que um membro do governo de Macau, ANTÓNIO VITORINO, foi a correr ao aeroporto tirar-lhe a mala à última hora.
Parece que se tratava de dinheiro que tinha sido obtido de empresários chineses com a promessa de benefícios indevidos por parte do governo de Macau. Para quem era esse dinheiro foi coisa que nunca ficou devidamente esclarecida. O caso EMAUDIO (e o célebre fax de Macau) é um episódio que envolve destacadíssimos soaristas, amigos íntimos de Mário Soares e altos dirigentes do PS da época soarista. MENANO DO AMARAL chegou a ser responsável pelas finanças do PS e Rui Mateus foi durante anos responsável pelas relações internacionais do partido, ou seja, pela angariação de fundos no estrangeiro.
Não haveria seguramente no PS ninguém em quem Soares depositasse mais confiança. Ainda hoje subsistem muitas dúvidas (e não só as lançadas pelo livro de Rui Mateus) sobre o verdadeiro destino dos financiamentos vindos de Macau. No entanto, em tribunal, os pretensos corruptores foram processualmente separados dos alegados corrompidos, com esta peculiaridade (que não é inédita) judicial: os pretensos corruptores foram condenados, enquanto os alegados corrompidos foram absolvidos. Aliás, no que respeita a Macau só um país sem dignidade e um povo sem brio nem vergonha é que toleravam o que se passou nos últimos anos (e nos últimos dias) de administração portuguesa daquele território, com os chineses pura e simplesmente a chamar ladrões aos portugueses. E isso não foi só dirigido a alguns colaboradores de cartazes do MASP que a dada altura enxamearam aquele território. Esse epíteto chegou a ser dirigido aos mais altos representantes do Estado Português. Tudo por causa das fundações criadas para tirar dinheiro de Macau. Mas isso é outra história cujos verdadeiros contornos hão-de ser um dia conhecidos. Não foi só em Portugal que Mário Soares conviveu com pessoas pouco recomendáveis. Veja-se o caso de BETINO CRAXI, o líder do PS italiano, condenado a vários anos de prisão pelas autoridades judiciais do seu país, devido a graves crimes como corrupção. Soares fez questão de lhe manifestar publicamente solidariedade quando ele se refugiou na Tunísia.
Veja-se também a amizade com Filipe González, líder do Partido Socialista de Espanha que não encontrou melhor maneira para resolver o problema político do país Basco senão recorrer ao terrorismo, contratando os piores mercenários do lumpen e da extrema-direita da Europa para assassinar militantes e simpatizantes da ETA.
Mário Soares utilizou o cargo de presidente da República para passear pelo estrangeiro como nunca ninguém fizera em Portugal. Ele, que tanta austeridade impôs aos trabalhadores portugueses enquanto primeiro-ministro, gastou, como Presidente da República, milhões de contos dos contribuintes portugueses em passeatas pelo mundo, com verdadeiros exércitos de amigos e prosélitos do soarismo, com destaque para jornalistas. São muitos desses «viajantes» que hoje se põem em bicos de pés a indignar-se pelas declarações dos governantes angolanos.
Enquanto Presidente da República, Soares abusou como ninguém das distinções honoríficas do Estado Português. Não há praticamente nenhum amigo que não tenha recebido uma condecoração, enquanto outros cidadãos, que tanto mereceram, não obtiveram qualquer distinção durante o seu «reinado». Um dos maiores vultos da resistência
antifascista no meio universitário, e um dos mais notáveis académicos portugueses, perseguido pelo antigo regime, o Prof. Doutor Orlando de Carvalho, não foi merecedor, segundo Mário Soares, da Ordem da Liberdade. Mas alguns que até colaboraram com o antigo regime receberam as mais altas distinções. Orlando de Carvalho só veio a receber a Ordem da Liberdade depois de Soares deixar a Presidência da República, ou seja logo que Sampaio tomou posse. A razão foi só uma: Orlando de Carvalho nunca prestou vassalagem a Soares e Jorge Sampaio não fazia depender disso a atribuição de condecorações.
FUNDAÇÃO COM DINHEIROS PÚBLICOS
A pretexto de uns papéis pessoais cujo valor histórico ou cultural nunca ninguém sindicou, Soares decidiu fazer uma Fundação com o seu nome. Nada de mal se o fizesse com dinheiro seu, como seria normal.
Mas não; acabou por fazê-la com dinheiros públicos. SÓ O GOVERNO, DE UMA SÓ VEZ DEU-LHE 500 MIL CONTOS E A CÂMARA DE LISBOA, PRESIDIDA PELO SEU FILHO, DEU-LHE UM PRÉDIO NO VALOR DE CENTENAS DE MILHARES DE CONTOS. Nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Alemanha ou em qualquer país em que as regras democráticas fossem minimamente respeitadas muita gente estaria, por isso, a contas com a justiça, incluindo os próprios Mário e João Soares e as respectivas carreiras políticas teriam aí terminado. Tais práticas são absolutamente inadmissíveis num país que respeitasse o dinheiro extorquido aos contribuintes pelo fisco. Se os seus documentos pessoais tinham valor histórico Mário Soares deveria entregá-los a uma instituição pública, como a Torre do Tombo ou o Centro de Documentação 25 de Abril, por exemplo. Mas para isso era preciso que Soares fosse uma pessoa com humildade democrática e verdadeiro amor pela cultura. Mas não. Não eram preocupações culturais que motivaram Soares. O que ele pretendia era outra coisa. Porque as suas ambições não têm limites ele precisava de um instrumento de pressão sobre as instituições democráticas e dos órgãos de poder e de intromissão directa na vida política do país. A Fundação Mário Soares está a transformar-se num verdadeiro cancro da democracia portuguesa.»
O livro de Rui Mateus, que foi rapidamente retirado de mercado após a celeuma que causou em 1996 (há quem diga que "alguém" comprou toda a edição), está disponível AQUI
ou
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ou ainda
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Espanta desde logo a intervenção pública da generalidade das figuras políticas do país, que vão desde o Presidente da República até ao deputado do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, passando pelo PP de Paulo Portas e Basílio Horta, pelo PSD de Durão Barroso e por toda a sorte de fazedores de opinião, jornalistas (ligados ou não à Fundação Mário Soares), pensadores profissionais, autarcas, «comendadores» e comentadores de serviço, etc.
Tudo como se Mário Soares fosse uma virgem perdida no meio de um imenso bordel.
Sei que Mário Soares não é nenhuma virgem e que o país (apesar de tudo) não é nenhum bordel. Sei também que não gosto mesmo nada de Mário Soares e do filho João Soares, os quais se têm vindo a comportar politicamente como uma espécie de versão portuguesa da antiga dupla haitiana «Papa Doc» e «Baby Doc».
Vejamos então por que é que eu não gosto dele(s).
A primeira ideia que se agiganta sobre Mário Soares é que é um homem que não tem princípios mas sim fins.
É-lhe atribuída a célebre frase: «Em política, feio, feio, é perder».
São conhecidos também os seus zigue-zagues políticos desde antes do 25 de Abril. Tentou negociar com Marcelo Caetano uma legalização do seu (e de seus amigos) agrupamento político, num gesto que mais não significava do que uma imensa traição a toda a oposição, mormente àquela que mais se empenhava na luta contra o fascismo.
JÁ DEPOIS DO 25 DE ABRIL, ASSUMIU-SE COMO O HOMEM DOS AMERICANOS E DA CIA EM PORTUGAL E NA PRÓPRIA INTERNACIONAL SOCIALISTA. Dos mesmos americanos que acabavam de conceber, financiar e executar o golpe contra Salvador Allende no Chile e que colocara no poder Augusto Pinochet.
Mário Soares combateu o comunismo e os comunistas portugueses como nenhuma outra pessoa o fizera durante a revolução e FOI AMIGO DE NICOLAU CEAUCESCU, FIGURA QUE CHEGOU A APRESENTAR COMO MODELO A SER SEGUIDO PELOS COMUNISTAS PORTUGUESES.
Durante a revolução portuguesa andou a gritar nas ruas do país a palavra de ordem «Partido Socialista, Partido Marxista», mas mal se apanhou no poder meteu o socialismo na gaveta e nunca mais o tirou de lá. Os seus governos notabilizaram-se por três coisas: políticas abertamente de direita, a facilidade com que certos empresários ganhavam dinheiro e essa inovação da austeridade soarista (versão bloco central) que foram os salários em atraso.
INSULTO A UM JUIZ
Em Coimbra, onde veio uma vez como primeiro-ministro, foi confrontado com uma manifestação de trabalhadores com salários em atraso. Soares não gostou do que ouviu (chamaram-lhe o que Soares tem chamado aos governantes angolanos) e alguns trabalhadores foram presos por polícias zelosos. Mas, como não apresentou queixa (o tipo de crime em causa exigia a apresentação de queixa), o juiz não teve outro remédio senão libertar os detidos no próprio dia. Soares não gostou e insultou publicamente esse magistrado, o qual ainda apresentou queixa ao Conselho Superior da Magistratura contra Mário Soares, mas sua excelência não foi incomodado.
Na sequência, foi modificado o Código Penal, o que constituiu a primeira alteração de que foi alvo por exigência dos interesses pessoais de figuras políticas.
Soares é arrogante, pesporrento e malcriado. É conhecidíssima a frase que dirigiu, perante as câmaras de TV, a um agente da GNR em serviço que cumpria a missão de lhe fazer escolta enquanto presidente da República durante a Presidência aberta em Lisboa: «Ó Sr. Guarda! Desapareça!». Nunca, em Portugal, um agente da autoridade terá sido tão humilhado publicamente por um responsável político, como aquele pobre soldado da GNR.
Em minha opinião, Mário Soares nunca foi um verdadeiro democrata. Ou melhor é muito democrata se for ele a mandar. Quando não, acaba-se imediatamente a democracia. À sua volta não tem amigos, e ele sabe-o; tem pessoas que não pensam pela própria cabeça e que apenas fazem o que ele manda e quando ele manda. Só é amigo de quem lhe obedece. Quem ousar ter ideias próprias é triturado sem quaisquer contemplações.
Algumas das suas mais sólidas e antigas amizades ficaram pelo caminho quando ousaram pôr em causa os seus interesses ou ambições pessoais.
Soares é um homem de ódios pessoais sem limites, os quais sempre colocou acima dos interesses políticos do partido e do próprio país.
Em 1980, não hesitou em APOIAR OBJECTIVAMENTE O GENERAL SOARES CARNEIRO CONTRA EANES, NÃO POR RAZÕES POLÍTICAS MAS DEVIDO AO ÓDIO PESSOAL QUE NUTRIA PELO GENERAL RAMALHO EANES. E como o PS não alinhou nessa aventura que iria entregar a presidência da República a um general do antigo regime, Soares, em vez de acatar a decisão maioritária do seu partido, optou por demitir-se e passou a intrigar, a conspirar e a manipular as consciências dos militantes socialistas e de toda a sorte de oportunistas, não hesitando mesmo em espezinhar amigos de sempre como Francisco Salgado Zenha.
Confesso que não sei por que é que o séquito de prosélitos do soarismo (onde, lamentavelmente, parece ter-se incluído agora o actual presidente da República (Mário Soares), apareceram agora tão indignados com as declarações de governantes angolanos e estiveram tão calados quando da publicação do livro de Rui Mateus sobre Mário
Soares. NA ALTURA TODOS METERAM A CABEÇA NA AREIA, INCLUINDO O PRÓPRIO CLÃ DOS SOARES, E NEM TUGIRAM NEM MUGIRAM, APESAR DE AS ACUSAÇÕES SEREM ENTÃO BEM MAIS GRAVES DO QUE AS DE AGORA. POR QUE É QUE JORGE SAMPAIO SE CALOU CONTRA AS «CALÚNIAS» DE RUI MATEUS?».
«DINHEIRO DE MACAU»
Anos mais tarde, um senhor que fora ministro de um governo chefiado por MÁRIO SOARES, ROSADO CORREIA, vinha de Macau para Portugal com um mala com dezenas de milhares de contos. *A proveniência do** dinheiro era tão pouco limpa que um membro do governo de Macau, ANTÓNIO VITORINO, foi a correr ao aeroporto tirar-lhe a mala à última hora.
Parece que se tratava de dinheiro que tinha sido obtido de empresários chineses com a promessa de benefícios indevidos por parte do governo de Macau. Para quem era esse dinheiro foi coisa que nunca ficou devidamente esclarecida. O caso EMAUDIO (e o célebre fax de Macau) é um episódio que envolve destacadíssimos soaristas, amigos íntimos de Mário Soares e altos dirigentes do PS da época soarista. MENANO DO AMARAL chegou a ser responsável pelas finanças do PS e Rui Mateus foi durante anos responsável pelas relações internacionais do partido, ou seja, pela angariação de fundos no estrangeiro.
Não haveria seguramente no PS ninguém em quem Soares depositasse mais confiança. Ainda hoje subsistem muitas dúvidas (e não só as lançadas pelo livro de Rui Mateus) sobre o verdadeiro destino dos financiamentos vindos de Macau. No entanto, em tribunal, os pretensos corruptores foram processualmente separados dos alegados corrompidos, com esta peculiaridade (que não é inédita) judicial: os pretensos corruptores foram condenados, enquanto os alegados corrompidos foram absolvidos. Aliás, no que respeita a Macau só um país sem dignidade e um povo sem brio nem vergonha é que toleravam o que se passou nos últimos anos (e nos últimos dias) de administração portuguesa daquele território, com os chineses pura e simplesmente a chamar ladrões aos portugueses. E isso não foi só dirigido a alguns colaboradores de cartazes do MASP que a dada altura enxamearam aquele território. Esse epíteto chegou a ser dirigido aos mais altos representantes do Estado Português. Tudo por causa das fundações criadas para tirar dinheiro de Macau. Mas isso é outra história cujos verdadeiros contornos hão-de ser um dia conhecidos. Não foi só em Portugal que Mário Soares conviveu com pessoas pouco recomendáveis. Veja-se o caso de BETINO CRAXI, o líder do PS italiano, condenado a vários anos de prisão pelas autoridades judiciais do seu país, devido a graves crimes como corrupção. Soares fez questão de lhe manifestar publicamente solidariedade quando ele se refugiou na Tunísia.
Veja-se também a amizade com Filipe González, líder do Partido Socialista de Espanha que não encontrou melhor maneira para resolver o problema político do país Basco senão recorrer ao terrorismo, contratando os piores mercenários do lumpen e da extrema-direita da Europa para assassinar militantes e simpatizantes da ETA.
Mário Soares utilizou o cargo de presidente da República para passear pelo estrangeiro como nunca ninguém fizera em Portugal. Ele, que tanta austeridade impôs aos trabalhadores portugueses enquanto primeiro-ministro, gastou, como Presidente da República, milhões de contos dos contribuintes portugueses em passeatas pelo mundo, com verdadeiros exércitos de amigos e prosélitos do soarismo, com destaque para jornalistas. São muitos desses «viajantes» que hoje se põem em bicos de pés a indignar-se pelas declarações dos governantes angolanos.
Enquanto Presidente da República, Soares abusou como ninguém das distinções honoríficas do Estado Português. Não há praticamente nenhum amigo que não tenha recebido uma condecoração, enquanto outros cidadãos, que tanto mereceram, não obtiveram qualquer distinção durante o seu «reinado». Um dos maiores vultos da resistência
antifascista no meio universitário, e um dos mais notáveis académicos portugueses, perseguido pelo antigo regime, o Prof. Doutor Orlando de Carvalho, não foi merecedor, segundo Mário Soares, da Ordem da Liberdade. Mas alguns que até colaboraram com o antigo regime receberam as mais altas distinções. Orlando de Carvalho só veio a receber a Ordem da Liberdade depois de Soares deixar a Presidência da República, ou seja logo que Sampaio tomou posse. A razão foi só uma: Orlando de Carvalho nunca prestou vassalagem a Soares e Jorge Sampaio não fazia depender disso a atribuição de condecorações.
FUNDAÇÃO COM DINHEIROS PÚBLICOS
A pretexto de uns papéis pessoais cujo valor histórico ou cultural nunca ninguém sindicou, Soares decidiu fazer uma Fundação com o seu nome. Nada de mal se o fizesse com dinheiro seu, como seria normal.
Mas não; acabou por fazê-la com dinheiros públicos. SÓ O GOVERNO, DE UMA SÓ VEZ DEU-LHE 500 MIL CONTOS E A CÂMARA DE LISBOA, PRESIDIDA PELO SEU FILHO, DEU-LHE UM PRÉDIO NO VALOR DE CENTENAS DE MILHARES DE CONTOS. Nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Alemanha ou em qualquer país em que as regras democráticas fossem minimamente respeitadas muita gente estaria, por isso, a contas com a justiça, incluindo os próprios Mário e João Soares e as respectivas carreiras políticas teriam aí terminado. Tais práticas são absolutamente inadmissíveis num país que respeitasse o dinheiro extorquido aos contribuintes pelo fisco. Se os seus documentos pessoais tinham valor histórico Mário Soares deveria entregá-los a uma instituição pública, como a Torre do Tombo ou o Centro de Documentação 25 de Abril, por exemplo. Mas para isso era preciso que Soares fosse uma pessoa com humildade democrática e verdadeiro amor pela cultura. Mas não. Não eram preocupações culturais que motivaram Soares. O que ele pretendia era outra coisa. Porque as suas ambições não têm limites ele precisava de um instrumento de pressão sobre as instituições democráticas e dos órgãos de poder e de intromissão directa na vida política do país. A Fundação Mário Soares está a transformar-se num verdadeiro cancro da democracia portuguesa.»
O livro de Rui Mateus, que foi rapidamente retirado de mercado após a celeuma que causou em 1996 (há quem diga que "alguém" comprou toda a edição), está disponível AQUI
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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
NO PRINCIPIO DE UMA
LONGA VIAGEM
CREPÚSCULO DO CAPITALISMO, NOSTALGIAS, HERANÇAS, BARBÁRIE E ESPERANÇAS NO INÍCIO DO SÉCULO XXI
por Jorge Beinstein [*]
PRINCÍPIO DO FIM (OU FIM DO PRINCÍPIO) DA CRISE ?
No início de 2009 Ben Bernanke assinalou que antes do fim deste ano começariam a ver-se sintomas claros de superação da crise e por volta do mês de Agosto anunciou que "o pior da recessão ficou para trás" [1] . Antes de explodir a bomba financeira, em Setembro de 2008, Bernanke prognosticava que a referida explosão nunca chegaria a ocorrer, e quando finalmente ocorreu o seu novo prognóstico era que em pouco tempo chegaria a recuperação. Agora o presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos decidiu não esperar mais e anuncia ao mundo o começo do fim do pesadelo.
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Não foi o único a fazê-lo, uma surpreendente campanha mediática tem utilizado alguns sinais isolados para impor essa ideia. Foi deste modo que o ressurgimento da bolha global do mercado de valores desde meados de Março foi apresentada como um sintoma da melhoria geral da economia e um bando de "peritos" explicou-nos que a euforia da bolsa estava a antecipar o fim da recessão.
Na realidade as injecções maciças de dinheiro dos governos das grandes potências económicas beneficiando principalmente o sistema financeiro geraram enormes excedentes de fundos que, nas condições de um enfraquecimento generalizado da produção e do consumo, encontraram nos negócios bursáteis um espaço favorável para rentabilizar os seus capitais.
Jogando na alta dos valores das acções, eles pressionavam para cima os seus preços, o que por sua vez incitava a investir cada vez mais dinheiro na Bolsa. A isto devemos acrescentar que o motor da euforia bolsista mundial, a bolsa dos Estados Unidos, além do dinheiro derivado dos salvamentos locais, tem estado a receber importantes fluxos de fundos especulativos externos que, aproveitando a queda persistente do dólar, se precipitaram a comprar acções baratas e em alta.
Repetiu-se assim a sequência especulativa de finais dos anos 1990 e 2007 mas com uma diferença decisiva: o contexto da bolha actual não é de crescimento da economia e sim de recessão (ou, no melhor dos casos, de estagnação). As bolhas anteriores (bolsistas, imobiliárias, comerciais, etc.) interactuavam "positivamente" com o resto das actividades económicas; as subidas dos preços das acções ou das casas alentavam o consumo e a produção e por sua vez estes crescimentos geravam fundos que em boa medida se voltavam para os negócios especulativos produzindo-se assim uma espécie de círculo virtuoso especulativo-consumista-produtivo de carácter global. Este em última análise era perverso, pois destinado a médio prazo ao desastre, mas causava prosperidade no curto prazo.
A bolha bursátil de 2009, ao contrário, contrasta com baixos níveis de consumo e investimentos produtivos e altos níveis de desemprego. Os excedentes de capitais bloqueados por uma economia produtiva em declínio conseguem lucros na especulação financeira. O que acontece então graças aos fabulosos salvamentos financeiros dos governos é um círculo vicioso baseado na especulação financeira e no crescimento débil ou negativo.
No caso do governo norte-americano este efeito negativo foi suavizado através de enormes subsídios que conseguiram escorar alguns consumos e desse modo desacelerar primeiro e mais adiante reverter a curva descendente do Produto Interno Bruto. Às fortes quedas do último trimestre de 2008 e do primeiro de 2009 sucedeu uma descida suave no segundo semestre e um crescimento no terceiro impulsionado pelos subsídios governamentais para a compra de automóveis e casas, mais os gastos militares. Mas, por trás desta efémera recuperação aparece a expansão desenfreada do défice fiscal e do endividamento público.
Crescimentos "drogados"
É evidente que a economia norte-americana não sai da armadilha da decadência, dos alívios transitórios, das tentativas de recuperação. Os crescimentos "drogados" fortalecem e recompõem os mecanismos parasitários que conduziram ao desastre actual. E o afundamento do império (do centro articulador do mundo capitalista) arrasta o conjunto do sistema mundial.
Agora, nos fins de 2009, encontramo-nos à espera de uma próxima segunda queda recessiva (o ano de 2010 poderia ser o ano da referida catástrofe) certamente muito mais forte do que a desencadeada no último trimestre de 2008. Os salvamentos financeiros globais de 2008-2009 desaceleraram a queda económica, mas gerando enormes défices fiscais nas potências centrais o que as coloca perante graves ameaças inflacionárias e de extremo enfraquecimento na capacidade de pagamento dos seus Estados, cuja generosidade fiscal (para as grandes empresas e as instituições financeiras) não conseguiu gerar o esperado arranque do investimento e do consumo que anunciavam os seus dirigentes.
Segundo eles, esse prometido "golpe de procura" deveria produzir a reactivação durável da economia mundial e em consequência a redução dos défices, a anulação do perigo hiper-inflacionário, etc. Apenas conseguiram modestas reactivações de certos consumos, algumas ilusões estatísticas (crescimentos do PIB, etc) e mais parasitismo. O fracasso é evidente, o que não impede que voltem uma e outra vez a aplicar os seus inúteis remédios intervencionistas (numa curiosa combinação ideológica de neoliberalismo e neo-keynesianismo financeiro). Fá-lo-ão até que se lhes esgotem os recursos, prisioneiros da loucura geral do sistema. Nos seus cérebros não entra a realidade da mudança violenta de época que tornou obsoletos os seus velhos instrumentos.
Pior ainda, não se trata apenas de uma "crise económica", outras "crises" estão à vista e a qualquer momento poderiam golpear com força um sistema global muito frágil. Dentre elas devemos destacar as crises energética e alimentar (que se fizeram sentir durante o ano de 2008). Ou a degradação do complexo militar-industrial dos Estados Unidos envolvendo o conjunto de aparelhos militares da NATO atolados nas guerras do Iraque e Afeganistão-Paquistão, afundado numa catastrófica crise de percepção: a surpreendente resistência desses povos periféricos supera a sua capacidade de compreensão da realidade. Repete-se a níveis muito mais elevados o "efeito Vietname" ou o desconcerto de Hitler perante a avalancha soviética.
Também é necessário mencionar a crise urbana e ambiental que junto ao declínio de valores morais e culturais, de crenças sociais, vão afogando gradualmente os paradigmas decisivos do mundo burguês, desordenando e deteriorando os sistemas políticos, as estruturas de inovação produtiva, os mecanismos de manipulação mediática.
Em suma, encontramo-nos perante a aparência de uma convergência de numerosas "crises". Na realidade trata-se de uma única crise gigantesca, com diversos rostos, de dimensão (planetária) nunca antes vista na História. O seu aspecto é de um grande crepúsculo que ameaça prolongar-se durante um longo período.
1968-2007: a etapa preparatória
A crise actual teve um longo período de gestação (aproximadamente entre 1968 e 2007), durante o qual se desenvolveu uma crise crónica de sobre-produção que foi acumulando parasitismo e depredação do ecossistema. O processo dessas quatro décadas pode ser interpretado como um adiamento do desastre graças à expansão financeiro-militar (centrada nos EUA), a integração periférica de mão-de-obra industrial barata (China, etc), a depredação acelerada de recursos naturais (em especial os energéticos não renováveis) e a pilhagem financeira de um amplo leque de países subdesenvolvidos. Também pode ser visto sob a forma de uma fuga para a frente do sistema, impulsionada pelos seus grandes motores parasitários.
Ambas as visões deveriam ser integradas utilizando o conceito de capitalismo senil [2] , quer dizer um fenómeno de envelhecimento avançado do sistema que emprega todo o seu complexo instrumental anti-crise acumulado numa longa história bisecular mas que não obstante não pode impedir o agravamento das suas enfermidades, da sua decadência.
A expansão do parasitismo e o declínio da dinâmica produtiva global constituem processos estreitamente ligados: desde meados dos anos 1970 as taxas de crescimento do Produto Bruto Mundial moveram-se de maneira irregular em torno de uma linha descendente enquanto a especulação financeira se expandia a um ritmo vertiginoso.
Se observarmos o comportamento das três economias centrais, os EUA, a União Europeia e o Japão, constataremos que ao longo das três últimas décadas a queda das suas taxas de crescimento do capital líquido (a taxa de acumulação) contrastou com o aumento dos lucros empresariais. A chave do fenómeno está na crescente orientação do conjunto dessas economias para a especulação financeira [3] . A hipertrofia financeira foi por sua vez a causa e o efeito da decadência produtiva. A desaceleração da chamada "economia real" gerava fundos ociosos que eram lançados na especulação como via de saída para rentabilizar o capital. Em consequência as referidas actividades se expandiam absorvendo capitais disponíveis, dominando com a sua subcultura virtual do lucro imediato a totalidade do sistema, degenerando-o, fazendo-o perder dinamismo. Um estudo rigoroso do fenómeno demonstra que não existem duas esferas opostas, uma financeira, a outra produtiva com comportamentos diferenciados. Pelo contrário, encontramo-nos perante um único espaço de negócios fortemente interrelacionados, muitas vezes com operadores económicos combinando ambas as actividades. Do ponto de vista macroeconómico não é possível descrever as suas trajectórias sem as integrar numa dinâmica capitalista comum apontando para a maximização dos lucros.
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Por sua vez, o Complexo Militar-industrial norte-americano sofreu um golpe muito duro ao ser derrotado no Vietname em meados dos anos 1970, mas as necessidades estruturais do capitalismo deram-lhe um novo impulso e realizou um enorme salto quantitativo ao começar a década de 1980 com o mega programa militar do presidente Reagan. A seguir pareceu ficar bloqueado com a vitória dos EUA na Guerra Fria no princípio dos anos 1990. Como legitimar os aumentos de gastos quando o inimigo havia desaparecido? Contudo, no final dessa década o Império havia conseguido fabricar um estranho "inimigo" que permitiu uma nova expansão militarista.
Foi o "terrorismo internacional", um adversário difuso, altamente virtual, justificação para uma prolongada aventura colonial na Eurásia, tentando controlar a faixa territorial que se estende desde os Balcãs até ao Paquistão, atravessando o Iraque, o Irão, os países da Ásia Central, em cujo interior (em redor do Golfo Pérsico e da bacia do Mar Cáspio) se encontra cerca de 70% dos recursos petrolíferos do planeta.
A vitória nessa guerra teria permitido ao Império encurralar a Rússia e a China e assegurar a fidelidade do seu grande aliado estratégico, a União Europeia, consolidando assim a sua hegemonia, impondo condições financeiras e comerciais muito duras ao resto do mundo já que a economia imperial declinante necessitava de doses crescentes de riquezas externas para sobreviver.
Tal como no passado, conjugaram-se as necessidades "internas" próprias da reprodução da economia norte-americana (em que os gastos militares cumprem um papel decisivo) com a necessária reprodução da exploração imperialista. Nesse sentido não se tratou de um fenómeno novo: nos anos 1930 os gastos militares permitiram aos EUA sair da recessão e ao mesmo tempo emergir como a grande super-potencia capitalista depois da II Guerra Mundial. A seguir, mais de quarenta anos de Guerra Fria constituíram uma importante contribuição para o crescimento do seu Produto Interno Bruto superando diversas ameaças recessivas (no fim dos anos 1940, no princípio dos anos 1980, etc). A novidade da última militarização (a partir dos finais da década de 1990) foi dado
pela extrema deformação parasitária da sociedade imperial, o que significou o desenvolvimento de uma etapa radicalmente diferente de todas as anteriores.
O declínio do centro do mundo
É necessário constatar que nos encontramos perante o declínio do centro do mundo, os Estados Unidos, e que essa decadência não corresponde à ascensão de nenhum outro centro imperialista mundial de substituição. As outras grandes potências (União Europeia, Japão, Rússia, China) encontram-se no mesmo barco global à deriva.
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o capitalismo estruturou-se em torno dos EUA, espaço fundamental de todos os negócios (produtivos, financeiros, mediáticos, etc). A sua degradação desde o princípio dos anos 1970 e a sua descida actual exprime um mal universal. O parasitismo estado-unidense não foi senão a sua manifestação específica, central, acelerada pela crise crónica global de sobreprodução (incluídos os pseudo-milagres como a expansão chinesa, o renascimento russo ou a integração europeia).
O parasita norte-americano consumia acima da sua capacidade produtiva porque as economias da Europa, China, Japão, etc, precisavam de lhe vender os seus bens e serviços, investir os seus excedentes financeiros. Tratou-se de uma interdependência cada vez mais profunda, que foi chamada de "globalização" e a propaganda neoliberal descreveu-a como uma espécie de etapa superior do capitalismo, que superava positivamente o sistema em vigor entre o fim da Segunda Guerra Mundial e a crise dos anos 1970.
Assim, foi construída a imagem idílica de um capitalismo transnacional liberto da tutela dos grandes estados nacionais e crescendo indefinidamente em torno de círculos virtuosos interligados com a revolução tecnológica, a expansão do consumo e das finanças globais. Na realidade o que se impôs foi um capitalismo global completamente hegemonizado pelos negócios financeiros e articulado em torno de um grande centro imperialista com claros sintomas de decadência, acumulando dívidas públicas e privadas, externas e internas, cada vez mais dependente das suas periferias desenvolvidas e subdesenvolvidas.
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Seria um erro grosseiro designar o fenómeno parasitário como um facto específico, exclusivo da sociedade norte-americana. Deveríamos entendê-lo como um processo mundial. A financiarização, a proliferação de redes mafiosas e negócios de gangsters (como o tráfico de drogas, a prostituição, os saqueios de empresas públicas periféricas, etc) atravessa todas as elites capitalistas dos países centrais e produz uma rápida reconversão-degradação de numerosas burguesias do chamado mundo subdesenvolvido, transformadas em autênticas lumpen-burguesias periféricas.
Poderia dizer-se que o caso chinês é a excepção, mas não é assim. A China é uma grande exportadora industrial mas acumula fabulosos excedentes financeiros e cumpre um papel muito importante nos negócios especulativos mundiais. As suas elites dirigentes são altamente corruptas e em última análise a sua industrialização é completamente funcional relativamente à reprodução do capitalismo financiarizado global, especialmente do desenvolvimento mais recente da economia norte-americana fornecendo-lhe mercadorias baratas e acumulando em troca dólares, títulos do tesouro e outros papeis. Deste modo a elite chinesa participa activamente na festa parasitária global, faz parte do restrito clube dos ricos do mundo (a sua base de operários e camponeses faz parte da massa proletária universal de pobres, oprimidos e explorados).
Por outro lado a realidade da crise desmente as fantasias dos "desligamentos" nacionais ou regionais em relação ao afundamento dos EUA. Ela mostra pelo contrário o desespero das outras grandes potências perante o declínio do seu espaço central de negócios.
O que estamos a testemunhar não é a substituição da unipolaridade por uma qualquer forma de multipolaridade eficaz, por uma repartição completa do mundo entre potências centrais, e sim a sua substituição paulatina por um processo de despolarização onde se vão abrindo múltiplos espaços em que os controlos imperialistas (norte-americanos, europeus e outros) estão a afrouxar. Ou seja, onde a articulação capitalista do mundo se debilita ao ritmo da crise. E os antecedentes históricos (sobretudo se pensarmos no que ocorreu a partir da Primeira Guerra Mundial) assinalam que se isso ocorrer, se a hierarquia mundial do capitalismo (económica, política, cultural, militar) entrar em crise então irrompem as condições objectivas e subjectivas para as rebeliões das vítimas do sistema.
Não se trata de um processo ordenado, inclui tentativas de reinstauração imperialista, de reconversão estratégica dos mecanismos de dominação (como aquele actualmente em curso nos EUA sob a presidência de Barack Obama), de aproveitamentos por parte de outras grandes potências que tentam apropriar-se de espaços onde o poder imperial norte-americano se debilitou, de autonomizações periféricas às vezes bem sucedidas e outras muito confusas e condenadas ao fracasso. Quando certos gurus ocidentais mostram a sua preocupação perante o possível desenvolvimento do que qualificam como despolarização caótica [4] estão a exprimir um grande medo universal, consciente ou inconsciente, face à perspectiva do reaparecimento do odiado fantasma anti-capitalista, várias vezes declarado morto e exorcizado, mas sempre ameaçador.
O desenlace de 2007-2008, início do longo crepúsculo do sistema, não constituiu nenhuma surpresa, estava escrito nos avatares da crise controlada das últimas quatro décadas. Mais ainda, é possível detectar caminhos, processos que ao longo de cerca de dois séculos percorrem toda a história do capitalismo industrial desembocando agora no seu declínio geral, germes de parasitismo anunciadores da futura decadência presentes desde o nascimento do sistema, durante a sua expansão juvenil e muito mais durante a maturidade.
A sucessão das crises de superprodução no capitalismo ocidental durante o século XIX não assinalou um simples encadeamento de quedas e recuperações a níveis cada vez mais altos de desenvolvimento das forças produtivas. A seguir a cada depressão o sistema recompunha-se, mas acumulando no seu percurso massas crescentes de parasitismo.
O cancro financeiro irrompeu triunfal entre fins do século XIX e princípios do século XX e ganhou o controlo absoluto do sistema sete ou oito décadas depois. Mas o seu desenvolvimento havia começado muito tempo antes, financiando estruturas industriais e comerciais cada vez mais concentradas e os estados imperialistas em que se expandiam as burocracias civis e militares. A hegemonia da ideologia do progresso e do discurso do discurso produtivista serviu para ocultar o fenómeno, instalou a ideia de que o capitalismo, ao contrário das civilizações anteriores não acumulava parasitismo senão forças produtivas que ao se expandirem criavam problemas de inadaptação superáveis no interior do sistema mundial, resolvidos através de processos de "destruição criadora". O parasitismo capitalista em grande escala, quando se tornava evidente, era considerado como uma forma de "atraso" ou uma "degeneração" passageira na marcha ascendente da modernidade.
A dita maré ideológica apanhou também boa parte do anti-capitalismo (em última instância "progressista") dos séculos XIX e XX, convencido de que a corrente imparável do desenvolvimento das forças produtivas acabaria por enfrentar o bloqueio das relações capitalistas de produção, saltando por cima delas, esmagando-as com uma avalanche revolucionária de operários industriais dos países mais "desenvolvidos" a que se seguiriam os chamados países "atrasados". A ilusão do progresso indefinido (mais ou menos turbulento) ocultou a perspectiva de decadência. Dessa maneira deixou a meio caminho o pensamento crítico, retirou-lhe radicalidade, com evidentes consequências culturais negativas para os movimentos de emancipação dos oprimidos do centro e da periferia.
Pelo seu lado, o militarismo moderno afunda as suas raízes no século XX ocidental, desde as guerras napoleónicas, chegando à guerra franco-prussiana, até irromper na Primeira Guerra Mundial como "Complexo Militar Industrial". A princípio foi percebido como um instrumento privilegiado das estratégias imperialistas e mais adiante como reactivador económico do capitalismo. Via-se apenas um aspecto do problemas mas ignorava-se ou subestimava-se a sua profunda natureza parasitária, o facto de que por trás do monstro militar ao serviço da reprodução do sistema ocultava-se um monstro muito mais poderoso a longo prazo, consumidor improdutivo, multiplicador de desequilíbrios, de irracionalidade no sistema de poder.
Actualmente o Complexo Militar Industrial norte-americano (em torno do qual se reproduzem os dos seus sócios da NATO) gasta em termos reais mais de um milhão de milhões de dólares por ano [5] , contribui de modo crescente para o défice fiscal e consequentemente para o endividamento do Império (e para a prosperidade dos negócios financeiros beneficiários do referido défice). A sua eficácia militar é declinante mas a sua burocracia é cada vez maior. A corrupção penetrou em todas as suas actividades, já não é o grande gerador de empregos como em outras épocas pois o desenvolvimento da tecnologia industrial-militar reduziu significativamente essa função. A época do keynesianismo militar como estratégia anti-crise eficaz pertence ao passado [6] .
Presenciamos nos Estados Unidos a integração de negócios entre a esfera industrial-militar, as redes financeiras, as grandes empresas energéticas, as camarilhas mafiosas, as "empresas" de segurança e outras actividades muito dinâmicas, conformando o espaço dominante do sistema de poder imperial.
O Pico Petrolífero
Tão pouco a crise energética decorrente da chegada do "Peak Oil" (o ponto de máxima produção petrolífera mundial a partir do qual inicia-se o seu declínio) deveria ser restringida à história das últimas décadas. É necessário entendê-la como fase declinante do longo ciclo da exploração moderna dos recursos naturais não renováveis, desde o princípio do capitalismo industrial, que pôde realizar o seu arranque e posterior expansão graças a esses produtos energéticos abundantes, baratos e facilmente transportáveis desenvolvendo primeiro o ciclo do carvão sob hegemonia inglesa no século XIX e a seguir o do petróleo sob a hegemonia norte-americana no século XX.
Esse ciclo energético bisecular condicionou todo o desenvolvimento tecnológico do sistema e foi a vanguarda da dinâmica predatória do capitalismo estendida ao conjunto dos recursos naturais e do ecosistema em geral.
Aquilo que durante dois séculos foi considerado como uma das grandes proeza da civilização burguesa, a sua aventura industrial e tecnológica, surge agora como a mãe de todos os desastres, como uma expansão predatória que põe em perigo a sobrevivência da espécie humana que a havia desencadeado.
Em síntese: O desenvolvimento da civilização burguesa durante os últimos dois séculos (com raízes num passado ocidental muito mais prolongado) terminou por engendrar um processo irreversível de decadência. A depredação ambiental e a expansão parasitária, estreitamente inter-relacionadas, estão na base do fenómeno.
A dinâmica do desenvolvimento económico do capitalismo, marcada por uma sucessão de crises de super-produção, constitui o motor do processo predatório-parasitário que leva inevitavelmente a uma crise prolongada de sub-produção . A partir de uma visão superficial poder-se-ia concluir que a referida crise foi causada por factores exógenos ao sistema: perturbações climáticas, escassez de recursos energéticos, etc, que bloqueiam ou inclusive fazem retroceder o desenvolvimento das forças produtivas. Contudo, uma reflexão mais rigorosa demonstra-nos que a penúria energética e a degradação ambiental são o resultado da dinâmica predatória do capitalismo, obrigado a crescer indefinidamente para não perecer, ainda que o referido crescimento termine por destruir o sistema.
Existe uma inter-relação dialéctica perversa entre a expansão da massa global de lucros, a sua velocidade crescente, a multiplicação das estruturas burocráticas civis e militares de controle social, a concentração mundial de rendimentos, a ascensão da maré parasitária e a depredação do ecosistema.
As revoluções tecnológicas do capitalismo aparentemente foram as suas tábuas de salvação e continuaram a sê-lo durante muito tempo, incrementando a produtividade industrial e agrária, melhorando as comunicações e transportes, etc. Mas no prazo histórico, no balanço de vários séculos, constituem a sua armadilha mortal: terminam por degradar o desenvolvimento que impulsionaram por estarem baseadas estruturalmente na depredação ambiental, por gerar um crescimento exponencial de massas humanas super-exploradas e marginalizadas.
A cultura técnica da civilização burguesa apoia-se num duplo combate: o do homem contra a "natureza" (o contexto ambiental da sua vida) convertida em objecto de exploração, realidade exterior e hostil que é necessário dominar, devorar e em consequência do homem (burguês) contra o homem (explorado, dominado) convertido em objecto manipulável.
O progresso técnico integra assim o processo de auto-destruição geral do capitalismo na rota rumo a um horizonte de barbárie. Esta ideia vai muito além do conceito de bloqueio tecnológico ou de "limite estrutural do sistema tecnológico" tal como foi formulado por Bertrand Gille [7] . Não se trata da incapacidade do sistema tecnológico da civilização burguesa de continuar a desenvolver forças produtivas e sim da sua alta capacidade enquanto instrumento de destruição líquida de forças produtivas.
Em síntese, a história das crises de super-produção conclui com uma crise geral de sub-produção, como um processo de destruição, de decadência sistémica a longo prazo. Isto significa que a superação necessária do capitalismo não surge como o passo indispensável para prosseguir "a marcha do progresso" e sim em primeiro lugar como tentativa de sobrevivência humana e do seu contexto ambiental.
O processo de decadência em curso deve ser visto como a fase descendente de um longo ciclo histórico iniciado em fins do século XVIII [8] que contou com dois grandes articuladores, hoje declinantes: o ciclo da dominação imperialista anglo-norte-americano (etapa inglesa no século XIX e norte-americana no século XX) e o ciclo do estado burguês desde a sua etapa "liberal industrial" no século XIX, passando pela sua etapa intervencionista produtiva (keynesiana clássica) em boa parte do século XX para chegar à sua degradação "neoliberal" a partir dos anos 1970-1980.
Por fim, é necessário assinalar que a convergência de numerosas "crises" mundiais pode indicar a existência de uma perturbação grave mas não necessariamente a instalação de um processo de decadência geral do sistema. A decadência aparece como a última etapa de um longo super ciclo histórico, a sua fase declinante, o seu envelhecimento irreversível (a sua senilidade), o esgotamento das suas diversas funções. Extremando os reducionismos tão praticados pelas "ciências sociais" poderíamos falar de "ciclos" energético, alimentar, militar, financeiro, produtivo, estatal, etc, e assim descrever em cada caso trajectórias que arrancam no Ocidente entre fins do século XVIII e princípios do século XIX com raízes anteriores e envolvendo espaços geográficos crescentes até assumir finalmente uma dimensão planetária e a seguir declinar em cada um deles. A coincidência histórica de todas essas declinações e a fácil detecção de densas inter-relações entre todos esses "ciclos" sugere-nos a existência de um único super ciclo que os inclui a todos. Dito de outra maneira, a hipótese é que se trata do ciclo da civilização burguesa que se exprime através de uma multiplicidade de "aspectos" (produtivo, moral, político, militar, ambiental, etc).
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Nostalgias, heranças e esperanças
Pululam na esquerda os nostálgicos do século XX, que é apresentado como um período de grandes revoluções socialistas e anti-imperialistas, desde a revolução russa até a vitória vietnamita, passando pela revolução chinesas, as vitórias anti-colonialistas na Ásia e na África, etc. Frente a essa sucessão de ondas revolucionárias o que sucedeu depois, nas últimas década do século XX, surge como uma desgraça.
Mas também é possível olhar esse "período maravilhoso" como uma sucessão de desilusões, de tentativa libertadoras fracassadas. Além disso as esperanças (embaladas desde meados do século XIX) de vitórias proletárias no coração do mundo burguês, na Europa mais desenvolvida e inclusive na neo-Europa norte-americana nunca se concretizaram. O peso cultural do capitalismo gerando barbáries fascistas ou "civilizadas" integrações keynesianas dissipou toda possibilidade de superação pós-capitalista. A última grande crise do sistema, desencadeada em princípios dos anos 1970, não produziu um deslizamento do mundo para a esquerda e sim exactamente o contrário.
Tudo isso contribuiu para confirmar a crença simplista, demolidora, de que o capital "sempre encontra alguma saída" (tecnológica, política, militar, etc) para a sua crise. Trata-se de um preconceito com raízes muito profundas, forjado durante muito tempo.
Destruir esse mito constitui uma tarefa decisiva no processo de superação da decadência. Se esse objectivo não for conseguido a armadilha burguesa nos impedirá de sair de um mundo que se vai afundando na barbárie. Assim aconteceu ao longo da história com outras civilizações decadentes que puderam preservar a sua hegemonia cultural degradando, neutralizando uma após a outra todas as possíveis saídas superadoras.
Contudo, o facto de que o capitalismo tenha entrado no seu período de declínio significa, entre outras coisas, o surgimento de condições civilizacionais para a irrupção de elementos práticos e teóricos que poderiam servir de base para o arranque (destrutivo-criador) do anti-capitalismo enquanto fenómeno universal. Para isso é necessário (urgente) desenvolver a crítica radical e integrá-la com as resistências e os movimentos insurgentes e, a partir daí, com o leque mais amplo de massas populares golpeadas pelo sistema.
A chave histórica desse processo necessário é o surgimento de um movimento anti-capitalista plural, inovador (que poderíamos denominar numa primeira aproximação como humanismo revolucionário ou comunismo radical) consagrado ao desenvolvimento de tópicos populares revolucionários, de rupturas, revoluções, destruições dos sistemas de poder, de opressões imperialistas, de estruturas de reprodução do capitalismo. O seu arranque pode ser pensado como um duplo fenómeno de inovação social e de recuperação de memórias, de projectos de igualdade e de liberdade que atravessaram os dois últimos séculos nos países centrais e periféricos. Complexo processo universal teórico-pratico de recuperação de raízes, identidades esmagadas pelas modernizações capitalistas, de crítica integral, intransigente contra as armadilhas ideológicas do sistema, seus diversos fetichismos (da tecnologia, da auto-realização individualista, dissociadora, do consumo desenfreado, da coisificação do eco-sistema). Guerra global prolongada, conquista destrutiva (revolucionária) dos sistemas de poder, ou seja, renascimento da ideia de revolução, de ofensiva libertadora contra os opressores internos e externos, auto-praxis emancipadora dos oprimidos, recusa combatente de todas as tentativas de estabilização do sistema.
A decadência surge sob a forma de uma imensa totalidade burguesa iniludível, sua superação só é possível a partir do desenvolvimento da sua negação absoluta, da irrupção de uma "totalidade negativa" universal [9] que nas condições concretas do século XXI deveria apresentar-se como convergência dos marginalizados, oprimidos e explorados do planeta. Não como tópico solitário ou isolado e sim como aglutinador, como espaço insurgente de encontro de um amplo leque de forças sociais rebeldes, como vítima absoluta de todos os males da civilização burguesa e em consequência como líder histórico da regeneração humana (re-instalação-recomposição da visão de Marx do "proletariado" como sujeito emancipador universal).
Aqui é necessário assinalar uma diferença decisiva entre a situação actual e as condições culturais nas quais se apoiou o ciclo de revoluções que arrancou com a Primeira Guerra Mundial. O actual princípio de crise dispõe de uma herança única que é possível resumir como a existência de um gigantesco património democrático, igualitário, acumulado ao longo do século XX através de grandes tentativas emancipadoras revolucionárias, reformistas, anti-imperialistas mais ou menos radicais, inclusive com objectivos socialistas muitas delas. Centenas de milhões de oprimidos e explorados, em todos os continentes, realizaram uma aprendizagem excepcional, obtiveram vitórias, fracassaram, foram enganados por usurpadores de todo tipo, receberam o exemplo de dirigentes heróicos, etc. Esta é outra maneira de olhar o século XX: como uma gigantesca escola de luta pela liberdade onde o melhor da humanidade aprendeu muitas coisas que ficaram gravadas na sua memória histórica não como recordação pessimista de um passado irreversível e sim como um descobrimento, como ferramenta cultura carregada definitivamente na sua mochila de combate. Por volta de 1798, quando as esperanças geradas pela Revolução Francesa agonizavam, Kant sustentava com teimosia que "um fenómeno como esse não se esquece nunca na história humana... é demasiado grande, demasiado ligado ao interesse da humanidade, demasiado difundido em virtude da sua influência sobre o mundo, por todas as suas partes, para que os povos não o recordem em alguma ocasião propícia e não sejam incitados por essa recordação a repetir a tentativa" [10] . O século XX equivale a dezenas de revoluções libertárias como a francesa e muito mais do que isso se o virmos do ponto de vista qualitativo.
O património cultural democrático disponível agora pela humanidade oprimida, armazenado na sua memória, ao principiar a maior crise da história do capitalismo, é muito mais vasto, rico, denso que o existente no princípio da anterior crise prolongada do sistema (1914-1945). O pós capitalismo não só constitui uma necessidade histórica (determinada pela decadência da civilização burguesa) como também uma possibilidade real, tem uma base cultural imensa nunca antes disponível. A esperança, o optimismo histórico surgem, são visíveis através das ruínas, das estruturas degradadas de um mundo injusto.
Quatro esclarecimentos necessários.
Primeiro : no princípio do século XXI o sistema global entrou no período de crescimento zero, negativo ou muito débil. Isso não se deve à rebelião popular contra o crescimento alienante e destruidor do meio ambiente e sim à decadência da civilização burguesa. Nos anos 1970 Joseph Gabel exprimia seus temores perante as consequências do esgotamento dos recursos naturais (era a época dos choques petrolíferos e da teoria dos "limites do crescimento") e em consequência da instalação de sociedades de penúria, de sobrevivência, fundadas na distribuição autoritária, hiper-elitista, dos escassos bens disponíveis. Gabel assinalava que as utopias igualitárias baseiam-se na abundância de bens, no fim da miséria, etc, opostas às experiências das sociedades de sobrevivência baseadas na distribuição hierárquica do poder e dos bens [11] .
Poderíamos imaginar um cenário sinistro onde após o desmoronamento da cultura do consumismo, diante da evidência do fim do crescimento (pelo menos a médio prazo), o sistema gere uma espécie de reconversão ideológica apoiada na ideia da austeridade autoritária, na instalação de um conformismo profundamente conservador e ultra-elitista escorado por um bombardeio mediático gigantesco e ininterrupto e por sistemas repressivos eficazes. Em suma, algo assim como um neofascismo estabilizador. Para realizar com êxito essa reconversão cultural o capitalismo precisaria dispor de uma capacidade de controle social universal, de assimilação das suas contradições e de um tempo de desenvolvimento que actualmente não são visíveis. Tudo parece indicar que a sua dinâmica cultural, o imenso peso dos seus interesses imediatos, as debilidades dos seus sistema de controle social (incluída a arma mediática), sua fragmentação, tornam muito pouco provável semelhante futura. Pelo contrário, a recente experiência dos falcões norte-americanos, a essência parasitária das elites dominantes mundiais, sugere cenários turbulentos de re-arranques militaristas-imperialistas, de rebeliões sociais, etc.
Fica pendente o tema o decrescimento dos recursos naturais disponíveis e em consequência das técnicas produtivas e do tipo de bens produzidos. Uma metamorfose social complexa é possível sobre a base da decadência do sistema, reinstalando utopias igualitárias baseadas por sua vez na abundância (ponto de partida para a superação do mercado, para a extensão da gratuidade, etc). Obviamente abundância de "outro tipo", fraternal, criativa e não consumista-passiva, reconciliada com a comunidade e a natureza. Dessa maneira a farsa capitalista da "abundância geral" (objectivo inalcançável, contraditório com a reprodução do sistema) ou o pesadelo da sociedade de sobrevivência (autoritária, repressiva, elitista) contrapõe-se à utopia da sociedade igualitária de abundância (outros bens, outras técnicas, outras formas de relação entre os seres humanos e destes com o seu contexto ambiental).
Segundo : Esse protagonismo radical dos oprimidos não tem de nascer durante o primeiro dia da crise. É necessário um imenso processo de gestação atravessado por rebeliões populares e reacções conservadoras, com avanços e retrocessos, uma longa marcha durante um período muito denso, turbulento (cuja duração real é imprevisível) de que estamos a dar os primeiros passos. Tempo de recuperação de memórias, de aprendizagens novas, de construção complexa de uma nova consciência.
Terceiro : A existência do património democrático global já mencionado poderia ser a base histórica da superação das frustrações socialistas do século XX, onde a reprodução da hegemonia cultural do capitalismo enlaçada com tradições muito antigas de submissão bloqueavam os processos de auto-emancipação. Reduziam-nos a movimentos de massas dirigidos por elites radicais, por dirigentes inevitavelmente autoritários, cujas vitórias derivavam em novos mecanismos de opressão. O desenvolvimento da história salta por cima da disputa sem solução entre comunistas estatistas e libertários, os primeiros desenvolvendo a possibilidade concreta da revolução mas adiando para um futuro nebuloso a democracia de base (em consequência produzindo ao mesmo tempo o facto revolucionário e as condições do seu fracasso) e os segundos ignorando a existência de um denso tecido cultural negativo penetrando até o fundo da consciência popular e então a necessidade de transições complexas, desmantelamentos de estruturas e estilos de vida, combinações pragmáticas, plurais, entre o velho e o novo.
Quarto : A periferia do capitalismo, o espaço dos povos pobres e marginalizados do planeta, surge como o lugar privilegiado para a irrupção dessas forças libertadoras. Assim vai demonstrando a realidade, desde as resistência ao Império no Iraque e Afeganistão até a onda popular democratizadora na América Latina que já inclui alguns espaços mais avançados onde se postula a superação socialista do capitalismo. Ainda que não devêssemos subestimar seus prováveis futuros prolongamentos, interacções com fenómeno de sinal igual nos países centrais, cerne visível da crise. Ali, a concentração de rendimentos, o desemprego, o empobrecimento em grande escala, estende-se ao ritmo da decadência do sistema. Cujas elites aceleram a sua degeneração parasitária o que coloca o perigo de renovadas aberturas neofascistas e imperialistas mas também a esperança na rebeldia das suas retaguardas populares internas.
A barbárie já está em marcha, mas também está em marcha a insurgência dos oprimidos.
\ Notas
(1) "Fed says worst of recession over", BBC News, 12 August 2009
(2) O conceito de capitalismo senil, tal como é utilizado neste texto, surge nos anos 1970 num trabalho de Roger Dangeville (Roger Dangeville, "Marx-Engels. La crise", editions 10/18, Paris 1978) e é retomado por vários autores na década actual: Jorge Beinstein, "Capitalismo Senil", Edições Record, Rio de Janeiro, 2001; Samir Amin , "Au delà du capitalisme senile", Actuel Marx -PUF, Paris 2002. Ver http://resistir.info/crise/beinstein_vtopo_fev09.html
(3) MIchel Husson, "Crise de la finance ou crise du capitalisme", http://hussonet.free.fr/denkntzf.pdf
(4) Richard N. Haass, "The Age of Nonpolarity. What Will Follow U.S. Dominance", Foreign Affairs , May/June 2008.
(5) Este número obtém-se somando à despesa do Departamento da Defesa as despesas de outras áreas da administração pública. Chalmers Johnson, "Going bankrupt: The US's greatest threat ", Asia Times, 24 Jan 2008.
(6) Scott B. MacDonald, "End of the guns and butter economy", Asia Times, October 31, 2007.
(7) Bertrand Gille, "Histoire des techniques", La Pléiade, Paris, 1978.
(8) Uma visão muito mais extensa integra-lo-ia no mega ciclo da civilização ocidental que arranca em princípios do segundo milénio com as cruzadas e os primeiros germes comerciais do capitalismo na Europa, atravessando a conquista da América, até chegar à revolução industrial inglesa, as guerra napoleónicas e a expansão planetária da modernidade (imperialista, de raiz ocidental, é preciso sublinhar).
(9) Franz Jakubowsky, "Les superestructures idéologiques dans la conception matérialiste de l'histoire" , Etudes et Documentation Internationales (EDI), París, 1976.
(10) Emmanuel Kant, "Filosofia de la historia", Fondo de Cultura Económica, México, 1992.
(11) Joseph Gabel "Idéologies II", éditions anthropos, París, 1978.
Textos do autor em resistir.info:
• A crise na era senil do capitalismo, 16/Mar/09
• Rumo à desintegração do sistema global, 04/Mar/09
• A junção depressiva global (radicalização da crise), 18/Fev/09
• Rostos da crise: Reflexões sobre o colapso da civilização burguesa, 12/Nov/08
• Inflação, agronegócios e crise de governabilidade, 21/Jul/08
• O naufrágio do centro do mundo: Os EUA entre a recessão e o colapso, 08/Mai/08
• No princípio da segunda etapa da crise global, 13/Fev/08
• Estados Unidos: a irresistível chegada da recessão, 06/Jun/07
• O declínio do dólar… e dos Estados Unidos, 18/Jan/07
• A solidão de Bush, o fracasso dos falcões e o desinchar das bolhas, 27/Ago/07
• A irresistível ascensão do ouro, 03/Jul/06
• O reinado do poder confuso, 12/Abr/06
• Os primeiros passos da megacrise , 24/Jan/06
• As más notícias da petroguerra , 20/Jul/05
• Pensar a decadência: O conceito de crise em princípios do século XXI, 11/Abr/05
• Os Estados Unidos no centro da crise mundial, 01/Nov/04
• A segunda etapa do governo Kirchner , 07/Out/04
• A vida depois da morte: A viabilidade do pós-capitalismo, 07/Set/04
[*] Economista, jorgebeinstein@gmail.com. Texto baseado nas comunicações apresentadas nos seminários "Margem Esquerda-István Meszaros", USP-Editorial Boitempo, São Paulo, 18-21/Agosto/2009 e "Crise global e, lavoro, democrazia", Fondazione Guido Piccini, Facultà di Economia dell Università degli Studi di Brescia, Brescia, 27-28/Noembro/2009.
LONGA VIAGEM
CREPÚSCULO DO CAPITALISMO, NOSTALGIAS, HERANÇAS, BARBÁRIE E ESPERANÇAS NO INÍCIO DO SÉCULO XXI
por Jorge Beinstein [*]
PRINCÍPIO DO FIM (OU FIM DO PRINCÍPIO) DA CRISE ?
No início de 2009 Ben Bernanke assinalou que antes do fim deste ano começariam a ver-se sintomas claros de superação da crise e por volta do mês de Agosto anunciou que "o pior da recessão ficou para trás" [1] . Antes de explodir a bomba financeira, em Setembro de 2008, Bernanke prognosticava que a referida explosão nunca chegaria a ocorrer, e quando finalmente ocorreu o seu novo prognóstico era que em pouco tempo chegaria a recuperação. Agora o presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos decidiu não esperar mais e anuncia ao mundo o começo do fim do pesadelo.
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Não foi o único a fazê-lo, uma surpreendente campanha mediática tem utilizado alguns sinais isolados para impor essa ideia. Foi deste modo que o ressurgimento da bolha global do mercado de valores desde meados de Março foi apresentada como um sintoma da melhoria geral da economia e um bando de "peritos" explicou-nos que a euforia da bolsa estava a antecipar o fim da recessão.
Na realidade as injecções maciças de dinheiro dos governos das grandes potências económicas beneficiando principalmente o sistema financeiro geraram enormes excedentes de fundos que, nas condições de um enfraquecimento generalizado da produção e do consumo, encontraram nos negócios bursáteis um espaço favorável para rentabilizar os seus capitais.
Jogando na alta dos valores das acções, eles pressionavam para cima os seus preços, o que por sua vez incitava a investir cada vez mais dinheiro na Bolsa. A isto devemos acrescentar que o motor da euforia bolsista mundial, a bolsa dos Estados Unidos, além do dinheiro derivado dos salvamentos locais, tem estado a receber importantes fluxos de fundos especulativos externos que, aproveitando a queda persistente do dólar, se precipitaram a comprar acções baratas e em alta.
Repetiu-se assim a sequência especulativa de finais dos anos 1990 e 2007 mas com uma diferença decisiva: o contexto da bolha actual não é de crescimento da economia e sim de recessão (ou, no melhor dos casos, de estagnação). As bolhas anteriores (bolsistas, imobiliárias, comerciais, etc.) interactuavam "positivamente" com o resto das actividades económicas; as subidas dos preços das acções ou das casas alentavam o consumo e a produção e por sua vez estes crescimentos geravam fundos que em boa medida se voltavam para os negócios especulativos produzindo-se assim uma espécie de círculo virtuoso especulativo-consumista-produtivo de carácter global. Este em última análise era perverso, pois destinado a médio prazo ao desastre, mas causava prosperidade no curto prazo.
A bolha bursátil de 2009, ao contrário, contrasta com baixos níveis de consumo e investimentos produtivos e altos níveis de desemprego. Os excedentes de capitais bloqueados por uma economia produtiva em declínio conseguem lucros na especulação financeira. O que acontece então graças aos fabulosos salvamentos financeiros dos governos é um círculo vicioso baseado na especulação financeira e no crescimento débil ou negativo.
No caso do governo norte-americano este efeito negativo foi suavizado através de enormes subsídios que conseguiram escorar alguns consumos e desse modo desacelerar primeiro e mais adiante reverter a curva descendente do Produto Interno Bruto. Às fortes quedas do último trimestre de 2008 e do primeiro de 2009 sucedeu uma descida suave no segundo semestre e um crescimento no terceiro impulsionado pelos subsídios governamentais para a compra de automóveis e casas, mais os gastos militares. Mas, por trás desta efémera recuperação aparece a expansão desenfreada do défice fiscal e do endividamento público.
Crescimentos "drogados"
É evidente que a economia norte-americana não sai da armadilha da decadência, dos alívios transitórios, das tentativas de recuperação. Os crescimentos "drogados" fortalecem e recompõem os mecanismos parasitários que conduziram ao desastre actual. E o afundamento do império (do centro articulador do mundo capitalista) arrasta o conjunto do sistema mundial.
Agora, nos fins de 2009, encontramo-nos à espera de uma próxima segunda queda recessiva (o ano de 2010 poderia ser o ano da referida catástrofe) certamente muito mais forte do que a desencadeada no último trimestre de 2008. Os salvamentos financeiros globais de 2008-2009 desaceleraram a queda económica, mas gerando enormes défices fiscais nas potências centrais o que as coloca perante graves ameaças inflacionárias e de extremo enfraquecimento na capacidade de pagamento dos seus Estados, cuja generosidade fiscal (para as grandes empresas e as instituições financeiras) não conseguiu gerar o esperado arranque do investimento e do consumo que anunciavam os seus dirigentes.
Segundo eles, esse prometido "golpe de procura" deveria produzir a reactivação durável da economia mundial e em consequência a redução dos défices, a anulação do perigo hiper-inflacionário, etc. Apenas conseguiram modestas reactivações de certos consumos, algumas ilusões estatísticas (crescimentos do PIB, etc) e mais parasitismo. O fracasso é evidente, o que não impede que voltem uma e outra vez a aplicar os seus inúteis remédios intervencionistas (numa curiosa combinação ideológica de neoliberalismo e neo-keynesianismo financeiro). Fá-lo-ão até que se lhes esgotem os recursos, prisioneiros da loucura geral do sistema. Nos seus cérebros não entra a realidade da mudança violenta de época que tornou obsoletos os seus velhos instrumentos.
Pior ainda, não se trata apenas de uma "crise económica", outras "crises" estão à vista e a qualquer momento poderiam golpear com força um sistema global muito frágil. Dentre elas devemos destacar as crises energética e alimentar (que se fizeram sentir durante o ano de 2008). Ou a degradação do complexo militar-industrial dos Estados Unidos envolvendo o conjunto de aparelhos militares da NATO atolados nas guerras do Iraque e Afeganistão-Paquistão, afundado numa catastrófica crise de percepção: a surpreendente resistência desses povos periféricos supera a sua capacidade de compreensão da realidade. Repete-se a níveis muito mais elevados o "efeito Vietname" ou o desconcerto de Hitler perante a avalancha soviética.
Também é necessário mencionar a crise urbana e ambiental que junto ao declínio de valores morais e culturais, de crenças sociais, vão afogando gradualmente os paradigmas decisivos do mundo burguês, desordenando e deteriorando os sistemas políticos, as estruturas de inovação produtiva, os mecanismos de manipulação mediática.
Em suma, encontramo-nos perante a aparência de uma convergência de numerosas "crises". Na realidade trata-se de uma única crise gigantesca, com diversos rostos, de dimensão (planetária) nunca antes vista na História. O seu aspecto é de um grande crepúsculo que ameaça prolongar-se durante um longo período.
1968-2007: a etapa preparatória
A crise actual teve um longo período de gestação (aproximadamente entre 1968 e 2007), durante o qual se desenvolveu uma crise crónica de sobre-produção que foi acumulando parasitismo e depredação do ecossistema. O processo dessas quatro décadas pode ser interpretado como um adiamento do desastre graças à expansão financeiro-militar (centrada nos EUA), a integração periférica de mão-de-obra industrial barata (China, etc), a depredação acelerada de recursos naturais (em especial os energéticos não renováveis) e a pilhagem financeira de um amplo leque de países subdesenvolvidos. Também pode ser visto sob a forma de uma fuga para a frente do sistema, impulsionada pelos seus grandes motores parasitários.
Ambas as visões deveriam ser integradas utilizando o conceito de capitalismo senil [2] , quer dizer um fenómeno de envelhecimento avançado do sistema que emprega todo o seu complexo instrumental anti-crise acumulado numa longa história bisecular mas que não obstante não pode impedir o agravamento das suas enfermidades, da sua decadência.
A expansão do parasitismo e o declínio da dinâmica produtiva global constituem processos estreitamente ligados: desde meados dos anos 1970 as taxas de crescimento do Produto Bruto Mundial moveram-se de maneira irregular em torno de uma linha descendente enquanto a especulação financeira se expandia a um ritmo vertiginoso.
Se observarmos o comportamento das três economias centrais, os EUA, a União Europeia e o Japão, constataremos que ao longo das três últimas décadas a queda das suas taxas de crescimento do capital líquido (a taxa de acumulação) contrastou com o aumento dos lucros empresariais. A chave do fenómeno está na crescente orientação do conjunto dessas economias para a especulação financeira [3] . A hipertrofia financeira foi por sua vez a causa e o efeito da decadência produtiva. A desaceleração da chamada "economia real" gerava fundos ociosos que eram lançados na especulação como via de saída para rentabilizar o capital. Em consequência as referidas actividades se expandiam absorvendo capitais disponíveis, dominando com a sua subcultura virtual do lucro imediato a totalidade do sistema, degenerando-o, fazendo-o perder dinamismo. Um estudo rigoroso do fenómeno demonstra que não existem duas esferas opostas, uma financeira, a outra produtiva com comportamentos diferenciados. Pelo contrário, encontramo-nos perante um único espaço de negócios fortemente interrelacionados, muitas vezes com operadores económicos combinando ambas as actividades. Do ponto de vista macroeconómico não é possível descrever as suas trajectórias sem as integrar numa dinâmica capitalista comum apontando para a maximização dos lucros.
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Por sua vez, o Complexo Militar-industrial norte-americano sofreu um golpe muito duro ao ser derrotado no Vietname em meados dos anos 1970, mas as necessidades estruturais do capitalismo deram-lhe um novo impulso e realizou um enorme salto quantitativo ao começar a década de 1980 com o mega programa militar do presidente Reagan. A seguir pareceu ficar bloqueado com a vitória dos EUA na Guerra Fria no princípio dos anos 1990. Como legitimar os aumentos de gastos quando o inimigo havia desaparecido? Contudo, no final dessa década o Império havia conseguido fabricar um estranho "inimigo" que permitiu uma nova expansão militarista.
Foi o "terrorismo internacional", um adversário difuso, altamente virtual, justificação para uma prolongada aventura colonial na Eurásia, tentando controlar a faixa territorial que se estende desde os Balcãs até ao Paquistão, atravessando o Iraque, o Irão, os países da Ásia Central, em cujo interior (em redor do Golfo Pérsico e da bacia do Mar Cáspio) se encontra cerca de 70% dos recursos petrolíferos do planeta.
A vitória nessa guerra teria permitido ao Império encurralar a Rússia e a China e assegurar a fidelidade do seu grande aliado estratégico, a União Europeia, consolidando assim a sua hegemonia, impondo condições financeiras e comerciais muito duras ao resto do mundo já que a economia imperial declinante necessitava de doses crescentes de riquezas externas para sobreviver.
Tal como no passado, conjugaram-se as necessidades "internas" próprias da reprodução da economia norte-americana (em que os gastos militares cumprem um papel decisivo) com a necessária reprodução da exploração imperialista. Nesse sentido não se tratou de um fenómeno novo: nos anos 1930 os gastos militares permitiram aos EUA sair da recessão e ao mesmo tempo emergir como a grande super-potencia capitalista depois da II Guerra Mundial. A seguir, mais de quarenta anos de Guerra Fria constituíram uma importante contribuição para o crescimento do seu Produto Interno Bruto superando diversas ameaças recessivas (no fim dos anos 1940, no princípio dos anos 1980, etc). A novidade da última militarização (a partir dos finais da década de 1990) foi dado
pela extrema deformação parasitária da sociedade imperial, o que significou o desenvolvimento de uma etapa radicalmente diferente de todas as anteriores.
O declínio do centro do mundo
É necessário constatar que nos encontramos perante o declínio do centro do mundo, os Estados Unidos, e que essa decadência não corresponde à ascensão de nenhum outro centro imperialista mundial de substituição. As outras grandes potências (União Europeia, Japão, Rússia, China) encontram-se no mesmo barco global à deriva.
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, o capitalismo estruturou-se em torno dos EUA, espaço fundamental de todos os negócios (produtivos, financeiros, mediáticos, etc). A sua degradação desde o princípio dos anos 1970 e a sua descida actual exprime um mal universal. O parasitismo estado-unidense não foi senão a sua manifestação específica, central, acelerada pela crise crónica global de sobreprodução (incluídos os pseudo-milagres como a expansão chinesa, o renascimento russo ou a integração europeia).
O parasita norte-americano consumia acima da sua capacidade produtiva porque as economias da Europa, China, Japão, etc, precisavam de lhe vender os seus bens e serviços, investir os seus excedentes financeiros. Tratou-se de uma interdependência cada vez mais profunda, que foi chamada de "globalização" e a propaganda neoliberal descreveu-a como uma espécie de etapa superior do capitalismo, que superava positivamente o sistema em vigor entre o fim da Segunda Guerra Mundial e a crise dos anos 1970.
Assim, foi construída a imagem idílica de um capitalismo transnacional liberto da tutela dos grandes estados nacionais e crescendo indefinidamente em torno de círculos virtuosos interligados com a revolução tecnológica, a expansão do consumo e das finanças globais. Na realidade o que se impôs foi um capitalismo global completamente hegemonizado pelos negócios financeiros e articulado em torno de um grande centro imperialista com claros sintomas de decadência, acumulando dívidas públicas e privadas, externas e internas, cada vez mais dependente das suas periferias desenvolvidas e subdesenvolvidas.
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Seria um erro grosseiro designar o fenómeno parasitário como um facto específico, exclusivo da sociedade norte-americana. Deveríamos entendê-lo como um processo mundial. A financiarização, a proliferação de redes mafiosas e negócios de gangsters (como o tráfico de drogas, a prostituição, os saqueios de empresas públicas periféricas, etc) atravessa todas as elites capitalistas dos países centrais e produz uma rápida reconversão-degradação de numerosas burguesias do chamado mundo subdesenvolvido, transformadas em autênticas lumpen-burguesias periféricas.
Poderia dizer-se que o caso chinês é a excepção, mas não é assim. A China é uma grande exportadora industrial mas acumula fabulosos excedentes financeiros e cumpre um papel muito importante nos negócios especulativos mundiais. As suas elites dirigentes são altamente corruptas e em última análise a sua industrialização é completamente funcional relativamente à reprodução do capitalismo financiarizado global, especialmente do desenvolvimento mais recente da economia norte-americana fornecendo-lhe mercadorias baratas e acumulando em troca dólares, títulos do tesouro e outros papeis. Deste modo a elite chinesa participa activamente na festa parasitária global, faz parte do restrito clube dos ricos do mundo (a sua base de operários e camponeses faz parte da massa proletária universal de pobres, oprimidos e explorados).
Por outro lado a realidade da crise desmente as fantasias dos "desligamentos" nacionais ou regionais em relação ao afundamento dos EUA. Ela mostra pelo contrário o desespero das outras grandes potências perante o declínio do seu espaço central de negócios.
O que estamos a testemunhar não é a substituição da unipolaridade por uma qualquer forma de multipolaridade eficaz, por uma repartição completa do mundo entre potências centrais, e sim a sua substituição paulatina por um processo de despolarização onde se vão abrindo múltiplos espaços em que os controlos imperialistas (norte-americanos, europeus e outros) estão a afrouxar. Ou seja, onde a articulação capitalista do mundo se debilita ao ritmo da crise. E os antecedentes históricos (sobretudo se pensarmos no que ocorreu a partir da Primeira Guerra Mundial) assinalam que se isso ocorrer, se a hierarquia mundial do capitalismo (económica, política, cultural, militar) entrar em crise então irrompem as condições objectivas e subjectivas para as rebeliões das vítimas do sistema.
Não se trata de um processo ordenado, inclui tentativas de reinstauração imperialista, de reconversão estratégica dos mecanismos de dominação (como aquele actualmente em curso nos EUA sob a presidência de Barack Obama), de aproveitamentos por parte de outras grandes potências que tentam apropriar-se de espaços onde o poder imperial norte-americano se debilitou, de autonomizações periféricas às vezes bem sucedidas e outras muito confusas e condenadas ao fracasso. Quando certos gurus ocidentais mostram a sua preocupação perante o possível desenvolvimento do que qualificam como despolarização caótica [4] estão a exprimir um grande medo universal, consciente ou inconsciente, face à perspectiva do reaparecimento do odiado fantasma anti-capitalista, várias vezes declarado morto e exorcizado, mas sempre ameaçador.
O desenlace de 2007-2008, início do longo crepúsculo do sistema, não constituiu nenhuma surpresa, estava escrito nos avatares da crise controlada das últimas quatro décadas. Mais ainda, é possível detectar caminhos, processos que ao longo de cerca de dois séculos percorrem toda a história do capitalismo industrial desembocando agora no seu declínio geral, germes de parasitismo anunciadores da futura decadência presentes desde o nascimento do sistema, durante a sua expansão juvenil e muito mais durante a maturidade.
A sucessão das crises de superprodução no capitalismo ocidental durante o século XIX não assinalou um simples encadeamento de quedas e recuperações a níveis cada vez mais altos de desenvolvimento das forças produtivas. A seguir a cada depressão o sistema recompunha-se, mas acumulando no seu percurso massas crescentes de parasitismo.
O cancro financeiro irrompeu triunfal entre fins do século XIX e princípios do século XX e ganhou o controlo absoluto do sistema sete ou oito décadas depois. Mas o seu desenvolvimento havia começado muito tempo antes, financiando estruturas industriais e comerciais cada vez mais concentradas e os estados imperialistas em que se expandiam as burocracias civis e militares. A hegemonia da ideologia do progresso e do discurso do discurso produtivista serviu para ocultar o fenómeno, instalou a ideia de que o capitalismo, ao contrário das civilizações anteriores não acumulava parasitismo senão forças produtivas que ao se expandirem criavam problemas de inadaptação superáveis no interior do sistema mundial, resolvidos através de processos de "destruição criadora". O parasitismo capitalista em grande escala, quando se tornava evidente, era considerado como uma forma de "atraso" ou uma "degeneração" passageira na marcha ascendente da modernidade.
A dita maré ideológica apanhou também boa parte do anti-capitalismo (em última instância "progressista") dos séculos XIX e XX, convencido de que a corrente imparável do desenvolvimento das forças produtivas acabaria por enfrentar o bloqueio das relações capitalistas de produção, saltando por cima delas, esmagando-as com uma avalanche revolucionária de operários industriais dos países mais "desenvolvidos" a que se seguiriam os chamados países "atrasados". A ilusão do progresso indefinido (mais ou menos turbulento) ocultou a perspectiva de decadência. Dessa maneira deixou a meio caminho o pensamento crítico, retirou-lhe radicalidade, com evidentes consequências culturais negativas para os movimentos de emancipação dos oprimidos do centro e da periferia.
Pelo seu lado, o militarismo moderno afunda as suas raízes no século XX ocidental, desde as guerras napoleónicas, chegando à guerra franco-prussiana, até irromper na Primeira Guerra Mundial como "Complexo Militar Industrial". A princípio foi percebido como um instrumento privilegiado das estratégias imperialistas e mais adiante como reactivador económico do capitalismo. Via-se apenas um aspecto do problemas mas ignorava-se ou subestimava-se a sua profunda natureza parasitária, o facto de que por trás do monstro militar ao serviço da reprodução do sistema ocultava-se um monstro muito mais poderoso a longo prazo, consumidor improdutivo, multiplicador de desequilíbrios, de irracionalidade no sistema de poder.
Actualmente o Complexo Militar Industrial norte-americano (em torno do qual se reproduzem os dos seus sócios da NATO) gasta em termos reais mais de um milhão de milhões de dólares por ano [5] , contribui de modo crescente para o défice fiscal e consequentemente para o endividamento do Império (e para a prosperidade dos negócios financeiros beneficiários do referido défice). A sua eficácia militar é declinante mas a sua burocracia é cada vez maior. A corrupção penetrou em todas as suas actividades, já não é o grande gerador de empregos como em outras épocas pois o desenvolvimento da tecnologia industrial-militar reduziu significativamente essa função. A época do keynesianismo militar como estratégia anti-crise eficaz pertence ao passado [6] .
Presenciamos nos Estados Unidos a integração de negócios entre a esfera industrial-militar, as redes financeiras, as grandes empresas energéticas, as camarilhas mafiosas, as "empresas" de segurança e outras actividades muito dinâmicas, conformando o espaço dominante do sistema de poder imperial.
O Pico Petrolífero
Tão pouco a crise energética decorrente da chegada do "Peak Oil" (o ponto de máxima produção petrolífera mundial a partir do qual inicia-se o seu declínio) deveria ser restringida à história das últimas décadas. É necessário entendê-la como fase declinante do longo ciclo da exploração moderna dos recursos naturais não renováveis, desde o princípio do capitalismo industrial, que pôde realizar o seu arranque e posterior expansão graças a esses produtos energéticos abundantes, baratos e facilmente transportáveis desenvolvendo primeiro o ciclo do carvão sob hegemonia inglesa no século XIX e a seguir o do petróleo sob a hegemonia norte-americana no século XX.
Esse ciclo energético bisecular condicionou todo o desenvolvimento tecnológico do sistema e foi a vanguarda da dinâmica predatória do capitalismo estendida ao conjunto dos recursos naturais e do ecosistema em geral.
Aquilo que durante dois séculos foi considerado como uma das grandes proeza da civilização burguesa, a sua aventura industrial e tecnológica, surge agora como a mãe de todos os desastres, como uma expansão predatória que põe em perigo a sobrevivência da espécie humana que a havia desencadeado.
Em síntese: O desenvolvimento da civilização burguesa durante os últimos dois séculos (com raízes num passado ocidental muito mais prolongado) terminou por engendrar um processo irreversível de decadência. A depredação ambiental e a expansão parasitária, estreitamente inter-relacionadas, estão na base do fenómeno.
A dinâmica do desenvolvimento económico do capitalismo, marcada por uma sucessão de crises de super-produção, constitui o motor do processo predatório-parasitário que leva inevitavelmente a uma crise prolongada de sub-produção . A partir de uma visão superficial poder-se-ia concluir que a referida crise foi causada por factores exógenos ao sistema: perturbações climáticas, escassez de recursos energéticos, etc, que bloqueiam ou inclusive fazem retroceder o desenvolvimento das forças produtivas. Contudo, uma reflexão mais rigorosa demonstra-nos que a penúria energética e a degradação ambiental são o resultado da dinâmica predatória do capitalismo, obrigado a crescer indefinidamente para não perecer, ainda que o referido crescimento termine por destruir o sistema.
Existe uma inter-relação dialéctica perversa entre a expansão da massa global de lucros, a sua velocidade crescente, a multiplicação das estruturas burocráticas civis e militares de controle social, a concentração mundial de rendimentos, a ascensão da maré parasitária e a depredação do ecosistema.
As revoluções tecnológicas do capitalismo aparentemente foram as suas tábuas de salvação e continuaram a sê-lo durante muito tempo, incrementando a produtividade industrial e agrária, melhorando as comunicações e transportes, etc. Mas no prazo histórico, no balanço de vários séculos, constituem a sua armadilha mortal: terminam por degradar o desenvolvimento que impulsionaram por estarem baseadas estruturalmente na depredação ambiental, por gerar um crescimento exponencial de massas humanas super-exploradas e marginalizadas.
A cultura técnica da civilização burguesa apoia-se num duplo combate: o do homem contra a "natureza" (o contexto ambiental da sua vida) convertida em objecto de exploração, realidade exterior e hostil que é necessário dominar, devorar e em consequência do homem (burguês) contra o homem (explorado, dominado) convertido em objecto manipulável.
O progresso técnico integra assim o processo de auto-destruição geral do capitalismo na rota rumo a um horizonte de barbárie. Esta ideia vai muito além do conceito de bloqueio tecnológico ou de "limite estrutural do sistema tecnológico" tal como foi formulado por Bertrand Gille [7] . Não se trata da incapacidade do sistema tecnológico da civilização burguesa de continuar a desenvolver forças produtivas e sim da sua alta capacidade enquanto instrumento de destruição líquida de forças produtivas.
Em síntese, a história das crises de super-produção conclui com uma crise geral de sub-produção, como um processo de destruição, de decadência sistémica a longo prazo. Isto significa que a superação necessária do capitalismo não surge como o passo indispensável para prosseguir "a marcha do progresso" e sim em primeiro lugar como tentativa de sobrevivência humana e do seu contexto ambiental.
O processo de decadência em curso deve ser visto como a fase descendente de um longo ciclo histórico iniciado em fins do século XVIII [8] que contou com dois grandes articuladores, hoje declinantes: o ciclo da dominação imperialista anglo-norte-americano (etapa inglesa no século XIX e norte-americana no século XX) e o ciclo do estado burguês desde a sua etapa "liberal industrial" no século XIX, passando pela sua etapa intervencionista produtiva (keynesiana clássica) em boa parte do século XX para chegar à sua degradação "neoliberal" a partir dos anos 1970-1980.
Por fim, é necessário assinalar que a convergência de numerosas "crises" mundiais pode indicar a existência de uma perturbação grave mas não necessariamente a instalação de um processo de decadência geral do sistema. A decadência aparece como a última etapa de um longo super ciclo histórico, a sua fase declinante, o seu envelhecimento irreversível (a sua senilidade), o esgotamento das suas diversas funções. Extremando os reducionismos tão praticados pelas "ciências sociais" poderíamos falar de "ciclos" energético, alimentar, militar, financeiro, produtivo, estatal, etc, e assim descrever em cada caso trajectórias que arrancam no Ocidente entre fins do século XVIII e princípios do século XIX com raízes anteriores e envolvendo espaços geográficos crescentes até assumir finalmente uma dimensão planetária e a seguir declinar em cada um deles. A coincidência histórica de todas essas declinações e a fácil detecção de densas inter-relações entre todos esses "ciclos" sugere-nos a existência de um único super ciclo que os inclui a todos. Dito de outra maneira, a hipótese é que se trata do ciclo da civilização burguesa que se exprime através de uma multiplicidade de "aspectos" (produtivo, moral, político, militar, ambiental, etc).
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Nostalgias, heranças e esperanças
Pululam na esquerda os nostálgicos do século XX, que é apresentado como um período de grandes revoluções socialistas e anti-imperialistas, desde a revolução russa até a vitória vietnamita, passando pela revolução chinesas, as vitórias anti-colonialistas na Ásia e na África, etc. Frente a essa sucessão de ondas revolucionárias o que sucedeu depois, nas últimas década do século XX, surge como uma desgraça.
Mas também é possível olhar esse "período maravilhoso" como uma sucessão de desilusões, de tentativa libertadoras fracassadas. Além disso as esperanças (embaladas desde meados do século XIX) de vitórias proletárias no coração do mundo burguês, na Europa mais desenvolvida e inclusive na neo-Europa norte-americana nunca se concretizaram. O peso cultural do capitalismo gerando barbáries fascistas ou "civilizadas" integrações keynesianas dissipou toda possibilidade de superação pós-capitalista. A última grande crise do sistema, desencadeada em princípios dos anos 1970, não produziu um deslizamento do mundo para a esquerda e sim exactamente o contrário.
Tudo isso contribuiu para confirmar a crença simplista, demolidora, de que o capital "sempre encontra alguma saída" (tecnológica, política, militar, etc) para a sua crise. Trata-se de um preconceito com raízes muito profundas, forjado durante muito tempo.
Destruir esse mito constitui uma tarefa decisiva no processo de superação da decadência. Se esse objectivo não for conseguido a armadilha burguesa nos impedirá de sair de um mundo que se vai afundando na barbárie. Assim aconteceu ao longo da história com outras civilizações decadentes que puderam preservar a sua hegemonia cultural degradando, neutralizando uma após a outra todas as possíveis saídas superadoras.
Contudo, o facto de que o capitalismo tenha entrado no seu período de declínio significa, entre outras coisas, o surgimento de condições civilizacionais para a irrupção de elementos práticos e teóricos que poderiam servir de base para o arranque (destrutivo-criador) do anti-capitalismo enquanto fenómeno universal. Para isso é necessário (urgente) desenvolver a crítica radical e integrá-la com as resistências e os movimentos insurgentes e, a partir daí, com o leque mais amplo de massas populares golpeadas pelo sistema.
A chave histórica desse processo necessário é o surgimento de um movimento anti-capitalista plural, inovador (que poderíamos denominar numa primeira aproximação como humanismo revolucionário ou comunismo radical) consagrado ao desenvolvimento de tópicos populares revolucionários, de rupturas, revoluções, destruições dos sistemas de poder, de opressões imperialistas, de estruturas de reprodução do capitalismo. O seu arranque pode ser pensado como um duplo fenómeno de inovação social e de recuperação de memórias, de projectos de igualdade e de liberdade que atravessaram os dois últimos séculos nos países centrais e periféricos. Complexo processo universal teórico-pratico de recuperação de raízes, identidades esmagadas pelas modernizações capitalistas, de crítica integral, intransigente contra as armadilhas ideológicas do sistema, seus diversos fetichismos (da tecnologia, da auto-realização individualista, dissociadora, do consumo desenfreado, da coisificação do eco-sistema). Guerra global prolongada, conquista destrutiva (revolucionária) dos sistemas de poder, ou seja, renascimento da ideia de revolução, de ofensiva libertadora contra os opressores internos e externos, auto-praxis emancipadora dos oprimidos, recusa combatente de todas as tentativas de estabilização do sistema.
A decadência surge sob a forma de uma imensa totalidade burguesa iniludível, sua superação só é possível a partir do desenvolvimento da sua negação absoluta, da irrupção de uma "totalidade negativa" universal [9] que nas condições concretas do século XXI deveria apresentar-se como convergência dos marginalizados, oprimidos e explorados do planeta. Não como tópico solitário ou isolado e sim como aglutinador, como espaço insurgente de encontro de um amplo leque de forças sociais rebeldes, como vítima absoluta de todos os males da civilização burguesa e em consequência como líder histórico da regeneração humana (re-instalação-recomposição da visão de Marx do "proletariado" como sujeito emancipador universal).
Aqui é necessário assinalar uma diferença decisiva entre a situação actual e as condições culturais nas quais se apoiou o ciclo de revoluções que arrancou com a Primeira Guerra Mundial. O actual princípio de crise dispõe de uma herança única que é possível resumir como a existência de um gigantesco património democrático, igualitário, acumulado ao longo do século XX através de grandes tentativas emancipadoras revolucionárias, reformistas, anti-imperialistas mais ou menos radicais, inclusive com objectivos socialistas muitas delas. Centenas de milhões de oprimidos e explorados, em todos os continentes, realizaram uma aprendizagem excepcional, obtiveram vitórias, fracassaram, foram enganados por usurpadores de todo tipo, receberam o exemplo de dirigentes heróicos, etc. Esta é outra maneira de olhar o século XX: como uma gigantesca escola de luta pela liberdade onde o melhor da humanidade aprendeu muitas coisas que ficaram gravadas na sua memória histórica não como recordação pessimista de um passado irreversível e sim como um descobrimento, como ferramenta cultura carregada definitivamente na sua mochila de combate. Por volta de 1798, quando as esperanças geradas pela Revolução Francesa agonizavam, Kant sustentava com teimosia que "um fenómeno como esse não se esquece nunca na história humana... é demasiado grande, demasiado ligado ao interesse da humanidade, demasiado difundido em virtude da sua influência sobre o mundo, por todas as suas partes, para que os povos não o recordem em alguma ocasião propícia e não sejam incitados por essa recordação a repetir a tentativa" [10] . O século XX equivale a dezenas de revoluções libertárias como a francesa e muito mais do que isso se o virmos do ponto de vista qualitativo.
O património cultural democrático disponível agora pela humanidade oprimida, armazenado na sua memória, ao principiar a maior crise da história do capitalismo, é muito mais vasto, rico, denso que o existente no princípio da anterior crise prolongada do sistema (1914-1945). O pós capitalismo não só constitui uma necessidade histórica (determinada pela decadência da civilização burguesa) como também uma possibilidade real, tem uma base cultural imensa nunca antes disponível. A esperança, o optimismo histórico surgem, são visíveis através das ruínas, das estruturas degradadas de um mundo injusto.
Quatro esclarecimentos necessários.
Primeiro : no princípio do século XXI o sistema global entrou no período de crescimento zero, negativo ou muito débil. Isso não se deve à rebelião popular contra o crescimento alienante e destruidor do meio ambiente e sim à decadência da civilização burguesa. Nos anos 1970 Joseph Gabel exprimia seus temores perante as consequências do esgotamento dos recursos naturais (era a época dos choques petrolíferos e da teoria dos "limites do crescimento") e em consequência da instalação de sociedades de penúria, de sobrevivência, fundadas na distribuição autoritária, hiper-elitista, dos escassos bens disponíveis. Gabel assinalava que as utopias igualitárias baseiam-se na abundância de bens, no fim da miséria, etc, opostas às experiências das sociedades de sobrevivência baseadas na distribuição hierárquica do poder e dos bens [11] .
Poderíamos imaginar um cenário sinistro onde após o desmoronamento da cultura do consumismo, diante da evidência do fim do crescimento (pelo menos a médio prazo), o sistema gere uma espécie de reconversão ideológica apoiada na ideia da austeridade autoritária, na instalação de um conformismo profundamente conservador e ultra-elitista escorado por um bombardeio mediático gigantesco e ininterrupto e por sistemas repressivos eficazes. Em suma, algo assim como um neofascismo estabilizador. Para realizar com êxito essa reconversão cultural o capitalismo precisaria dispor de uma capacidade de controle social universal, de assimilação das suas contradições e de um tempo de desenvolvimento que actualmente não são visíveis. Tudo parece indicar que a sua dinâmica cultural, o imenso peso dos seus interesses imediatos, as debilidades dos seus sistema de controle social (incluída a arma mediática), sua fragmentação, tornam muito pouco provável semelhante futura. Pelo contrário, a recente experiência dos falcões norte-americanos, a essência parasitária das elites dominantes mundiais, sugere cenários turbulentos de re-arranques militaristas-imperialistas, de rebeliões sociais, etc.
Fica pendente o tema o decrescimento dos recursos naturais disponíveis e em consequência das técnicas produtivas e do tipo de bens produzidos. Uma metamorfose social complexa é possível sobre a base da decadência do sistema, reinstalando utopias igualitárias baseadas por sua vez na abundância (ponto de partida para a superação do mercado, para a extensão da gratuidade, etc). Obviamente abundância de "outro tipo", fraternal, criativa e não consumista-passiva, reconciliada com a comunidade e a natureza. Dessa maneira a farsa capitalista da "abundância geral" (objectivo inalcançável, contraditório com a reprodução do sistema) ou o pesadelo da sociedade de sobrevivência (autoritária, repressiva, elitista) contrapõe-se à utopia da sociedade igualitária de abundância (outros bens, outras técnicas, outras formas de relação entre os seres humanos e destes com o seu contexto ambiental).
Segundo : Esse protagonismo radical dos oprimidos não tem de nascer durante o primeiro dia da crise. É necessário um imenso processo de gestação atravessado por rebeliões populares e reacções conservadoras, com avanços e retrocessos, uma longa marcha durante um período muito denso, turbulento (cuja duração real é imprevisível) de que estamos a dar os primeiros passos. Tempo de recuperação de memórias, de aprendizagens novas, de construção complexa de uma nova consciência.
Terceiro : A existência do património democrático global já mencionado poderia ser a base histórica da superação das frustrações socialistas do século XX, onde a reprodução da hegemonia cultural do capitalismo enlaçada com tradições muito antigas de submissão bloqueavam os processos de auto-emancipação. Reduziam-nos a movimentos de massas dirigidos por elites radicais, por dirigentes inevitavelmente autoritários, cujas vitórias derivavam em novos mecanismos de opressão. O desenvolvimento da história salta por cima da disputa sem solução entre comunistas estatistas e libertários, os primeiros desenvolvendo a possibilidade concreta da revolução mas adiando para um futuro nebuloso a democracia de base (em consequência produzindo ao mesmo tempo o facto revolucionário e as condições do seu fracasso) e os segundos ignorando a existência de um denso tecido cultural negativo penetrando até o fundo da consciência popular e então a necessidade de transições complexas, desmantelamentos de estruturas e estilos de vida, combinações pragmáticas, plurais, entre o velho e o novo.
Quarto : A periferia do capitalismo, o espaço dos povos pobres e marginalizados do planeta, surge como o lugar privilegiado para a irrupção dessas forças libertadoras. Assim vai demonstrando a realidade, desde as resistência ao Império no Iraque e Afeganistão até a onda popular democratizadora na América Latina que já inclui alguns espaços mais avançados onde se postula a superação socialista do capitalismo. Ainda que não devêssemos subestimar seus prováveis futuros prolongamentos, interacções com fenómeno de sinal igual nos países centrais, cerne visível da crise. Ali, a concentração de rendimentos, o desemprego, o empobrecimento em grande escala, estende-se ao ritmo da decadência do sistema. Cujas elites aceleram a sua degeneração parasitária o que coloca o perigo de renovadas aberturas neofascistas e imperialistas mas também a esperança na rebeldia das suas retaguardas populares internas.
A barbárie já está em marcha, mas também está em marcha a insurgência dos oprimidos.
\ Notas
(1) "Fed says worst of recession over", BBC News, 12 August 2009
(2) O conceito de capitalismo senil, tal como é utilizado neste texto, surge nos anos 1970 num trabalho de Roger Dangeville (Roger Dangeville, "Marx-Engels. La crise", editions 10/18, Paris 1978) e é retomado por vários autores na década actual: Jorge Beinstein, "Capitalismo Senil", Edições Record, Rio de Janeiro, 2001; Samir Amin , "Au delà du capitalisme senile", Actuel Marx -PUF, Paris 2002. Ver http://resistir.info/crise/beinstein_vtopo_fev09.html
(3) MIchel Husson, "Crise de la finance ou crise du capitalisme", http://hussonet.free.fr/denkntzf.pdf
(4) Richard N. Haass, "The Age of Nonpolarity. What Will Follow U.S. Dominance", Foreign Affairs , May/June 2008.
(5) Este número obtém-se somando à despesa do Departamento da Defesa as despesas de outras áreas da administração pública. Chalmers Johnson, "Going bankrupt: The US's greatest threat ", Asia Times, 24 Jan 2008.
(6) Scott B. MacDonald, "End of the guns and butter economy", Asia Times, October 31, 2007.
(7) Bertrand Gille, "Histoire des techniques", La Pléiade, Paris, 1978.
(8) Uma visão muito mais extensa integra-lo-ia no mega ciclo da civilização ocidental que arranca em princípios do segundo milénio com as cruzadas e os primeiros germes comerciais do capitalismo na Europa, atravessando a conquista da América, até chegar à revolução industrial inglesa, as guerra napoleónicas e a expansão planetária da modernidade (imperialista, de raiz ocidental, é preciso sublinhar).
(9) Franz Jakubowsky, "Les superestructures idéologiques dans la conception matérialiste de l'histoire" , Etudes et Documentation Internationales (EDI), París, 1976.
(10) Emmanuel Kant, "Filosofia de la historia", Fondo de Cultura Económica, México, 1992.
(11) Joseph Gabel "Idéologies II", éditions anthropos, París, 1978.
Textos do autor em resistir.info:
• A crise na era senil do capitalismo, 16/Mar/09
• Rumo à desintegração do sistema global, 04/Mar/09
• A junção depressiva global (radicalização da crise), 18/Fev/09
• Rostos da crise: Reflexões sobre o colapso da civilização burguesa, 12/Nov/08
• Inflação, agronegócios e crise de governabilidade, 21/Jul/08
• O naufrágio do centro do mundo: Os EUA entre a recessão e o colapso, 08/Mai/08
• No princípio da segunda etapa da crise global, 13/Fev/08
• Estados Unidos: a irresistível chegada da recessão, 06/Jun/07
• O declínio do dólar… e dos Estados Unidos, 18/Jan/07
• A solidão de Bush, o fracasso dos falcões e o desinchar das bolhas, 27/Ago/07
• A irresistível ascensão do ouro, 03/Jul/06
• O reinado do poder confuso, 12/Abr/06
• Os primeiros passos da megacrise , 24/Jan/06
• As más notícias da petroguerra , 20/Jul/05
• Pensar a decadência: O conceito de crise em princípios do século XXI, 11/Abr/05
• Os Estados Unidos no centro da crise mundial, 01/Nov/04
• A segunda etapa do governo Kirchner , 07/Out/04
• A vida depois da morte: A viabilidade do pós-capitalismo, 07/Set/04
[*] Economista, jorgebeinstein@gmail.com. Texto baseado nas comunicações apresentadas nos seminários "Margem Esquerda-István Meszaros", USP-Editorial Boitempo, São Paulo, 18-21/Agosto/2009 e "Crise global e, lavoro, democrazia", Fondazione Guido Piccini, Facultà di Economia dell Università degli Studi di Brescia, Brescia, 27-28/Noembro/2009.
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